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- DirectorMahmod AhmadRonahi EzaddinSami HosseinA documentary made by eight children from Kobani and Shengal in refugee camps on the border of Syria and Iraq, who recorded their own life experiences and stories in the wake of brutal attacks by ISIS.''Iraniano de origem curda, o diretor Bahman Ghobadi cedeu sua câmera a oito crianças que vivem em campos de refugiados nas cidades de Sinjar, fronteira do Iraque com a Síria, e de Kobani, entre Síria e Turquia, para que retratassem seu cotidiano em "A Vida na Fronteira". Assim, em oito segmentos, os jovens documentam a vida improvisada que levam após as cidades onde moravam serem invadidas e incendiadas por membros do Estado Islâmico. Vários tiveram as famílias sequestradas ou mortas por membros da organização terrorista. Entre as histórias de violência, realçadas pela idade de seus narradores, um menino é obrigado a cuidar sozinho da avó doente e da irmã mais nova, emudecida após ser violentada pelo EI. Em outra, uma mulher diz que é melhor ser morta do que permanecer sob a custódia dos terroristas, devido ao tratamento desumano a que são submetidos os sequestrados.
Ao lado de relatos desoladores, um pedido desesperado de ajuda para o Ocidente. Mais do que uma obra cinematográfica, "A Vida na Fronteira" é um importante registro histórico dos efeitos devastadores da guerra." (Carlos Carvalho)
2016 Urso de Ouro - DirectorTravis KnightStarsCharlize TheronArt ParkinsonMatthew McConaugheyA young boy named Kubo must locate a magical suit of armour worn by his late father in order to defeat a vengeful spirit from the past.''Senta que lá vem história. E das boas. O responsável por contá-la ao público é Kubo, garotinho que carrega um instrumento mágico e hipnotiza todos à sua volta quando seus origamis flutuam no ar para ilustrar a narrativa. Filmado em stop-motion –estilo de animação realizado quadro a quadro –, "Kubo e as Cordas Mágicas" é um belo presente dos estúdios Laika, (de "Os Boxtrolls, ParaNorman e Coraline e o Mundo Secreto) aos espectadores, sejam eles crianças ou adultos. Um casamento certeiro entre forma e conteúdo. Não dá para negar que, à primeira vista, a saga do menino que teve um olho arrancado pelo poderoso avô assume contornos sombrios e complexos aos pequenos. Mas não demora para que eles também se encantem –e se comovam– com as aventuras e desventuras do herói. Kubo ganha a vida contando histórias em um vilarejo costeiro no Japão. Basta tocar seu shamisen (instrumento de cordas), e as dobraduras mágicas começam a encenar batalhas épicas. Um espetáculo de cair o queixo de quem está dentro e fora da tela. Antes do anoitecer, o garoto retorna à caverna para cuidar da mãe, que alterna transe e lucidez. Certo dia, porém, ele perde a hora de voltar e acaba invocando espíritos malignos de sua família. O estrago é grande. Kubo passa a ser perseguido por duas tias macabras com máscaras kabuki assustadoras. Para escapar da fúria do avô e salvar o olho que lhe restou, o menino precisa encontrar a armadura de seu pai, o maior samurai de todos os tempos. E aí ele terá de mergulhar na própria origem, acompanhado de uma macaca sabichona e de um besouro valente e um tanto desmemoriado. Recheado de referências à mitologia oriental, "Kubo e as Cordas Mágicas" resgata a tradição oral com muita competência. A fábula sobre família, espíritos, vingança, perdão e amor se desenrola sem atropelos, por meio de uma técnica primorosa, detalhista, e de cenários deslumbrantes. A cuidadosa escolha da paleta de cores traz ainda mais beleza à animação. Arte na tela, literalmente. Então leve a sério o alerta que o garotinho faz no início do filme: Se você precisa piscar, pisque agora. Pisque antes de a jornada começar, para não perder nenhuma vírgula dessa grande história." (Marina Galeano)
- DirectorMarco BellocchioStarsValerio MastandreaBérénice BejoGuido CaprinoMassimo's idyllic childhood is shattered by the death of his mother. Years later, he is forced to relive his traumatic past and compassionate doctor Elisa could help him open up and confront his childhood wounds.''1965. O estreante Marco Bellocchio, no auge de seus 20 e poucos anos, irrompia no mundo do cinema com De Punhos Cerrados, drama sobre um jovem perturbado que vê na destruição da família a forma possível para se libertar do sofrimento. 2016. O veterano Marco Bellocchio, do alto de seus 70 e tantos anos, refaz em "Belos Sonhos" o percurso de um homem maduro que não consegue se libertar do trauma de ter ficado órfão na infância. Quem embarcar na retrospectiva, infelizmente incompleta, que a Mostra dedica ao cineasta italiano pode ter a impressão de que, entre a violência formal do primeiro longa e o apaziguamento quase clássico do último, o poder de combustão se perdeu. Outros podem identificar um elaborado processo de refinamento, no qual o cinema se depurou do excedente de mensagens e do teorismo psicanalítico que marcou parte de sua obra. Nas cinco décadas entre seu primeiro longa e o mais recente, Bellocchio compôs uma filmografia em certa medida desigual, porém incomparável, na qual reflete sobre como as derrotas tornam a história um aprendizado de desilusões. Seu cinema é, em igual medida, um mergulho na intimidade e no psiquismo, guiado pelo impulso de sondar o quanto as perdas definem o rumo que todos tomam na vida. O pessimista e melancólico Bellocchio não é, ainda bem, um devoto de nossa senhora da nostalgia. O passado em seu cinema não tem as cores exacerbadas que os cineastas italianos mais jovens gostam de usar ao imaginá-lo. Apesar de sóbrio, "Belos Sonhos" é um melodrama da mesma magnitude de Vincere, no qual Bellocchio revisitou a ascensão de Mussolini como mito coletivo enquanto pôs em cena a tragédia de Ida Dalser, a amante que se entregou ao Duce até o desvario. No novo longa, a desordem de Massimo se manifesta na forma de ataques de pânico, tema mais anedótico e superficial de "Belos Sonhos". Sua instabilidade mais fundamental, no entanto, surge no retrato da infância e da adolescência, quando Bellocchio nos deixa a sós com o personagem, permitindo compartilhar suas fugas, seu medo e sua dor. Em seu abandono, Massimo descobre o mundo como quem precisa restaurar um sentido, mas se choca o tempo todo com a opacidade e o desinteresse dos adultos por sua falta. O filme nos leva a percorrer um caminho equivalente com sua narrativa aleatória, em que os tempos se superpõem e os flashbacks não têm sentido único e explicativo. Tal como a memória, aliás." (Cassio Starling Carlos)
''Amor, família, religião, política. Sem esses elementos, não se pode entender a cultura italiana – nem o cinema de Marco Bellocchio. Desde a sua estreia, o maior cineasta italiano vivo vem modulando esses temas em variações sempre originais. "Belos Sonhos", seu longa mais recente, exibido no Festival de Cannes, filia-se a O Sorriso de Minha Mãe como uma investigação íntima da figura materna do protagonista, o garoto Massimo. No fim dos anos 1960, quando ele tem apenas nove anos, sua mãe morre em circunstâncias misteriosas. O padre tenta convencê-lo de que ela agora está no paraíso, mas a crença não é suficiente para lidar com a perda brutal. Ao longo dos anos, essa ausência vai moldar a vida do rapaz em todos os aspectos: o modo de lidar com o sexo, com a beleza (ele se torna fotógrafo) e com o amor. A culpa, motor da cultura cristã, terá papel fundamental na jornada. Ao longo dos anos, Bellocchio soube ser mais ou menos experimental em seus filmes, mas a "mise-en-scène" ficou cada vez mais pessoal, como se ele expusesse sem pudores suas angústias diante da câmera." (Thiago Stivaletti) - DirectorMarco BellocchioStarsMaruschka DetmersFederico PitzalisAnita LaurenziA sizzling, erotic thriller about a triangle between a teenage boy, an older woman an her fiance, an imprisoned terrorist, set in a world of intrigue, betrayal and erotic pleasure, from which may be no escape.
"Diabo no Corpo", o ousado filme de 1986, bem poderia ser o título da retrospectiva do diretor italiano Marco Bellocchio: essa é a marca da maior parte de seus personagens, a começar pela bela Giulia, filha de um homem morto por terroristas e noiva de um ex-terrorista arrependido. É por ela que um jovem se apaixonará ao ver a garota prestes a se jogar de um prédio. Um filme maldito por uma cena de sexo explícito, em que Bellocchio transforma o romance da mulher que trai o marido, que está no front, na Primeira Guerra, escrito por Raymond Radiguet, para aproximá-lo da Itália contemporanea. Do mesmo modo é aí que estamos em Bom Dia, Noite, que tem por centro o sequestro e assassinato de Aldo Moro pelas Brigadas Vermelhas. Desarranjos pessoais, desarranjos sociais: uns e outros parecem se igualar em Bellocchio, desde De Punhos Cerrados, em que o incesto é, quase se pode dizer, norma de uma família italiana. Sexo e política já aparecem ligados em A China Está Próxima, nessa talvez comédia em que, entre outras, uma família tem um irmão socialista e um irmão maoísta... Com o tempo, muda a tocada, não as ideias: a demência pessoal e a demência social estão presentes em "Vencer" (2009), no qual um jovem Mussolini abandona e condena ao hospício a moça a quem ama e seu próprio filho em troca do poder. Uma loucura por outra. Depois desse, junto com Bom Dia, Noite um dos mais belos filmes italianos do século, Bellocchio trataria da eutanásia e de seu uso político em A Bela que Dorme. A ausência de La Condanna na retrospectiva, ainda que lamentável, não a deslustra: ela nos aproxima de um dos mais fortes cineastas italianos, ao lado de Bertolucci, da geração nascida na virada dos anos 1930 para os 1940. Por fim, não por último: além de fazer filmes, Bellocchio dedica-se a preservá-los, como presidente da Cineteca de Bolonha, um dos mais importantes centros de restauro do mundo. Homenageado com uma retrospectiva e com o prêmio Leon Cakoff e autor do pôster da 40ª Mostra (inspirado em seu Bom Dia, Noite). E isso não é tudo. O diretor italiano Marco Bellocchio também dará uma masterclass no dia 23 de outubro, no Cinesesc, às 17h30, logo após a exibição de seu último filme, Belos Sonhos.'' (* Inácio Araujo *) - DirectorAlex AnwandterStarsSergio HernándezAndrew BargstedJaime LeivaWhen his cross-dressing teenage son suffers a brutally violent attack, a mannequin-factory manager desperately seeks help and, when none can be found, is forced to take matters into his own hands. Based on a true story."O cantor chileno Alex Anwandter, ídolo pop local, recorda-se das longas cartas de um fã em especial, Daniel Zamudio. Em 27 de março de 2012, Daniel apareceu morto: o jovem gay de 24 anos foi torturado e espancado por quatro skinheads nas ruas de Santiago e não resistiu a um traumatismo craniano. Foi influenciado pelo assassinato de seu fã que o roqueiro dirigiu seu primeiro longa, a ficção "Nunca Vas a Estar Solo" (você nunca estará sozinho), com a qual saiu do último Festival de Berlim, em fevereiro deste ano, levando o prêmio do júri do Teddy, a honraria dedicada a obras de temática LGBT do evento. Mas seu filme, que estreia no Brasil dentro da programação da Mostra de Cinema de São Paulo, destoa da típica produção sobre homofobia: o foco não é a vítima em si, mas o pai dela sujeito que é assolado pela barbaridade. Cumpre dupla função, explica o diretor de 33 anos à Folha, num café da capital alemã. Eu queria me afastar da sanguinolência e enfocar o cidadão comum, aquele que, como nós, assiste a tudo e até aceita essa violência. Anwandter diz que tomou uma série de liberdades: o assassinato de Daniel é mero mote. Na trama, a vítima se chama Pablo (Andrew Bargsted) e é sete anos mais novo: tem 18. "Quis abstrair da história particular dele como forma de dizer que isso é corriqueiro, que vai continuar. Juan (Sergio Hernández) é o pai de Pablo, gerente de fábrica de manequins, distante do filho. Quando o jovem entra em coma após ser espancado, Juan tem de ser ver com a apatia de quem o rodeia --funcionários do hospital, vizinhos, advogados - e repensar a forma displicente com que se esquivou de lidar com a sexualidade do filho. O Chile é um país em que homens não podem se dar as mãos com segurança em nenhum lugar, diz o diretor. "A nação passa uma imagem de progresso, mas é atravessado pelo mesmo machismo e conservadorismo que cortam toda a América Latina." (Guilherme Guenestreti)
2016 Urso de Ouro - DirectorAna Cristina BarragánStarsMacarena AriasPablo Aguirre AndradeAmaia MerinoAlba, an 11 year old girl, has to move to her father's house due to her mother's illness. She barely knows him and sharing time with him at home feels weird. Both are shy, both feel lonely but they can't find a way to approach each other."Alba" significa alvorada, aurora. É um prenome feminino comum na América hispânica e, no filme de Ana Cristina Barragán, batiza a personagem-título. Prestes a entrar na adolescência, Alba vive não só a série de confusões comuns à puberdade como outras transições também difíceis. Acha-se no amanhecer de uma nova fase, com novidades que adivinha dolorosas. Sua mãe, com quem vive, está gravemente doente, e os paralelos entre uma e outra, na cena inicial, evidenciam a falta de cuidado a que tal situação expõe a menina de 11 anos. Na escola, ela é a desmazelada, anda despenteada, com as unhas sujas. É também mais pobre que a maioria de suas colegas, que no recreio conversam de namorados e exibem suas vaidades sob a forma de gloss labial. A doença da mãe a aproximará do pai, uma figura frágil e triste, que a acolhe compensando a falta de jeito com carinho – um afeto porém por atualizar, congelado na época da separação, quando a menina era bebê. Ao mesmo tempo, uma amizade inesperada a introduz no grupo de seus colegas protegidos que ela de longe observa. Alba é um belo filme sobre a solidão e sobre como se aprende a viver no meio dela." (Francesca Angiollillo)
- DirectorAmanda KernellStarsMaj-Doris RimpiOlle SarriÁnne Biret SombyA reindeer-breeding Sámi girl who is exposed to the racism of the 1930's at her boarding school, starts dreaming of another life. But to achieve it, she has to become someone else and break all ties with her family and culture."Sami Blood" é uma surpresa para quem se habituou a ver os países nórdicos no topo do ranking da igualdade e da justiça social. Obra de estreia da diretora Amanda Kernell, premiado em Veneza, o filme aborda a relação de racismo enfrentada pelos sami, pastores de renas da região da Lapônia, no extremo norte europeu. Na Suécia de 1930, época em que a eugenia colecionava adeptos em várias partes do mundo, os lapões eram considerados seres em um estágio mais baixo de evolução. Suas crianças estudavam em internatos criados exclusivamente para a etnia, onde falar a língua nativa era motivo de punição física, e a instrução não passava do básico. Seus cérebros pequenos não são capazes de pensar, explica a professora sueca, tentando demover a adolescente sami que rejeita sua origem e sonha seguir a mesma carreira (Lene Cecilia Sparrok, ótima). Filha de pai sami e mãe sueca, Kernell também assina o roteiro. Sua história não alcança a força narrativa do islandês A Ovelha Negra ou do dinamarquês Terra de Minas, para citar exemplos recentes, mas é um digno representante da vigorosa cinematografia escandinava."(Vera Guimarães Martins)
2016 Lion Veneza - DirectorRachid BoucharebStarsAstrid WhettnallPauline BurletPatricia IdeElisabeth lives with her daughter Elodie in Belgium. When the police inform her that her daughter has left the country to join the ranks of Islamic State in Syria, she begins to investigate.''Jovens europeus deixam atrás de si um rastro de perguntas quando se unem à organização terrorista Estado Islâmico. Por que, afinal, decidem abandonar cidades como Paris ou Londres para viajar à Síria em meio a uma guerra que já deixou 500 mil mortos? O que os atrai na militância? "O Caminho para Istambul" não se centra nessas questões ao abordar a viagem de uma garota belga à Síria. A jovem, aliás, mal aparece no longa. A protagonista é sua mãe, que ilumina um ainda obscuro recanto das histórias desses militantes europeus: o impacto nas famílias que ficam para trás. Desesperada, a mãe busca ajuda, vai atrás da filha, tenta compreender o islã –mas enxerga a filha escorrer por entre seus dedos. A ficção do argelino Rachid Bouchareb se assemelha a vários relatos verídicos de jovens que se uniram ao EI. Entre eles, o do belga Brian de Mulder. Filho de brasileira, ele se uniu aos terroristas em 2013 e foi supostamente morto em 2015. "O Caminho para Istambul" oferece uma ideia do baque sofrido por sua família." (Diogo Bercito)
- DirectorWilliam FriedkinStarsRoy ScheiderBruno CremerFrancisco RabalFour unfortunate men from different parts of the globe agree to risk their lives transporting gallons of nitroglycerin across dangerous Latin American jungle.''Historicamente, a revolução, ou renovação, do cinema em Hollywood nos anos 1960 e 1970 é colocada na conta de alguns diretores renomados, entre eles, John Cassavetes, Francis Ford Coppola e Martin Scorsese. Tão importante quanto esses nomes foi William Friedkin, responsável por dois dos principais filmes do período, "O Comboio do Medo" Operação França, que completa 45 anos, e O Exorcista. O primeiro conquistou o Oscar de melhor filme (raríssimo para um policial); o segundo virou objeto de culto no universo pop. No entanto, o prestígio do diretor parece ter se diluído no tempo com mais velocidade que o de outros. A 40ª Mostra resgata sua importância com uma retrospectiva de sete filmes, com direito à presença do próprio cineasta. Conhecido por ser um torturador no set, Friedkin foi responsável por histórias quase folclóricas nos bastidores de Hollywood: xingava atores durante a filmagem para deixá-los no ponto que ele queria (pobre Gene Hackman), dava tiros para o alto para aumentar a tensão, despedia profissionais em uma discussão para recontratá-los no dia seguinte e, reza a lenda, chegou até a dar tapas na cara de seus astros (só três vezes, dizem)." (Sandro Macedo)
"O Comboio do Medo" Este é um filme importante na carreira de Friedkin, mas por razões pouco festivas: foi um imenso fracasso de bilheteria e prejudicou para sempre a carreira do diretor em Hollywood.Refilmagem do clássico O Salário do Medo, do francês Henri-Georges Clouzot, ídolo de Friedkin, "O Comboio do Medo" conta a história de quatro fugitivos da Justiça - entre eles Roy Scheider (Tubarão) e Francisco Rabal (ator de vários filmes de Buñuel, como Viridiana e A Bela da Tarde) - que acabam numa selva isolada em um país não identificado da América do Sul. Depois que uma explosão em uma torre de petróleo mata um monte de gente e causa um imenso incêndio, que só pode ser controlado com uso de explosivos, os quatro recebem uma missão quase suicida: transportar caminhões cheios de nitroglicerina pelo meio da floresta. "O Comboio do Medo" é um grande filme de ação, mas deu um azar danado: foi lançado um mês depois de "Guerra nas Estrelas", de George Lucas. O tom sombrio e a violência do filme de Friedkin contrastavam demais com o clima de matinê das aventuras de Luke Skywalker. O prejuízo foi tão grande que Friedkin foi despedido da Universal e passou a ter muita dificuldade para aprovar seus projetos, apesar de ter dirigido, quatro anos antes, o megasucesso "O Exorcista''. (Andre Barcinski)
50*1978 Oscar - DirectorRick BarnesOlivia Neergaard-HolmJon NguyenStarsDavid LynchLula LynchEdwina LynchArtist and filmmaker David Lynch discusses his early life and the events that shaped his outlook on art and the creative process."Se Hollywood fosse uma família, David Lynch seria o tio esquisitão. Diretor de títulos cult como Eraserhead (1977), Coração Selvagem e "A Estrada Perdida e da série de TV surrealista Twin Peaks, é um cineasta criativo e autoral. Tais características, em falta na indústria cinematográfica, fizeram com que esse norte-americano de 70 anos fosse tema de alguns documentários. O mais recente é "David Lynch - A Vida de um Artista", de Jon Nguyen. Os que buscam um documentário mais convencional sairão desapontados. O longa de estreia de Nguyen é basicamente um grande monólogo –foram 20 entrevistas espaçadas em três anos–, com silêncios que podem ser maçantes, em que as atividades do diretor como artista plástico são o fio condutor. Os mais observadores perceberão, no entanto, o quanto Lynch revela ao contar sonhos, passagens de sua infância ou inspirações para filmes. É o caso de quando se lembra de uma mulher nua ensanguentada que passa por ele na rua numa das cidadezinhas em que morou na infância. Cena parecida daria as caras décadas depois em Veludo Azul. Ainda assim, um pouco mais de contexto não atrapalharia o filme. Não há informações além do que ele fala nem referências diretas a fotos, trechos de filmes caseiros ou obras mostradas ao longo dos 89 minutos. De qualquer maneira, vale a pena. E quem ficar até os créditos será recompensado com a animação da litografia Dark Deep Darkness, do cineasta." (Sergio Davila)
"Não, "David Lynch: A Vida de um Artista" não é o documentário que elucida todos os mistérios que esse realizador-músico-pintor norte-americano espalha para tornar suas invenções tão instigantes. Sim, ''David Lynch: A Vida de um Artista" reúne um conjunto rico de informações, relatos e documentos úteis para os que cultuam sua obra e, mais ainda, para quem prefere interpretar a matar charadas. Os diretores Jon Nguyen, Rick Barnes e Olivia Neergaard-Holm são, evidentemente, fascinados por seu personagem, mas souberam evitar o risco de replicar seu estilo peculiar. A narrativa aqui é linear e adota recursos elementares do modo documental. Lynch é mostrado ao microfone e evoca a infância, a família, os lugares onde viveu, o interesse pelas artes plásticas e conclui rememorando sua passagem das artes visuais para o cinema experimental e os cinco anos que demorou para realizar o primeiro longa, Eraserhead. Dezenas de imagens pessoais revelam que o cineasta que mais cultiva a fama de bizarro não passa de indivíduo normalíssimo. Nos filmes, fotos e recordações pessoais não emerge nenhuma situação ou trauma que justifique a inclinação de Lynch para o estranhamento. Um terceiro tipo de registro capta seu cotidiano de pintor, imerso no que Lynch chama "vida de artista". Essa rotina é o que mais desvenda aspectos da proposta audiovisual do autor de obras indecifráveis como o filme Cidade dos Sonhos e a série Twin Peaks. A superfície plana das telas é invadida, perfurada com ferramentas ou manualmente. Colar materiais, acumular elementos e textos é outro gesto recorrente. Trazer à tona o oculto e sobrepor sentidos em camadas são procedimentos complementares que Lynch extrapolou da pintura ao cinema, conquistando um público insatisfeito com os filmes que se esgotam na primeira leitura. Nesse sentido, os realizadores do documentário são fiéis ao artista que escolheram, mostrando-o de um modo que, ao mesmo tempo, ilumina e projeta sombras." (Cassio Starling Carlos)
2016 Lion Veneza - DirectorKuba CzekajStarsKacper OlszewskiAgnieszka PodsiadlikCaryl Swift11-year-old Mickey House is no longer a child. But who is he? He doesn't know. He's friendless. He doesn't understand his mother. He hates what's happening to his body. Reality and imagination come together in a toxic mix. Events escalate to extremes... at home and at school. Mickey has to find the strength within him to put a stop to what's begun. Where will his encounter with his own maturing body take him? Growing up... not for kids."O cinema polonês, representado por distintas gerações nesta Mostra, confirma a atração, mesmo de seus realizadores mais jovens, pela história próxima ou distante. Não se trata de nostalgia por tempos sobrecarregados de traumas, mas de esforços incomuns para impedir a memória de esquecer o pior. Os 13 títulos do Foco Polônia são assinados por cineastas na faixa dos 30 e dos 40 anos, com exceção do veterano Piotr Dumala, nascido em 1956. A seleção reitera que os sombrios seis anos de duração da Segunda Guerra e as décadas sob a influência soviética continuam a ser um passado que não passa. A exemplo do premiado Ida, filmes como Noite de Celebração e Ederly adotam a fotografia em preto e branco para produzir um efeito plástico que não tem nada de nostálgico. A escolha reflete um passado que ocupa uma zona cinzenta da memória. Já as cores desbotadas no impactante Aranha Vermelha ajudam a reconstituir de forma alegórica a opressão do período socialista ao narrar a trajetória de um jovem fascinado pelo poder de matar. Outros títulos recriam o passado de modos mais convencionais para abordar a reação polonesa à ocupação nazista. Klezmer trata da convivência com os judeus durante o Holocausto, cuja implantação em escala industrial ocorreu em território polonês, e Solstício de Verão analisa as mudanças nas relações entre dois jovens que passam de amigos a inimigos quando os alemães invadem o país. Quando escapam da teia da memória, os realizadores contemporâneos reivindicam o vigor de tradições que garantiram para a Polônia um lugar proeminente no mapa mundial do cinema. Entre elas, aparece o gosto pela experimentação narrativa, que faz de A Última Família uma boa aposta para quem busca novidades. Já a provocação de tipo surrealista e o humor à beira do absurdo garantem o prazer da surpresa que títulos como "Baby Bump" e A Atração podem proporcionar." (Cassio Starling Carlos)
2015 Lion Veneza - DirectorNele WohlatzStarsXiaobin ZhangSaroj Kumar MalikMian JiangA smart and innovative look at the possible futures of a young Chinese immigrant to Buenos Aires, told in the stilted language of an elementary Spanish textbook."Quem passa um tempo em Buenos Aires não tem como não notar como a cidade, na última década, encheu-se de imigrantes chineses que vêm buscar neste distante ponto do mapa uma oportunidade de trabalho. Geralmente empregam-se em lavanderias, açougues ou, de forma mais generalizada, em pequenos supermercados que, por comprar no varejo e gastar muito pouco com mão de obra, basicamente dos familiares, costumam ser mais baratos que as redes tradicionais. Vamos ao 'chino' e resolvemos, costuma ser a solução rápida e prática dos portenhos com fome, pressa ou pouco dinheiro. Mas poucos argentinos conversam de fato com eles, ou sabem como pensam. De fato, parecem duas civilizações distintas habitando o mesmo espaço físico. Só por tentar investigar a dinâmica dessas duas dimensões de Buenos Aires, o filme da alemã Nele Wohlatz, nascida em Hannover, mas já vivendo na capital argentina há sete anos, tem grande mérito. "Futuro Perfeito", premiado em Locarno, acompanha uma imigrante chinesa, encarnada por uma não atriz, Zhang Xiaobin, que acaba de chegar à cidade onde seus pais já estão empregados em lavanderias e mercados. A pressão para que encontre rápido um trabalho e pague a mãe pela passagem desde a China causa tensão na jovem de 17 anos, que mal consegue balbuciar palavras em espanhol. A trama se constrói em várias camadas. Numa, está Xiaobin, agora chamada de Beatriz, tentando aprender espanhol numa classe com outros imigrantes. Em outros planos, desenvolvem-se cenários reais ou imaginários do que poderia ser sua vida na Argentina. O encontro com um namorado indiano, o choque com os pais opressores, a proibição (descumprida) de interagir com argentinos e a vontade de ser independente vão formando seu desafio, em meio à tentativa de formar uma identidade numa paisagem tão diferente e, por vezes, hostil. Talvez por também ser estrangeira e ter tido suas dificuldades com o idioma e a cultura, Wohlatz fez um filme leve e até bem-humorado para um tema que é dramático e bastante presente, embora pareça existir apenas numa realidade paralela de Buenos Aires." (Sylvia Colombo)
''Futuro Perfeito" é uma bela ilustração das virtudes da simplicidade no cinema. Em 65 minutos, na fronteira entre ficção e documentário, com um fiapo de trama e um punhado de não atores, o filme fala com propriedade sobre temas complexos como imigração, identidade cultural e barreiras linguísticas. A diretora argentina Nele Wohlatz trabalha na chave ascética e minimalista do francês Robert Bresson, exigindo de seus atores amadores a neutralidade de expressões e gestos. A protagonista é Xiaobin (Xiaobin Zhang), jovem chinesa de 17 anos que acaba de se mudar para Buenos Aires sem falar espanhol. Na escola de idiomas, participa de exercícios que reproduzem situações do cotidiano. Ali, assume a persona da espanhola Beatriz e responder a perguntas triviais: Beatriz é atriz? Não, Beatriz é enfermeira. Ao sair das aulas, sua interação com o mundo é limitada pelo mesmo tipo de didatismo artificial das aulas. Mas isso não impede que ela consiga um emprego em um supermercado e comece um namoro com o imigrante indiano Veejay (Saroj Kumar Malik). Wohlatz explora bem tanto o constrangimento quanto a graça das falhas de comunicação - aproximando seu filme por vezes da "deadpan comedy" de um Buster Keaton, o tipo de humor seco que se faz sem mudar a expressão. À medida que o vocabulário dela evolui, seu novo mundo se alarga. Ao trabalhar com o condicional, ela consegue descrever vários futuros para si - o que permite à diretora brincar com finais diferentes. A linguagem - incluindo a cinematográfica - pode ser um fardo ou um jogo. Em seu pequeno grande filme, Wohlatz escolhe a segunda opção." (Sergio Alpendre) - DirectorCecil B. DeMilleStarsClaudette ColbertWarren WilliamHenry WilcoxonThe man-hungry Queen of Egypt leads Julius Caesar and Marc Antony astray, amid scenes of DeMillean splendor.''Em 1934, Claudette Colbert foi a mulher do ano em Hollywood. Dois filmes com a atriz arrebentaram as bilheterias: Aconteceu Naquela Noite, clássico romântico em que ela contracena com Clark Gable, e "Cleópatra". Quando o nome da rainha do Egito é citado no cinema, a primeira referência é a superprodução (superfracassada) de 1963, com Elizabeth Taylor. Mas, três décadas antes, o diretor Cecil B. DeMille fez, em preto e branco, um filme esplendoroso e com um roteiro mais consistente para as aventuras sexuais da personagem. "Cleópatra" está no volume 14 da Coleção Folha Grandes Biografias no Cinema, que chega às bancas no próximo domingo. Ganhou o Oscar de Melhor Fotografia e foi indicado em mais quatro, incluindo Melhor Filme. Na época, ninguém sabia fazer cinema popular tão bem como DeMille. Seus orçamentos milionários eram empregados em suntuosidade com apuro estético. "Cleópatra" figura ao lado de outros campeões de bilheteria do cineasta, como Sansão e Dalila, O Maior Espetáculo da Terra e Os Dez Mandamentos." (Thales de Menezes)
36*1935 Oscar / 21*1935 Globo - DirectorEmmanuel MouretStarsVirginie EfiraAnaïs DemoustierLaurent StockerAn average guy meets an actress who is more beautiful than he could ever imagine. But then a pesky girl materializes to make his life a living hell. His perfect girlfriend now thinks that he is involved with this Caprice.''O ator, roteirista e diretor Emmanuel Mouret tem um gosto por comédias sentimentais que combinam a galanteria, os gracejos amorosos, os encontros ao acaso, a hesitação. "Romance à Francesa" reafirma essa predileção. Clément (Mouret) é um modesto professor quarentão cujo passatempo principal é ir ao teatro. Espécie de dom Juan involuntário, ele conquista a mulher dos seus sonhos, Alicia (Virginie Efira), atriz algo melancólica que admirava como espectador. Contra suas próprias expectativas, Clément logo vai morar com ela. Mas nesse momento ressurge Caprice (Anaïs Demoustier), jovem que conhecera pouco antes. As duas são perfeitamente opostas: enquanto Alicia é uma diva elegante que vive numa mansão, a maliciosa Caprice é uma atriz iniciante que divide um minúsculo apartamento com uma amiga. Assim como conquistou Alicia, o tímido e desajeitado professor seduz a jovem sem saber muito bem como. Clément tenta se equilibrar entre as duas, numa sucessão de quiprocós divertidos que remetem à tradição do teatro francês. Sem compromisso com a verossimilhança, Mouret reafirma uma concepção do cinema como puro artifício e de passagem procura refletir sobre a necessidade de amar e ser amado. Mas a pretensão de atingir uma dimensão existencial prejudica o resultado. O ar deslocado de Clément, sua crônica indecisão, seus momentos de introspecção interrompidos por incidentes fazem girar em falso a tentativa de falar sobre os mistérios do amor. A ironia prevalece." (Alexandre Agabiti Fernandez)
- DirectorKim FarrantStarsNicole KidmanJoseph FiennesHugo WeavingA family's dull life in a rural outback town is rocked after their two teenage children disappear into the desert, sparking disturbing rumors of their past.''As vantagens e desvantagens de quem quer mostrar de uma só vez tudo que sabe influenciam o resultado de "Terra Estranha". Em seu primeiro longa de ficção, a australiana Kim Farrant aposta na saturação e no elenco renomado para se diferenciar. O roteiro se baseia em não ditos, evidências da moral deformada de uma família que, em busca de um recomeço, muda-se para um vilarejo onde o passado não a alcance. Os sinais de distúrbios se manifestam no sorumbático comportamento do garoto Tom e na hipersexualização da adolescente Lilly. Quando os dois desaparecem, o desespero dos pais se embaralha com os desejos escondidos em uma ordem social marcada por preconceitos e com mesclas de folclore místico. O mistério oferece ao filme motivos para uma primeira parte mais climática, na qual o espaço do deserto e a luz abrasiva se contrapõem aos comportamentos soturnos. O desdobramento da trama, no entanto, introduz a necessidade de demonstrações psicológicas e, com isso, a diretora precisa transferir seu primeiro investimento nas imagens para o trabalho dos atores. Enquanto Nicole Kidman não consegue se livrar da máscara do papel que lhe deu um Oscar, Joseph Fiennes nunca chega a ser mais expressivo do que uma porta, e apenas Hugo Weaving abre vantagem com seu aspecto reptiliano. O desequilíbrio do conjunto evidencia a má influência do cinema de David Lynch sobre jovens cineastas que confundem referência e reverência, o que impede ver se há estilo sob o mimetismo." (Cassio Starling Carlos)
2015 Sundance - DirectorAndrzej WajdaStarsZbigniew ZapasiewiczEwa DalkowskaAndrzej SewerynA famous Polish journalist presents a problem for the powers-that-be when he displays his full political skill and knowledge on a television show featuring questions and answers on a world conference by a panel of journalists. His enemies take away his privileges when he is away. The shock of being "unwanted" parallels a deeper disappointment in his private life: his wife has an affair with a jealous young rival, and after 15 years of marriage and two daughters wants a divorce. She offers no explanations as he tries to untie these problems himself. All the moves he makes are the wrong ones. He takes on drinking heavily with students eager to attend his seminar after discovering the class has been canceled. The journalist, once suave and commanding is reduced to silence."A retrospectiva de 17 filmes de Andrzej Wajda ganhou ainda mais relevância com a morte do diretor polonês no último dia 9. Os 56 títulos de sua filmografia se imbricam tanto com as intempéries históricas da Polônia que deixaram de ser apenas filmes para se tornar documentos.
Apesar de incompleto, o recorte traz a fundamental trilogia da guerra, composta por Geração, Kanal e Cinzas e Diamantes", na qual a influência do neorrealismo italiano pauta a sincronia dos filmes com a vida. Wajda se impõe com uma visão dissidente da política e a fortalece com o rigor na construção das imagens. O conjunto O Homem de Mármore, "Sem Anestesia" e O Homem de Ferro reafirma a crença do diretor em um cinema não limitado a refletir a realidade, mas capaz também de provocar mudanças. Além desses títulos balizados, a retrospectiva permite reconsiderar o alcance de seu projeto de escrita da história, praticada com brilho em Cinzas, O Casamento e Terra Prometida antes de sucumbir aos próprios excessos em Danton. Se o conjunto da obra pode dar a impressão de um cineasta convencional até demais, "Tudo à Venda" demonstra como o diretor aproveitou o momento modernista do cinema para refletir sobre o que fazer quando tudo perde a importância." (Cassio Starling Carlos)
1978 Palma de Cannes - DirectorJoão BotelhoStarsJoão BotelhoMariana DiasAntónio DurãesAn old photograph taken 36 years ago. His hand rests on my shoulder. A blessing, a gift.Then a history of over four decades of friendship, admiration and apprenticeship. A journey into Oliveira's cinema, his method, his way of filming and his extraordinary cinematographic inventions."Em "O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu", esse eu diz respeito a João Botelho, diretor do documentário. Ele já foi chamado de subOliveira, não sem razão. Mas uma vez que o diretor português Manoel de Oliveira era um gigante do cinema, a alcunha não é desonra porque um subOliveira pode ser grande. Com quase 40 anos de uma carreira irregular, mas com ótimos momentos, Botelho pode muito bem falar na primeira pessoa de sua relação com o cinema de seu maior mestre. E quem não entender como essa relação pode ser rica também não vai entender por que a imagem de uma árvore tomada de um carro em movimento é valiosa por nos fazer perceber como essa árvore se modifica conforme a vemos de ângulos diferentes. Porque o cinema de Oliveira, por mais palavroso que seja, é, sim, pura imagem. E também a imagem pura, simples, e ainda assim inventiva. Passeamos por obras-primas e filmes recentes de Oliveira. Em todos ecoa a frase de Botelho: Oliveira nunca fez filmes, fez cinema. Nos minutos finais, Botelho apresenta um pequeno curta realizado por ele a partir de uma história de Manoel de Oliveira. Não deixa de ser um encerramento coerente." (Sergio Alpendre)
''Logo no início, o jovem João Botelho aparece numa foto ao lado de Manoel de Oliveira. É esta a imagem tutelar de "O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu". Botelho teria então uns 30 anos. Oliveira, de 70 para mais. Botelho fazia seu primeiro longa, o belo Conversa Acabada (1981), que evoca os grandes poetas portugueses do século passado, Fernando Pessoa e Sá Carneiro. Oliveira começava então a se tornar conhecido nos círculos cinéfilos europeus. Fazia um papel no filme de João Botelho, o que era uma forma de sacramentar a relação mestre/discípulo entre ambos. Daí, o documentário aparecer tão claramente como uma homenagem a Oliveira disfarçada de aula de cinema. Ou vice-versa. A primeira metade do longa é dedicada a uma parte dos filmes, à biografia, às dificuldades encontradas ao longo da carreira, a anotações sobre o prazer de filmar em estúdio, a ensinamentos a que nenhum fã de cinema (ou, mais ainda, cineasta) deveria ficar alheio. Tomemos, não ao acaso, uma das lições de Oliveira: não é preciso gastar dinheiro filmando de todos os ângulos. Basta filmar de um. Desde que seja o certo! Um conselho apenas aparentemente óbvio. Encontrar o ângulo certo, a posição correta da câmera, implica todo o pensamento sobre o filme. Tomemos, por exemplo, Palavra e Utopia, o filme sobre o padre Vieira, que ora está no Brasil, ora em Portugal. Com apenas dois planos, um indicando o trajeto de ida, outro o de volta, Oliveira representa as viagens do pensador luso-brasileiro. Com um gesto apenas, Oliveira soube ali, como em tantas outras ocasiões, ser ao mesmo tempo econômico e sintético. E economia não é um fator secundário para quem filma em Portugal, sempre com recursos limitados. Botelho esquadrinha e analisa nessa parte do filme tanto a natureza dos filmes como a difícil história de Oliveira - em especial, durante a ditadura Salazar. O próprio Oliveira fala dos momentos de grandes dificuldades financeiras. No geral, temos a trajetória, em várias dimensões, de um artista não apenas notável mas que atravessou todas as eras do cinema: do mudo ao digital, do preto e branco ao Dolby Stereo. É ao mudo, aliás, que regride João Botelho, quando leva à cena uma história que Oliveira lhe conta. Não é desmerecer o talento de Botelho dizer que essa segunda parte do filme poderia ser até suprimida. Não por ser indigna do mestre ou coisa assim. Não por ser vulgar ou insignificante. E sim, talvez, por percebermos ali que falta algo sempre afirmado por Oliveira, por palavras ou silêncios, gestos ou imagens: a pessoalidade. É a primeira parte, o documentário, que torna a visão de "O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu" indispensável.'' (* Inácio Araujo *) - DirectorKore-eda HirokazuStarsHiroshi AbeYôko MakiSatomi KobayashiAfter the death of his father, a private detective struggles to find child support money and reconnect with his son and ex-wife.''Uma senhora, viúva há pouco, conversa com a filha na cozinha sobre a inconveniência de fazer novos amigos na velhice. Uma vizinha reencontra, na rua, um antigo colega de escola, que se transformou em escritor e está por ali para recuperar objetos na casa do pai morto. Logo saberemos que ele é filho daquela senhora e que seu relacionamento com a irmã não é lá muito amigável. O casual e o fortuito são recursos com os quais Hirokazu Kore-eda constrói seus filmes, que assim atraem um público disposto a se encantar por histórias que projetam graça sem se preocupar em mostrar algo excepcional. A característica mais notável de seus filmes é o sentimento de familiaridade. "Depois da Tempestade" é semelhante ao conhecido que revemos uma vez por ano na Mostra, que toda vez parece estar um pouco diferente, mas que em pouco tempo de conversa confirmamos ser o mesmo. Como os tufões, um evento tão recorrente que os japoneses aprenderam a tratar sem sobressaltos. Também como as disputas domésticas, situações que atrapalham durante algum tempo e depois passam sem deixar mágoas. Por isso, no novo filme de Kore-eda, o temporal é passageiro e o que se passa dentro de casa ganha tanta importância. Trata-se de uma herança não apenas do cinema de Yasujiro Ozu, de seus dramas minimalistas sobre pais e filhos, mas de uma filiação mais ampla com o "shoshimingeki", gênero que o cinema japonês pratica para retratar com graça realista os distúrbios no cotidiano da classe média. A dificuldade maior aqui não é representar os terremotos, mas registrar os tremores, ou seja, dar importância ao imperceptível. Para isso, Kore-eda explora os espaços reduzidos das moradias, coloca a câmera na mesma proximidade que os personagens têm de conviver e se interessa pelo que se passa entre eles. Captar as posições e razões de cada um dá ao cineasta condições de assegurar a impressão de neutralidade do ponto de vista. Como a senhora Yoshiko aguentou tantos anos de convivência com um marido cheio de vícios? Por que Ryota não abandona sua fracassada trajetória como escritor? Se o filme parte desse tipo de problema, não faz nenhum esforço para dar respostas. No entanto, essas questões é que dão vida e espessura aos personagens de Kore-eda, permitem que ele filme o banal sem cair na irrelevância. O que assistimos em "Depois da Tempestade" é muito semelhante ao que protagonizamos no dia a dia. A diferença é que, projetados no cinema, os dramas mínimos que quase não percebemos ganham a devida atenção." (Cassio Starling Carlos)
2016 Palma de Cannes - DirectorIvan I. TverdovskiyStarsAleksandr GorchilinMasha TokarevaNatalya PavlenkovaMiddle-aged zoo worker Natasha still lives with her mother in a small coastal town. She is stuck and it seems that life has no surprises for her until one day - she grows a tail and turns her life around.''Dizer que algum filme não deveria existir é demasiadamente forte. Mas certos filmes chegam muito perto de merecer esse tipo de afirmação. É o caso de "Zoology", segundo longa de Ivan I. Tverdovsky, incrivelmente vencedor do prêmio especial do júri no tradicional e prestigiado Festival de Karlovy Vary, na República Tcheca. Natasha é uma mulher de meia idade que mora com a mãe, uma fanática religiosa, e trabalha em um zoológico numa pequena cidade no litoral russo. Suas colegas de trabalho parecem saídas da antessala do inferno, tamanha a disposição delas para os atos mais vis e cruéis. Num belo dia, Natasha descobre que um rabo cresceu em seu corpTalvez ela preferisse se transformar numa barata, tal Gregor Samsa em A Metamorfose. Mas sua história é menos trágica. Ela até passa a aceitar o apêndice. Apaixonada pelo médico que a examinou, ela atravessa um período de felicidade com ele, dançando e se divertindo com a hipocrisia da sociedade ao redor. Em uma sequência inacreditável de tão ruim, as pessoas fogem de Natasha como se ela fosse uma assombração. Poderia ser uma fábula sobre a aceitação do outro, na linha de Nasce um Monstro, de Larry Cohen. Ou uma crítica à sociedade russa atual, como em Leviatã, de Andrey Zvyagintsev. Isso se não fosse filmado de modo tão indigente, com cenas que demonstram uma ideia completamente infantil da humanidade (não cruel, como em Fritz Lang, nem questionadora, como em Buñuel). A câmera na mão não sabe bem o que mostrar. Movimenta-se o tempo todo e não olha para nada. Os cortes são aleatórios, não respeitam o tempo das atuações. "Zoology" é mesmo um dos três ou quatro piores filmes que vi este ano. Uma aula de como não se fazer cinema." (Sergio ALpendre)
- DirectorPhilippe LesageStarsÉdouard Tremblay-GrenierPier-Luc FunkVassili SchneiderA young boy begins to experience the adult world as he enters adolescence.''Os Demônios" é o primeiro longa-metragem de ficção do documentarista canadense Philippe Lesage. Já nas primeiras imagens percebemos estar diante de uma obra com uma força estranha. Crianças fazem exercícios num amplo ginásio. A câmera cria recortes de seus rostos, corpos e movimentos, enquanto uma música solene dá um ar especial à cena: seriam essas crianças os demônios do título? Contudo, somos logo introduzidos a um protagonista: Félix (o excelente Édouard Tremblay-Grenier, que no cartaz do filme parece um pouco a Linda Blair em O Exorcista - terá sido proposital?). Nós o seguiremos em diversos momentos: na piscina da escola, na sala de aula, no quarto com seus carrinhos, entre familiares e amigos, tentando se enturmar com os amigos do irmão mais velho, entre outras atividades comuns a um menino de sua idade - dez anos. Lesage mostra uma Montreal ensolarada de subúrbio, com as casas de classe média alta servindo de ambientes para os encontros e desencontros de Félix. O tempo é indefinido, mas tudo nos leva a crer que estamos nos anos 1980. Entre os adultos, as coisas não vão muito bem, o que afeta o protagonista e seus irmãos. Mas "Os Demônios" é um filme que busca entender o inferno da pré-adolescência, com as dúvidas e as descobertas difíceis de serem processadas - a homossexualidade, a Aids, a paixão por uma menina bem mais velha. No estilo, lembra a frieza de Elefante, de Gus Van Sant. E, em muitos momentos, o tom é semelhante ao de "Mate-me Por Favor", o delicado longa de estreia de Anita Rocha da Silveira. Por trás dessa sociedade sólida, rica, aparentemente perfeita, há no entanto algo de podre, e o mundo que Félix tem à sua frente está longe de ser idealizado. O filme está cheio de pontas soltas, no que parece uma operação consciente. Longe de ser uma falha, essa estrutura mostra a complexidade da vida, não exatamente pelo olhar do protagonista, embora por vezes se submeta a ele. Lesage, obviamente, aborda a ficção com o olhar de um documentarista, o que ajuda a romper com essa frágil divisão. O diretor faz, na verdade, um belo retrato das crueldades relativas à infância." (Sergio Alpendre)
- DirectorJeffrey G. HuntStarsSarah HylandSteven KruegerJustin ChonFour friends on their way to Coachella stop off in Los Angeles to tour true-crime occult sites, only to encounter a mysterious young runaway who puts them on a terrifying path to ultimate horror.''Tome liberdades com o Diabo: E os chifres dele logo aparecem, alerta a citação no início de "Satânico". A frase do poeta romântico britânico Samuel Coleridge aparece em meio a imagens de um culto demoníaco e a cenas de diabinhos infernizando humanos em filmes antigos que afirmam o longo parentesco do cinema com as artes do demo. Essas evocações na abertura de "Satânico", no entanto, nada inspiram o primeiro longa de Jeffrey G. Hunt, que não se trata de um inábil estreante, pois já dirigiu dezenas de episódios de séries de TV. Chloe, David, Seth e Elise viajam nas férias para curtir o festival Coachella, na Califórnia. No caminho, resolvem fazer um pouco de turismo macabro em Los Angeles. O roteiro inclui espiar a casa onde a atriz Sharon Tate e um grupo de amigos foram sacrificados pelos seguidores de Charles Manson em 1969 e se hospedar num quarto de hotel onde ocorreu uma morte extrema. Quando se envolvem com uma garota estranha, as portas do inferno se abrem e o Demônio em pessoa vem demonstrar que não existe curiosidade inocente. A vontade aqui é se afastar do pornoterror e fazer um filme que resolve o baixo orçamento com soluções que pretendem sugerir em vez de exibir o horror por meio de efeitos que custam caro. Isso, porém, exige mais habilidade do que somente destacar ruídos na trilha sonora para provocar sustos. A opção de pouco mostrar e de reduzir os sofrimentos das vítimas aos gritos também frustra quem busca emoções fortes. Se Sarah Hyland (da série Modern Family) com a boca costurada no cartaz pode parecer um convite ao extremo, a imagem representa muito mais a situação do espectador que chega ao final e não encontra palavras para descrever tamanha porcaria." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorBarbet SchroederStarsMarthe KellerMax RiemeltBruno GanzJo has come to Ibiza to be a DJ in the club Amnesia. He befriends a solitary woman who's trying to forget her past. As Jo draws her into techno music, Martha puts everything she had previously lived by into question.''Alguns filmes têm como força motriz o relato centrado nos pequenos encontros, nos gestos e detalhes que revelam certa beleza quase inacessível a visões desatentas. Nesses filmes geralmente temos dois movimentos: a) apresentação dos personagens e das situações; b) a procura pela intimidade dos personagens, buscando revelar o que está no âmago de suas ações e reações. "Amnésia", de Barbet Schroeder, não foge a esse modelo. Mas executa bem apenas o primeiro movimento. No segundo, tropeça, porque percebemos que a crise da personagem principal não valoriza o longa. Martha Sagell (a veterana suíça Marthe Keller) é uma alemã que vive isolada em Ibiza, com uma vista paradisíaca e visita de alguns amigos esporádicos. Ali aparece um novo morador, Jo Gellert (o ator alemão Max Riemelt), DJ que pretende discotecar no clube Amnesia. Martha e Jo iniciam uma amizade muito forte, que a qualquer momento pode se tornar também sexual, apesar de Martha ser muito mais velha que ele. Imaginamos a raiz do comportamento dessa mulher enigmática. Ela abomina o Volkswagen de Jo e se recusa a falar alemão. O problema, logo adivinhamos, tem a ver com um passado triste, que deixou fortes marcas. Um encontro será fundamental para que esse passado retorne: Jo recebe seus avós, Bruno (Bruno Ganz) e Elfriede (Corinna Kirchhoff), e os leva para encontrar Martha, numa sequência filmada de maneira bem frouxa. Mais do que uma ode à amizade e ao amadurecimento, "Amnésia" é um filme indeciso entre o drama das pequenas coisas da vida (em que ele vai bem) e o acerto de contas com o passado (no qual vai mal)." (Sergio Alpendre)
- DirectorBrillante MendozaStarsJaclyn JoseJulio DiazBaron GeislerMa' Rosa has four children. She owns a small convenience store in a poor Manila neighborhood where everybody likes her. To make ends meet, Rosa and her husband Nestor, resell small amounts of narcotics on the side. When they get arrested one day, Rosa and her children are ready to do anything to buy her freedom from the corrupt police.
''Dá até um pouco de nervoso, no começo, tanto as situações de "Ma'Rosa" lembram uma grande cidade brasileira: falta troco no supermercado, o táxi se recusa a levar a cliente aonde ela precisa ir. Ma'Rosa é uma senhora gorda, com chinelos de dedo, dona de uma vendinha numa favela (ou algo assim). Com o tempo o nervoso diminui, vira um pouco de vergonha: nos conformamos à ideia de que as Filipinas são mesmo meio parecidas com o Brasil - ao menos no que diz respeito à pobreza nas grandes cidades. Se não é, parece que é, pois a mise-en-scène de Brillante Mendoza em tudo e por tudo faz lembrar um documentário, desde o uso quase permanente da câmera na mão - uma câmera ágil, nervosa, por vezes incômoda, capaz de perder o foco e depois recuperá-lo- até a interpretação, em que tudo soa natural. A história de Ma'Rosa também não é tão distante, aliás, do que acontece aqui no Brasil: ela tem uma venda que, além da função convencional, serve como ponto de drogas. Um pequeno comércio nesse próspero ramo, diga-se, o que não impede a polícia de invadir o local e prender ''Ma'Rosa'' e seu marido. O crime de tráfico de entorpecentes nas Filipinas é, como se sabe, considerado gravíssimo. Donde decorre uma corrupção policial de iguais proporções. É em torno dessa corrupção, no caso sob a forma de extorsão (pague tanto para que eu te livre a cara), que gira o filme em boa medida. Também aqui não estamos assim tão longe do modo de funcionamento da polícia entre nós. Mais genericamente, temos aqui um filme sobre modos de vida e sobrevivência da pobreza. Da opressão mais ou menos permanente pelas forças da ordem à troca de favores como forma de superar as dificuldades do cotidiano (sem falar das traições e desentendimentos) - não há cena no filme que se passe em Manilla e não se aplique a São Paulo (ou provavelmente a qualquer grande cidade do Terceiro Mundo). Certo, não se trata de assunto inédito no Brasil. No entanto, é preciso notar que Mendoza trabalha muito bem os elementos que tem em mãos. Primeiro, em termos de roteiro, não congestiona a ação com elementos contingentes: centra fogo em uma família, em um caso particular. Segundo, adota a forma documental como recurso para nos levar ao interior da vida de cada um dos envolvidos, e nisso é muito eficiente. Por fim, o uso da câmera na mão serve para reforçar a completa transparência a que o filme aspira. Se lembra bastante algum cinema brasileiro com características semelhantes, ressalte-se que a câmera de Mendoza não sai a perseguir personagens enlouquecidamente: apenas finge que o faz, de tempos em tempos. A força do filme não vem da originalidade, mas de uma execução precisa. Do desejo de mostrar um ponto de vista sobre uma situação e de revelá-la pertinente. Será difícil dizer que Mendoza não chegou a isso.'' (* Inácio Araujo *)
2016 Palma de Cannes - DirectorNabil AyouchStarsLoubna AbidarAsmaa LazrakHalima KaraouaneA group of women in Morocco make a living as prostitutes in a culture that is very unforgiving toward women in that profession.''Ousadia é a primeira e mais forte impressão produzida por "Much Loved". O longa dirigido por Nabil Ayouch retrata o cotidiano de garotas de programa em Casablanca com tamanha franqueza que, logo depois de ter sido exibido no Festival de Cannes em 2015, o filme foi proibido no Marrocos. O governo do país alegou que o filme comete grave ultraje aos valores morais e à mulher marroquina e atenta contra a imagem da realeza. Além da habitual turbulência nas redes sociais, o diretor e Loubna Abidar, única atriz profissional do elenco, receberam ameaças de morte lançadas por conservadores e extremistas. À primeira vista, "Much Loved" é um retrato da condição feminina numa sociedade muçulmana e representa temas que já não surpreendem tanto, como a submissão, a exploração e a repressão a que as mulheres, sobretudo, estão sujeitas por força da lei e da religião. O modo despudorado como "Much Loved" expõe a sexualidade das garotas contrasta com a imagem sempre velada do feminino que o mundo islâmico projeta. Já a força repressiva e agressiva da clientela masculina e a exploração feita pelas famílias das garotas complementam o contexto. Ao focalizar a exceção na figura dessas mulheres que se prostituem e, por isso, são postas à margem, o filme, no fundo, denuncia o fundamento social, independentemente de gêneros, implicado no ideal moral e teológico de sujeição. "Much Loved" mostra como isso vale tanto para as mulheres quanto para os homens, que se obrigam a cumprir papéis de virilidade e de desempenho sexual que nem sempre correspondem ao desejo. A qualidade de "Much Loved", contudo, não depende apenas da representação do sexo, mas emerge também na atenção que dá aos corpos e às nuances nos comportamentos. Entre uma noitada e outra, o filme se concentra nas atitudes das garotas na intimidade, registrando o modo relaxado delas em casa, quando se cuidam e se protegem, mas podem também se agredir em disputas de poder. Essa ambivalência também surge na construção de imagens de acordo com o que se espera delas – a puta, a amorosa, a recatada – e se explicita no uso do hijab, usado para dignificar a mulher e que ajuda a mascarar um tipo de vida considerado inaceitável. Por meio desses subterfúgios, "Much Loved" consegue revelar mais do que a nudez, que, de fato, está ali mais para desmascarar o moralismo." (Cassio Starling Carlos)
2015 Palma de Cannes / 2016 César - DirectorMischa KampStarsGijs BlomKo ZandvlietJonas SmuldersA sexually awakening gay teen athlete finds himself in a budding relationship with his mutually attracted relay race teammate.''Um excesso de pudor ronda a cena. Em "Boys", drama da holandesa Mischa Kamp sobre dois garotos que se apaixonam, a câmera chega muito perto dos corpos, mas recua ao sentir o primeiro sinal de atração, como se envergonhada de explorar a tensão entre os personagens ou imune ao encanto desses belos rapazes. Essa reticência, exacerbada pela lentidão no desenrolar do conflito central da história, talvez servisse de metáfora para as dúvidas que atormentam a descoberta da sexualidade, mas acaba esgarçando demais um enredo que deslancha frágil, ancorado em atores despreparados, talvez mais adequados para as passarelas de moda do que para o cinema. Sieger, um esportista de 15 anos está treinando para o campeonato nacional de revezamento quando o imprevisÃvel Marc passa a integrar a equipe de maratonistas. O dois ficam amigos e Sieger desenvolve fortes sentimentos pelo amigo, até descobrir que Marc também esta apaixonado por ele. Sieger, vivido por Gijs Blom, e Marc, personagem de Ko Zandvliet, habitam o subúrbio blindado dos comerciais de plano de saúde, com um frondoso bosque à beira de um lago, sorveterias mil, cachorros e criancinhas fofas. Está claro que a única ameaça a essa harmonia entediante vem do desejo que de repente passam a sentir um pelo outro. De repente, porque nada no olhar, nos diálogos – com pretensão de profundidade, mas fraquíssimos – nem na direção dá a entender que existe entre eles qualquer fiapo de tensão sexual ou interesse –até que acontece um primeiro beijo. Não parece haver também nenhum sinal de que o romance entre os dois seja algo condenável ou capaz de despertar a violência alheia. É interno o conflito que move toda a ação. Mas Kamp não traduz isso em imagens, a não ser pela forma frouxa como conduz as cenas, sem desejo, sem vontade, sem sexo, sem sal, sem graça. Em tempos pornográficos, inebriados pela velocidade do sexo mediado por aplicativos, talvez "Boys" quisesse ser um contraponto, mais delicado, sutil. Mas essa delicadeza em excesso acaba por desidratar o filme, que irrita mais do que seduz, padecendo de outro mal contemporâneo – a falta de glúten, açúcar, tesão." (Silas Matri)
- DirectorOliver HirschbiegelStarsChristian FriedelKatharina SchüttlerBurghart KlaußnerIn November 1939, Georg Elser's attempt to assassinate Adolf Hitler fails, and he is arrested. During his confinement, he recalls the events leading up to his plot and his reasons for deciding to take such drastic action.''Em "13 Minutos", Oliver Hirschbiegel volta ao tema de seu filme mais famoso, A Queda! As Últimas Horas de Hitler. ''Os 13'' minutos a que o título se refere foi o tempo que impediu a queda do Führer seis anos antes de 1945. Vemos a tentativa de Georg Elser (Christian Friedel) de mandar para os ares o comandante nazista falhar porque o discurso em Munique acabou 13 minutos antes do horário previsto, fazendo com que a bomba explodisse depois de Hitler ter deixado o local. Na prisão, entre as intermináveis torturas que sofre, Elser se põe a lembrar: os dias alegres de verão; o sofrimento de sua família com a ascensão nazista; a paixão por Elsa (Katharina Schüttler), mulher casada e brutalizada pelo marido (analogia um tanto óbvia à brutalidade nazista). Um filme construído, então, em cima de flashbacks. Em cima, também, de uma série de procedimentos da cartilha do chamado filme de arte, sobretudo quando o que está em jogo é a barbárie nazista. Nessa cartilha estão, entre outras coisas: a tonalidade azulada da fotografia, luzes fortes do lado de fora das janelas nas cenas de penumbra, crianças diabólicas e uniformizadas, cenas em que o protagonista observa atônito o mal que só ele percebe, imagens de arquivo. O que mais abala o filme, porém, é sua incapacidade de nos transportar para 1939. Christian Friedel é um ator capaz de conseguir esse feito. Alguns coadjuvantes também. Mas quando vemos Katharina Schüttler em cena, seus gestos e olhares, não acreditamos que é uma mulher daquela época, apesar do penteado e do figurino. Quando os nazistas estão em cena, a visão crítica dos poucos que estão contra o que está acontecendo parece postiça, colocada a fórceps como maneira de lidar, hoje, com o horror do passado. Claro que muitos na época viam de maneira negativa a ascensão nazista. O problema é como essa rejeição é mostrada. Se não compramos a ideia de que estamos nos anos 1930, ao menos em representação, nada mais funciona. É esse o maior problema de um filme construído com preocupação histórica e realista que não se permite driblar a reconstituição de época para inventar formas, preferindo o tom edificante, voltado para o Oscar." (Sergio Alpendre)
- DirectorRoberto RosselliniStarsAldo FabriziGianfranco BelliniPeparuoloA series of vignettes depicting the lives of the original Franciscan monks, including their leader and the bumbling Ginepro.''Um dos maiores nomes do cinema italiano, Roberto Rosselli levou a vida de são Francisco de Assis à tela em 1950. "Francisco, Arauto de Deus", que reúne episódios do início de seu trabalho humanitário, é o volume 16 da Coleção Folha Grandes Biografias no Cinema. O livro-DVD vai às bancas no próximo domingo. O diretor considerava o filme um de seus melhores, no qual escala atores amadores – é o único trabalho no cinema de Nazario Gerardi, que faz o papel de Francisco. Rossellini sempre desmentiu os rumores que teria feito o filme para aplacar as críticas de autoridades católicas italianas que na época o criticavam por ter se unido à atriz Ingrid Bergman enquanto ela ainda era casada." (Thales de Menezes)
- DirectorDerek CianfranceStarsMichael FassbenderAlicia VikanderRachel WeiszA lighthouse keeper and his wife living off the coast of Western Australia raise a baby they rescue from a drifting rowing boat.''Drama pesado, imagens belíssimas e atores em desempenhos intensos. "A Luz Entre Oceanos" é um filme envolvente, que não renega seu DNA literário. Tem um ritmo cadenciado e vai fisgando o espectador até o final. O diretor americano Derek Cianfrance tem no currículo dois longas sobre relações amorosas amargas, Namorados para Sempre e O Lugar Onde Tudo Termina. Ambos têm Ryan Gosling em elogiadas atuações. Aqui ele escalou o alemão Michael Fassbender no papel de Tom Sherbourne, inglês que volta da Primeira Guerra Mundial. O conflito o transformou em um homem amargurado e solitário, que aceita o trabalho como cuidador de um farol numa ilha deserta. Fassbender é um ator sólido, denso, e dá ao diretor o fio condutor necessário para a adaptação do romance de estreia da australiana M. L. Stedman, best-seller mundial desde o lançamento, em 2012. A chave do intrincado drama psicológico está nas reações do introspectivo Sherbourne. No início, o filme atrai pelo deslumbrante visual da ilha. As imagens são inebriantes. A trama começa, efetivamente, quando ele conhece Isabel, garota que mora no continente – a ilha fica a uma viagem de barco de algumas horas. Ela perdeu os dois irmãos nos campos de batalha. A aproximação do casal é lenta e tem uma levada encantadora, de apelo romântico. Talvez facilitado pela presença da charmosa sueca Alicia Vikander, de Jason Bourne e A Garota Dinamarquesa. Estrela em ascensão no cinema americano, com o rosto estampado na capa de todas as revistas, ela é casada com Fassbender, e a afeição entre eles fica explícita na tela. Isabel engravida duas vezes, mas perde os bebês. Logo após a segunda vez, Sherbourne avista um bote perto da praia. Encontra nele um homem morto e um bebê de dois meses, ainda vivo. A mulher o convence a esconder o ocorrido. Isolados por meses na ilha, vão dizer a todos que a criança é sua filha. A rigidez moral de Sherbourne passará por uma prova de fogo quando ele descobrir quem é a mãe verdadeira da criança. O desfecho do enredo é bem conduzido e justifica todo o sucesso do livro." (Thales de Menezes)
2016 Lion Veneza - DirectorJames SchamusStarsLogan LermanSarah GadonTijuana RicksIn 1951, Marcus, a working-class Jewish student from New Jersey, attends a small Ohio college, where he struggles with sexual repression and cultural disaffection, amid the ongoing Korean War.''O problema de Philip Roth não é o Nobel, que o esnoba. O problema de Philip Roth é o cinema, que o embaraça. As pessoas reclamam que a Academia Sueca despreza o grande autor americano de forma sistemática e, talvez, anedótica – preterindo-o por ilustres desconhecidos ou cantores fanhosos. Mas, se vissem o que o cinema tem feito nas adaptações de seus livros, elas provavelmente torceriam para que Hollywood também o ignorasse (o escritor, por sua vez, pode ao menos ficar feliz com os cheques que recebe pelos direitos autorais). Roth é a prova ao reverso da máxima hitchcockiana de que só os maus livros dão bons filmes. De "Paixão de Primavera" (1969, adaptado de Adeus, Columbus) ao inédito Pastoral Americana, seus excelentes livros têm sido transformadas em filmes que vão do razoável ao risível. (Neste último caso, encontra-se Revelação, que, ao transpor A Marca Humana ao cinema, cometeu dois erros de casting históricos, escalando Anthony Hopkins como um negro que se passa por judeu e Nicole Kidman como uma faxineira.) "Indignação", com coprodução da brasileira RT Features, está longe de tamanha vergonha. Na verdade, não há nada de errado com a adaptação, mas também não há nada de muito certo. Seu diretor, James Schamus, pode ser de primeira viagem. Mas é um produtor e roteirista tarimbado. A experiência com Ang Lee, Todd Haynes e Todd Solondz – que, cada qual a seu modo, se esforçam para fugir do lugar comum – permitiria antever um filme com alguma dose de risco. Mas "Indignação" contenta-se em ser uma adaptação correta, reverente e insossa do original. Nesse romance de formação ambientado em 1951, o jovem judeu Marcus Messner (Logan Lerman), filho único de um açougueiro kosher superprotetor, escapa da Guerra da Correia ao conseguir bolsa em uma pequena, cristã e conservadora faculdade. Ótimo estudante, mas contrário a convenções sociais, Messner arranja atritos com seus colegas e com o reitor da faculdade. Ao mesmo tempo, descobre o amor com Olivia Hutton (Sarah Gadon), garota sexualmente avançada e socialmente inadequada. "Indignação" fala do embate entre o inconformismo juvenil e a hipocrisia social. Fala também sobre como pequenos gestos podem definir para sempre nossos destinos. Na prosa de Roth, está tudo ali, de forma concisa e potente. No filme de Schamus, isso se dilui em uma narrativa convencional (que, paradoxalmente, quer se colocar contra a convenção). O diretor parece confundir delicadeza com falta de tônus dramático – eliminado todo o impacto da narrativa." (Ricardo Calil)
2016 Urso de Ouro - DirectorPaul VecchialiStarsPaul VecchialiPascal CervoCatherine DeneuveLaurent is seeking a path in life after living his childhood and teenage years in laziness. He has a conflictual relationship with Rodolphe, his father, and both are too emotional to express their mutual affection. Despite the women of his life hanging around him , Rodolphe has but one obsession: meeting Marguerite again, the first love of his life.''O veterano diretor francês Paul Vecchiali se entrega por completo na história sobre o envelhecimento e o reencontro com os amores de uma vida do filme "O Ignorante". Ele mesmo interpreta Rodolphe, que não suporta ver a deterioração de suas feições e procura reencontrar as mulheres que amou, sobretudo a primeira, Marguerite (Catherine Deneuve). Mrando numa casa grande e isolada na companhia de seu filho Laurent (Pascal Cervo) e às voltas com problemas fiscais, ele sabe que está na reta final de sua existência, mas longe de se recolher à melancolia de um crepúsculo, prefere passar a limpo suas relações nos anos que lhe restam. Construído em episódios livremente acumulados e dispostos de maneira pouco usual, Rodolphe, o ignorante do título brasileiro, vai descobrindo aos poucos de que maneira afetou as pessoas que amou e também as pessoas que desprezou. Num dos episódios mais tocantes, Sarah, uma freira, vai informar que sua irmã Rachel, na época também freira, com quem Rodolphe teve uma rápida e intensa relação, se suicidou por sua causa, há 33 anos. Como o suicídio é um pecado mortal, Sarah desiste de um bom casamento para entrar na ordem, visando a expiação da culpa da irmã. Rodolphe se ofende com a desconfiança de Sarah de que sua irmã teria sido violada, mas a dúvida fica conosco. Teria o protagonista essa terrível mancha em seu passado? É de fato um homem complicado, cheio de manias, chegado à misantropia, mas também capaz de gestos amáveis. Laurent, por sua vez, parece meio perdido entre o namorado e antigos amantes. Não é um filme fácil. Tem andamento lento, um tanto repetitivo, por vezes abertamente brega, e encenação teatral. A câmera na mão é muito bem usada, algo incomum no cinema contemporâneo. A despeito de seu orçamento modesto, é um filme inventivo. A ousadia de Vecchiali está nos cortes, no modo como passa de um momento a outro da narrativa fragmentada. Às participações especiais de Deneuve e de Mathieu Amalric se junta a de um amigo de longa data de Vecchiali, que assina também o roteiro: Noël Simsolo, crítico de cinema e escritor, um dos maiores pensadores de cinema da França. Vecchiali anuncia "O Ignorante" como mais um longa da série antidogma, provocação ao marketing de Lars von Trier e comparsas. Mas há também os barulhos de aves, onipresentes, como uma homenagem aos filmes oitentistas de Godard."(Sergio Alpendre)
2016 Palma de Cannes - DirectorRaymond BaillyStarsJeanne MoreauPhilippe LemaireArmand MestralGeorges Villard, a disinterested bank clerk, despises his monotonous life. His encounter with M. Steve, an opulent and friendly man, will change his life when he falls in love with his wife Florence.****
''Para quem não dispensa um inédito, A TV5 Monden tem "L'Étrange Monsieur Steve", ou o estranho senhor Steve, policial francês de 1957 que nunca estreou no Brasil nem em cinemas, assinado por Raymomd Baily, cineasta de carreira curta e obscura (quase sempre foi assistente), aqui no único filme que também escreveu, valorizado pelo elenco com Lino Ventura e Feanne Morreu a frente. Na trama, bem sedutora, M.Steve é um cara que leva um bancário a desfrutar das delícias da vida, sem saber que pagará bem caro por isso, Programa de risco.'' (* Inácio Araujo *) - DirectorJohn MooreStarsPierce BrosnanJason BarryKaren MoskowA millionaire has his life turned upside down after firing his I.T. consultant.''Em "Invasão de Privacidade", Pierce Brosnan é Mike Regan, poderoso empresário da aviação. Numa apresentação em que poderá fechar um acordo decisivo, acontece aquilo do qual todos, ricos ou pobres, são vítimas vez ou outra na sociedade contemporânea: a queda do sistema. Ed Porter (James Frecheville), novo funcionário perito em informática, aparece como salvador. Impressionado com a habilidade do jovem, Mike o convida para sua casa, porque sua filha adolescente, Kaitlyn (Stefanie Scott), reclamou da internet. Ed entra na casa do patrão e, em sua cabeça tortuosa, torna-se quase da família. Os flertes de Kaitlyn o encorajam na intrusão. Cobrado pela mulher, Rose (Anna Friel), Mike corta as asas de Ed. Alimenta, assim, um monstro. Sabendo que a casa de Mike é toda inteligente, cheia de câmeras e controles eletrônicos, Ed a vira de cabeça pra baixo, invadindo as contas e os e-mails da empresa. Dito assim, é difícil acreditar que essa premissa modesta, mas não desprovida de interesse para um thriller, daria num filme tão ruim, daqueles capazes de envergonhar a carreira de Brosnan e Friel. Para começar, a burrice dos personagens, principalmente de Mike, faz com que por vezes torçamos pelo vilão. Até lembrarmos que Ed bate todos os recordes do desprezível (piorado por uma atuação sem nuances de Frecheville). O único personagem bem construído, aliás, é o do hacker Henrik (Michael Nyqvist). Quando entra em cena, o filme tem um breve respiro. Mas é difícil entender como Mike é tão poderoso sendo tão tolo. O espectador perde a conta das besteiras que ele faz. "Invasão de Privacidade" lembra um tipo de filme vagabundo que era feito aos montes nos anos 1980 e 1990, por gente como Walter Hill ou William Lustig. Pena que John Moore, diretor de "Invasão", não tenha um pingo do talento desses cineastas." (Sergio Alpendre)
- DirectorJesper W. NielsenStarsLars MikkelsenSofie GråbølHarald Kaiser HermannAt the Orphanage Godhavn violence and humiliations plays a part of the everyday life. Based on real stories from Godhavn, where lots of boys were victims of violent and sexual abuse and medical neglect."O filme dinamarquês "Quando o Dia Chegar" entra em cartaz no Brasil depois de colecionar elogios em festivais pelo mundo. Esse sucesso parece vir embalado por um certo momento do cinema da Dinamarca, que virou bola da vez para a aceitação crítica, como aconteceu antes com a Argentina. "Quando o Dia Chegar" pode ser um projeto sério, com intenção de mostrar como garotos comiam o pão que o diabo amassou em reformatórios no país durante os anos 1960. Mas o filme abusa do direito de ser desagradável. Mesmo quem não procura no cinema apenas diversão sem compromisso vai precisar de estômago para atravessar algumas sequências bem sádicas do longa dirigido por Jasper W. Nielsen. O que "Quando o Dia Chegar" tem de melhor está em seus dois atores mirins, Albert Rudbeck Lindhardt e Harald Kaiser Hermann. Eles interpretam os irmãos Erik e Elmer, mandados a um internato do governo depois que a mãe descobre ter um câncer e não há parentes que possam cuidar deles. Elmer, o menor, é um garoto de oito anos que sonha ser astronauta. O filme se passa nos anos 1960, na acirrada corrida espacial entre Estados Unidos e União Soviética. O menino acompanha as notícias sobre o projeto Apollo. E os colegas ridicularizam seu desejo de viajar à Lua. Pior. Os funcionários do reformatório acham que é insolência de Elmer revelar que pretende ser astronauta. A qualquer menção disso, e o garoto insiste em defender seu sonho, ele é espancado. Os castigos físicos aos meninos são horrendos. Os internos, que ficam lá até completarem 15 anos, são surrados, passam por tortura física e psicológica, sofrem abusos sexuais dos adultos e até acabam servindo de cobaias em experiências médicas. Quando o espectador consegue suportar o desconforto do infortúnio infantil, pode perceber que as atuações dos atores adultos são capengas e que a edição do filme é irregular. Falta talento onde sobra denúncia e sadismo." (Thales de Menezes)
- DirectorJoachim LafosseStarsBérénice BejoCédric KahnMarthe KellerAfter 15 years of marriage, a couple with two kids is about to divorce. Until the husband find a new place to live, they have to cohabit, and figure out how to share their belongings.''Marie entra em casa, começa cozinhar para as filhas gêmeas, chama a atenção de uma delas e, subitamente, irrita-se com a presença de Boris, pai das meninas. O que poderia ser uma clássica discussão familiar logo revela ser mais do que isso pelo modo simples e expressivo como o diretor belga Joachim Lafosse filma a casa. Boris, fora do quadro, não é visto, mas está ali. A exclusão manifesta sua condição num relacionamento que se desfez, mas não acabou. "A Economia do Amor" é o que o rigoroso Lafosse visa representar com essa história de somas e divisões, a aritmética que os pais ensinam às pequenas Jade e Margaux numa cena emblemática. Marie e Boris continuam a conviver sob o mesmo teto por razões econômicas. Ela tem emprego e pode contar com a família, ele não consegue trabalho e depende dela. Ela é proprietária da casa, ele fez reformas que valorizaram o imóvel. Na separação, cada um só pensa em sua parte. Lafosse encena esse impasse no espaço doméstico, mostrando os personagens em seus cantos como soldados entrincheirados. Somente no epílogo veremos os dois fora de casa, ironicamente num breve entendimento. A duração do longa, no entanto, exige desdobramentos que a lógica da concentração dramática bloqueia. Numa perspectiva, essa escolha permite reiterar o impasse afetivo, assim como revelar a face intolerante e antipática dos personagens. Mas, de outro ângulo, a repetição do dilema cansa espectador. Quanto sai do conflito binário, o filme cria uma crise durante um jantar de amigos, numa cena pouco eficaz. Nela, Lafosse reverencia o cinema de Maurice Pialat, francês que tem influência decisiva sobre novas gerações do cinema francófono. A comparação, contudo, empalidece as qualidades do belga. Graças à contenção das atuações de Bérénice Bejo e de Cédric Kahn, "A Economia do Amor" não chega a irritar, pois não confunde realismo com histeria. Mas quem aprecia a rima de amor e dor já viu –e logo encontrará– outras crises mais fascinantes." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorVincent KestelootMimi MaynardStarsMatthias SchweighöferKaya YanarIlka BessinA daring parrot recounts how Robinson Crusoe came to be stranded on a tropical island.''O nome do filme é um grande chamariz: "As Aventuras de Robinson Crusoé". O famoso personagem criado pelo inglês Daniel Defoe ganha outra adaptação, agora em animação. Mas aquilo que poderia ser uma experiência promissora deixa a desejar. A escolha dos diretores Vincent Kesteloot e Ben Stassen foi contar o clássico de 1719 sob novo ponto de vista: o do papagaio Terça-feira. Os animais estão no comando, já avisa o trailer. Isso é seguido à risca. O náufrago se torna coadjuvante em sua própria aventura. Entediado numa paradisíaca ilha, um papagaio vive em busca de pistas que confirmem a existência de um mundo além dos limites do território. Objetos estranhos trazidos pela correnteza o enchem de esperança, porém não comprovam sua teoria nem convencem seus amigos. O cenário muda com a chegada de Robinson Crusoé. Assustados, os bichos só observam aquela criatura esquisita que anda sobre duas pernas, fala uma língua estranha e arranca a pele – ou, simplesmente, tira o casaco. Essa inversão de perspectiva rende momentos curiosos e até engraçados, mas não consegue sustentar a trama. Passado o estranhamento inicial, Crusoé adota e é adotado pelos novos amigos. Além do papagaio, um bode cegueta, uma porco-espinho, uma anta, um tatu, um camaleão e uma avezinha voluntariosa completam a turma. A harmonia no paraíso é quebrada por uma dupla de gatos selvagens que veio do mesmo navio. Famintos e querendo vingança (tiveram qualquer entrevero com o homem na embarcação), eles ganham status de vilões. Vilões pouco promissores, diga-se de passagem. Até mesmo para as crianças, as armações do casal felino (turbinadas por um exército de filhotes no meio da história) não são nada convincentes. Ainda por cima, as batalhas entre os "mocinhos" e os predadores rendem cenas intermináveis que só fazem testar a paciência do público. Esse é o clima do longa: as coisas demoram muito para acontecer. O ritmo meio truncado faz desviar os olhos da tela por momentos. À certa altura, o programa fica monótono, especialmente para adultos e crianças maiores. Por outro lado, a diversão para os pequenos é garantida. A estratégia de colocar os animais em primeiro plano costuma funcionar. Engraçados e fofinhos, conversam bem com esse tipo de público. As confusões desencadeadas pelos gatos também devem prender a atenção. Há de se reconhecer que, em termos gráficos, o filme não fica devendo para as produções de outros grandes estúdios. As paisagens e as cores são belíssimas, e os efeitos especiais, eficientes. A derrapada está no conteúdo. Personagens pouco empolgantes e um enredo fraco não seguram a bronca. O nome de Crusoé serve só para atrair espectadores ao cinema. Quando a história parece prestes a decolar com a aparição do náufrago, voa baixo e vira mais um filme bobinho sobre animais." (Mariana Galeano)
- DirectorPablo FendrikStarsGael García BernalAlice BragaClaudio TolcachirA mysterious man emerges from the Argentinean rainforest to help a poor farmer and his daughter, who are threatened by a band of mercenaries hired to force them to sell their land."Os diálogos são esparsos e solenes. As frases mais comezinhas são proferidas como em uma leitura de Kierkegaard. A proposta de "O Ardor" é arriscada: um western esotérico-ecológico passado nas selvas argentinas. Na trama e na forma, esta produção Argentina-Brasil com elenco internacional é um faroeste quase clássico: bandidos ameaçam tomar a fazenda de um plantador de fumo (Chico Diaz), onde ele vive com a filha (Alice Braga) e o genro (Lautaro Vilo). Mas a família é defendida por um homem misterioso (o mexicano Gael García Bernal, também produtor do filme), que surge do nada quando a fazenda é atacada. O quase antes do clássico tem a ver com a figura desse forasteiro. Como explica um letreiro no início do filme, os moradores das florestas do Paraná praticam há séculos rituais em que invocam a aparição de seres que chegam pela correnteza do rio para ajudá-los quando se sentem ameaçados. Aí entra o elemento esotérico do filme: o personagem de Bernal é esse ser sem nome e de difícil definição, talvez um xamã, talvez a encarnação de uma onça-pintada, talvez o próprio espírito da floresta. Já o elemento ecológico, coadjuvante, é uma tentativa de emprestar um dado contemporâneo à história: as fazendas da região são griladas e queimadas pelos bandidos para serem transformadas em plantação de soja. "O Ardor" propõe esse curioso encontro entre os universos de Sete Homens e Um Destino e Ele, o Boto. Entre Matar ou Morrer e Avatar. Entre Os Imperdoáveis e Pantanal (sim, a novela da Manchete). Para que essa combinação peculiar desse certo, seria necessário assumir todos os riscos contidos na proposta, ir fundo em seus aspectos mais delirantes, seja pelo caminho da alegoria ou da farsa, dos quadrinhos ou do novelesco. Mas o diretor argentino Pablo Fendrik fez uma opção pelo realismo sóbrio. A dramaturgia calcada no western não poderia ser mais básica: há o assassinato do patriarca, o sequestro da filha, voltas e reviravoltas levando para o indefectível duelo final. Os diálogos são esparsos e solenes. As frases mais comezinhas são proferidas como em uma leitura de Kierkegaard. Na primeira sequência da inevitável tensão sexual entre o forasteiro e a filha do fazendeiro, ele se oferece para ajudá-la na cozinha. Ela responde: Tem que descascar a mandioca. Segurando uma grossa raiz. E sem ponta de ironia. É uma cena que nos lembra que a comédia voluntária é sempre preferível à involuntária. E que deixa a sensação de que dois ótimos atores foram subaproveitados porque o diretor não encontrou o tom para a trama. Na linguagem, as referências vêm mesmo do faroeste: um homem voando pelos ares em câmera lenta que remete a Sam Peckinpah, uma trilha sonora que dá uma piscadela para o Ennio Morricone de Era uma Vez no Oeste. A única citação que assume o pastiche vem no duelo final, quando no meio do nada toca um sino sem que haja igreja à vista. É um raro momento de leveza em meio à pompa. Se Fendrik se permitisse brincar mais com o gênero e levasse seu material menos a sério, "O Ardor" talvez fizesse jus a seu título." (Ricardo Calil)
- DirectorD.J. CarusoStarsKate BeckinsaleMel RaidoDuncan JoinerA mother and her young son release unimaginable horrors from the attic of their rural dream home.''O diretor D.J. Caruso deve estar tão acostumado a levar bordoadas da crítica que já nem se preocupa em tentar algo novo. Faz o feijão com arroz de olho nas bilheterias e cruza os dedos a partir da estreia comercial de seus filmes. Claro que, com a crítica globalizada, multiplicada e enfraquecida, ele até tem defensores. Mas "O Quarto dos Esquecidos", sua mais nova incursão pelo gênero horror, dificilmente irá angariar novos adeptos ao seu rebanho. Mais fácil é vermos os fãs da bela Kate Beckinsale (tão bela que interpretou Ava Gardner em O Aviador, de Scorsese) ficarem desapontados com o ponto a que chegou. Ela vive uma arquiteta que entra em colapso após perder a filhinha num acidente. Tenta o suicídio e fica dependente de medicamentos para dormir, acordar, trabalhar. Com o marido David (Mel Raido, numa atuação sofrível) e o filho Lucas (Duncan Joiner), muda-se para um velho casarão afastado. Ali, começa a perceber coisas estranhas: luzes se acendem e portas se fecham do nada. Estamos diante da velha história de casa mal-assombrada, transposta tantas vezes para o cinema e com inúmeros resultados notáveis –o campeão ainda deve ser Desafio do Além, de Robert Wise. Nesse tipo de casarão antigo era comum existir um quarto secreto, onde os pais, por vergonha, escondiam suas crianças com defeito físico, privando-as da convivência social. Tudo leva a crer que a porta encontrada por Dana e David atrás de um velho armário seja a entrada para um desses quartos. Caruso brinca com algumas convenções do cinema de horror, especialmente na cena em que o pequeno Lucas parece conversar com um espírito e a câmera revela que ele, na verdade, conversava com um gatinho. É um filme que caminha o tempo todo na corda bamba, com direção acadêmica e roteiro simplório." (Sergio Alpendre)
- DirectorPaddy BreathnachStarsHéctor MedinaJorge PerugorríaLuis Alberto GarcíaWhen his estranged father returns, a hairdresser is forced to quit performing at the local drag club.''Reúna um jovem gay introvertido, um pai machista, ex-presidiário e alcoólatra, um transexual maduro e protetor. Dê a eles, respectivamente, os nomes de Jesús, Ángel e Mama, junte o título "Viva" e espere uma história feita para encantar quem não resiste a significados prontos. Apesar disso, o filme dirigido em Cuba pelo irlandês Paddy Breatnach surpreende pelo modo como joga com as armadilhas e lida com o previsível. De fato, "Viva" é um melodrama que ousa dizer seu nome, um novelão assumido que, por isso mesmo, chama atenção para as ironias de um gênero depreciado. A primeira vantagem do filme aparece no modo como Breatnach explora o roteiro de Mark O'Halloran para dimensionar e dar concretude a cada personagem, mesmo os periféricos, em vez de somente contrapor valores positivos e negativos em conflitos que movem tramas, mas que é raro superarem o esquematismo. Jesús é visto a serviço de uma senhora a quem ele penteia em seu trabalho de cabeleireiro. Pouco antes, ele foi mostrado como empregado do grupo de transformistas que se apresenta numa boate. É sob seu olhar que vemos, num palco, Mama, chefe da trupe, encarnar outra imagem, transformar-se de homem maduro em diva. É essa ideia de transformação, de ser outro, mesmo que por pouco tempo, que dá sentido ao percurso de Jesús. A miserável vida que ele leva nas ruas de Havana, o desejo insatisfeito por corpos musculosos, as traições de sua amiga de infância, as agressões homofóbicas que sofre ou as artimanhas de seu colega que sobrevive como garoto de programa são detalhes que agregam substância ao personagem, fazendo dele algo mais que um exemplo para nosso ideal de vítima. A ausência do pai, que sumiu quando ele era pequeno, e da mãe, que morreu cedo, intensificam a situação de Jesús como órfão afetivo, sobrecarregam essa falta que ele tenta reparar atirando-se à fantasia. Ao subir pela primeira vez no palco, os contrastes de Jesús ganham outros contornos quando o vestido apertado acentua a genitália que ele, inexperiente, não soube prender. Ridicularizado pelos colegas, Jesús não encontra lugar nem quando tenta ser outro. A aparição violenta de Ángel, por sua vez, lança o filme no rumo perigoso do conflito binário, com o rapaz efeminado sendo sujeitado pela determinação do pai brutamontes. O filme aborda esse contraste sem estereotipar e explora os talentos de Héctor Medina (Jesús) e de Jorge Perugorría (Ángel) para revelar como o conflito moral não se opõe aos afetos que o reencontro entre pai e filho traz à tona. O desdobramento desse conflito também desloca as expectativas ao inverter os papéis de força e de fragilidade que cada um desempenha. A presença de Perugorría, além disso, evoca o personagem do gay sonhador que o ator cubano interpretou no formidável Morango e Chocolate e provoca a inserção de "Viva" na linhagem dos filmes preocupados em captar as transformações históricas. Assim, a forma do melodrama deixa de ser apenas emocional ou de saturar com pieguice e demonstra a vantagem da surpresa num mundo cheio de ideias prontas." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorIsabel CoixetStarsJuliette BinocheRinko KikuchiGabriel ByrneNobody Wants the Night is about the relentless icy landscape that separates and draws these two women together during the long, tense wait for the man they both love in such different ways.''Existem dois tipos de filmes com a bela Juliette Binoche: aqueles em que ela vive personagens sofridas ou decididas e outros em que ela faz o papel de si mesma. "Ninguém Deseja a Noite" quer ser um exemplo do primeiro gênero, mas seu resultado pouco ultrapassa o segundo. Força e sofrimento são o que menos falta à reconstituição das desventuras de Josephine Peary, mulher do explorador Robert Peary, que se dizia o primeiro a alcançar o polo Norte no início do século 20. A primeira cena mostra Josephine abatendo um urso polar e celebrando a façanha como uma madame que conquista tudo o que deseja. Nas etapas seguintes, a vemos avançar nas terras geladas vestida como se fosse dar uma volta em Park Avenue, referência aristocrática de Nova York onde ela vive. Ela viaja como uma rainha, bem acomodada num trenó, conduzida por um guia que conhece os riscos e por esquimós. A atitude superiora, misturada à teimosia, culminam em seu isolamento, durante a congelante noite polar, numa cabana, onde aguarda o retorno de Robert. Ela tem somente a esquimó Allaka como companhia e contraponto. O que interessa à diretora espanhola Isabel Coixet no material não é tanto a luta pela sobrevivência em condições extremas. A realizadora conduz nossa atenção para o contraste entre Josephine e Allaka, opostas em físico e modos. A representação contrastada das duas mulheres também serve para implodir estereótipos da imagem feminina, do tipo sexo frágil, sem com isso descartar aspectos como delicadeza e afetuosidade, quando o relato enfatiza a mútua proteção como recurso de sobrevivência. Por fim, a situação dramática é desenvolvida com base na expectativa de um retorno de Robert, esse desbravador, representação de um poderio masculino que, no entanto, é apagado pela ausência. Esse equilíbrio de nuances, no entanto, perde-se com a onipresença de Binoche. Sua função exagerada de estrela rouba a atenção e, dessa vez, seu desempenho excessivamente composto de voz emotiva e olhares úmidos desaba na caricatura. Ao lado dela, a japonesa Rinko Kikuchi, a quem caberia o papel de escada, deixa a francesa de cara no chão." (Cassio Starling Carlos)
2015 Urso de Ouro - DirectorÉdouard MolinaroStarsLouis de FunèsClaude RichMario DavidNeurotic businessman must find the right man for his pregnant daughter. In fact, it is little bit complicated.****
''Como tantos outros comediantes do pós-guerra, Louis de Funès foi desprezado pelos especialistas e adorado pelo público. Mais uma vez, a história mostrou que razão tinham os espectadores. Funès era bem mais que um careteiro. Tinha expressões no rosto, mas também no corpo. Fazia muito bem o tipo do francês mal-humorado. Hoje será possível conferir suas virtudes em "Coisas da Vida", Oscar no original. Não é o melhor de Funès, cuja colaboração mais fértil foi com o diretor Gerard Oury. Aqui há questões morais, econômicas e qualquer outro tipo que se possa imaginar vitimando o próspero homem de negócio (Funès) às voltas com todas as confusões, mal-entendidos e tudo mais que se possa imaginar. '' (* Inácio Araujo *) - DirectorIrving CummingsStarsDon AmecheLoretta YoungHenry FondaThe story of how Alexander Graham Bell invented the telephone.''Graham Bell inventou o telefone, mas sua vida daria um filme muito além disso. E deu mesmo, em 1939, quando o diretor Irving Cummings (1888-1959) acertou a mão ao reunir episódios da história do engenheiro escocês que foi viver no Canadá. O cientista Alexander Graham Bell, inventor do telefone. Com quase uma centena de filmes dirigidos, desde o cinema mudo, Cummings demonstra nessa produção uma de suas qualidades mais reconhecidas: seu talento para extrair grandes interpretações de atores jovens. Para o papel de Bell, a escalação de Don Ameche é preciosa. Relegado a coadjuvante em grandes produções de Hollywood nos anos 1940 e 1950, tem aqui sua melhor atuação. Ameche tem valiosa ajuda de Loretta Young, como a garota surda pela qual Bell se apaixona, e, principalmente, de Henry Fonda, no papel de Thomas Watson, amigo e assistente do inventor. Fonda teria grande sucesso de protagonista no mesmo ano, em A Mocidade de Lincoln –filme que está no volume quatro desta Coleção Folha. Bell criou o telefone em suas pesquisas de transmissão de sons. Ficou rico com a invenção, mas travou duras batalhas judiciais para ter seu feito reconhecido. O filme aborda esses altos e baixos da trajetória do inventor. E o desempenho de Ameche segura a atenção." (Thales de Menezes)
- DirectorFrank CapraStarsJean ArthurJames StewartLionel BarrymoreThe son of a snobbish Wall Street banker becomes engaged to a woman from a good-natured but decidedly eccentric family not realizing that his father is trying to force her family from their home for a real estate development.*****
" Nas décadas de 1930 e 1940, Frank Capra construiu uma filmografia que deu forma ao chamado sobho americano. O diretor nascido na Itália se transformou em uma usina de longas em Hollywood, que transmitiram mensagens positivas em épocas difíceis para a sociedade americana, na Depressão e na Segunda Guerra. Seus heróis são homens íntegros e inquebrantáveis diante das maiores agruras. Assim é com Gary Cooper em O Galante Mr. Deeds e James Stewart em "Do Mundo Nada se Leva" e a Felicidade não se Compra que estão no box. São exemplos de cinema dedicado a fábulas. Capra foi considerado genial por uns e simplista por outros. Em tempos atuais de perspctivas sombrias, vale a revisão." (Thales de Menezes)
11*1939 Oscar - DirectorCarlo LizzaniStarsRod SteigerFranco NeroLisa GastoniIn 1945, the dictator of fascist Italy and Hitler's close ally Benito Mussolini faces defeat. In a desperate attempt to avoid capture, he tries to flee the country with his lover Claretta Petacci, but Italian partisans are on their tail.*
"O ator Rod Steiger mostra seu talento na Coleção Grandes Biografias da Folha. No próximo dia 11, vaias bancas o número 20, "Mussolini - Ascenção e Queda de um Ditador", de Carlo Lizzani, no qual ele interpreta o facista italiano. Ele também apareceu no volume 1, como Napoleão Bonaparte, e estará no volume 23, como o gangster Al Capone." (Thales de Menezes) - DirectorPeter LandesmanStarsZac EfronTom WellingBilly Bob ThorntonA recounting of the chaotic events that occurred at Dallas' Parkland Memorial Hospital on the day President John F. Kennedy was assassinated.**
''O mundo do cinema entra tarde na vida de Peter Landesman, que se tornou conhecido como escritor e repórter investigativo nos EUA desde os anos 1990. Em seu "JFK - A Histórianão Contada" não há nadaem comum com o ponto de vista (certo ou errado) de Oliver Stone, que se preocupa com o possível complô contra a vida de John F. Kennedy, a Pergunta que não Quer Calar. Aqui o olhar se fixa mais nos acontecimentos que precedem e sucedem o atentado em Dallas, tendo como centro o hospital que recebeu o presidente após o atentado. É um ponto de vista que se retrai diante do político, na estreia na direção de um jornalista que se notabilizou por investigações no campo político,'' (* Inácio Araujo *)
2013 Lion Veneza - DirectorÉdouard MolinaroStarsLouis de FunèsMichael LonsdaleClaude GensacA rich businessman faces a quite weird problem - his wife's grandfather has been revived thanks to science. But he is not aware that many decades have passed.***
''Ou podemos, num horário mais acessível, no canal TV 5 Monde, acompanhar o ciclo Louis de Funès, hoje com as aventuras de "Hibernatus". Funès está para a França como Zé Trindade para o Brasil, Cantinflas para o México, Jerry Lewis para os EUA. Quer dizer: é o burlesco que melhor representa a nacionalidade. Por isso mesmo é amado ou odiado. E Funès tem boas razões para fazer o cara mal-humorado que o consagrou: é um senhor que morreu e foi hibernado em 1905 e acorda uns 60 anos depois. Funès aqui é dirigido por Edouard Molinaro. Esperemos por "Rabbi Jacó", a obra-prima de Funès.'' (* Inácio Araujo *) - DirectorRoberto RosselliniStarsJean-Marie PatteRaymond JourdanCésar SilvagniAfter the death of Cardinal Mazarin, young king Louis XIV decides to assert his power to control the aristocracy."Luís 14 foi a figura principal para a instalação do absolutismo monárquico na Europa. Reinou na França durante 72 anos (os 18 primeiros sob tutela), um recorde no continente, quando expandiu territórios sob sua coroa e ergueu Versalhes. Na maior parte do tempo, Luís 14 se dedicou a exercer controle cada vez mais rígido sobre anobreza. As manobras do monarca para dominar seus súditos mais abastados tomam conta do filme "A Tomada do Poder por Luís 14". Dirigido por Roberto Rossellini em 1966, o longa está no volume da Coleção Folha. Um dos criadores do neorrealismo italiano, com clássicos como Roma , Cidade Aberta e Stromboli, Rossellini dedicou boa parte da carreira a filmes históricos para TV, num trabalho de forte caráter didádico. Para a figura de Luís 14, Rossellini escolheu um jovem dramaturgo e diretor de teatro, Jean-Marie, sem experiência como ator, mas semelhança fisicamente ao rei françês. Rossellineitinha um modo peculiar de dirigir seu elenco. Não deixava os atores decorem o texto, porque queriaeliminar o estilo naturalista de interpretação. Cartazes com a fala de cada personagem eram fixados no cenário ou atrás das câmeras, para que o ator pudesse ler na hora de rodar. Um capítulo curioso da história do cinema." (Thales de Menezes)
- DirectorJay RoachStarsBen StillerRobert De NiroBlythe DannerAll hell breaks loose when the Byrnes family meets the Focker family for the first time.**
''Mas eu queria dizer duas palavras sobre"Entrando Numa Fria Maior Ainda": um desses raros casos de continuação melhor que o original. Em Entrando Numa Fria, Ben Stiller apaixona-se pela garota cuja o pai (De Niro) era ciumento e conservador ex-CIA. Depois que o amor resiste a tudo, eles decidem apresentar os pais da moça aos pais do rapaz. De um lado, o ex-CIA, com sua mania de controlar os outros, os hippies (Barbra Streisand e Dustin HOffman)[. É desse choque de titãs que virá o humor. Programa bom para descansar a cabeça. '' (* Inácio Araujo *) - DirectorMia Hansen-LøveStarsIsabelle HuppertAndré MarconRoman KolinkaA philosophy teacher soldiers through the death of her mother, losing her book deal, and dealing with a husband who is cheating on her.''A chegada de "O que Está por Vir" no final de um ano lembrado pela desesperança reafirma a vitalidade que os filmes podem exercer sobre seu tempo. O longa, premiado como melhor direção para a francesa Mia Hansen-Løve no Festival de Berlim deste ano, reverbera questões equivalentes às postas por Aquarius, como o anacronismo e a dissintonia. Outro tema comum aos dois longas encontra-se na ênfase que ambos dão às experiências de transmissão, ao que pode passar adiante ou se perder enquanto envelhecemos. Tanto como a Clara de Aquarius, os movimentos da professora de filosofia Nathalie Chazeaux dão consistência à personagem e permitem atestar um estado do mundo. Ambas são manifestações acentuadas de crises, movem-se em meio a ruínas, buscam abrigos para seguir adiante. Por isso, encarnam tanto o ideal de resistência. No papel central, Isabelle Huppert proporciona normalidade e veracidade à personagem, num desempenho de intenso contraste com o da mesma atriz em Elle. A visita de Nathalie e família ao túmulo do escritor François-René de Chateaubriand na cena de abertura demarca a personalidade da protagonista e anuncia o descompasso que o filme desfia em múltiplas camadas. Sozinha no plano, a personagem lê uma placa que pede silêncio ao visitante em respeito ao desejo do escritor, de repousar ali para escutar somente o mar e o vento. Entediada com o programa, a filha insiste para irem embora, pois a maré está subindo e ela não quer dormir com Chateaubriand. A dissintonia entre o que move cada um e o sentimento de fim do prazo de validade em relação à aceleração do mundo são as duas questões que o filme representa evitando o enfadonho discurso nostálgico. O fim do casamento de Nathalie integra o mesmo contexto de dissoluções e de ultrapassamentos que também inclui o modelo rígido de seus livros didáticos e da perda de autonomia de sua mãe depressiva. Já a luta política dos jovens na escola, a criação de um site de filosofia ou a experiência de vida alternativa de seu pupilo Fabien são vistas da perspectiva da reinvenção. A extinção de seu mundo é reiterada no momento em que Nathalie descobre a tradução da obra de Günther Anders, A Obsolescência do Homem, título mais que eloquente. Entretanto, o pessimismo ativo da personagem impede que ela se consuma num tipo de crítica baseada na recusa, recurso de defesa dos ranzinzas. A perda de laços não a empurra para o bunker. Ao contrário, força sua reabertura para o mundo. Em Eden, longa anterior e mais pessimista de Hansen-Løve, a crise afetava um jovem DJ fascinado pelo hedonismo, mas que um dia tem de cair na real. Como um irmão antípoda, "O que Está por Vir" (belo título brasileiro) devolve o que se perdeu neste ano nefasto." (Cassio Starling Carlos)
2016 Urso de Ouro - DirectorNa Hong-jinStarsJun KunimuraHwang Jung-minKwak Do-wonSoon after a stranger arrives in a little village, a mysterious sickness starts spreading. A policeman, drawn into the incident, is forced to solve the mystery in order to save his daughter.''No balaio de gatos em que costumamos juntar os filmes asiáticos, os sul-coreanos se distinguem pelo gosto acentuado por bizarrices. "O Lamento", terceiro longa de Na Hong-jin, confirma essa qualidade que ajudou a destacar o cinema contemporâneo da Coreia do Sul e reafirma o exuberante talento do diretor para provocar diversos tipos de reações, menos a apatia. Depois de explorar o thriller policial nos intensos O Caçador e The Yellow Sea, o cineasta prolonga a sobreposição de gêneros num filme que pode ser visto como terror sobrenatural, crônica familiar, crítica social e alegoria política ou tudo isso misturado. Como nos anteriores, "O Lamento" elege como protagonista um personagem pouco valoroso. O policial Jong-Goo é o fio condutor da trama cercada de mistérios, em que a possessão demoníaca transforma velhos, mulheres e crianças em assassinos cruéis e inverte a posição de vítimas em que costumam ser postos. Os homens, ao contrário, aparecem como um bando de covardes amedrontados por algo que não se controla pela força. Hong-jin conduz a narrativa como uma série de episódios em que o enigma se torna mais complexo a cada passo. A razão e a lei representadas pela polícia são confrontadas com surtos de violência que podem ser de origem sobrenatural, química ou mental. Como o filme sobrepõe hipóteses e bloqueia elucidações, a inquietude só aumenta no espírito do espectador. A suspeita de uma encarnação demoníaca de um imigrante japonês coloca em cena a indisposição com o que vem de fora, elemento perturbador de uma ordem conservadora rural e socialmente muito hierarquizada. A família, por sua vez, é outro foco dessa implosão, reiterada na violência assassina de um dos membros contra os outros, algo que se alastra como um vírus destruindo o organismo social antes de consumir o corpo do hospedeiro. O impacto visual com que Hong-jin reforça as explosões de violência nunca permite que o espectador se acomode. A longa duração (mais de duas horas e meia) também amplifica o efeito dos surtos. Desse modo, "O Lamento" transpõe os limites de um cinema que se esgota em seus efeitos, como o que deu fama a Park Chan-wooko. Se o horror é sua atração principal, ele é também porta de entrada para outras formas de medo que prolongam seu poder de corrosão depois que as luzes se acendem." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorPascale PouzadouxStarsMarthe VillalongaSandrine BonnaireAntoine DuléryDuring her 92 birthday party, Madeleine stunned her kids and grandkids when she told them that she fixed the day she wanted to die.Her intention was to prepare them slowly for her near departure but conflicts start.Only Diane her daughter respects her choice ....''Aos 92 anos, Madeleine (Marthe Villalonga) já riscou do seu caderninho subir escadas, dirigir e outras tarefas cotidianas que a velhice lhe roubou. Disposta a morrer de pé e sem sofrimento, a lúcida senhora informa a família que decidiu quando e como vai partir. Inspirado no livro autobiográfico da filósofa Noëlle Châtelet, sobre os últimos três meses de vida de sua mãe, Mireille Jospin, "A Última Lição" traz o espinhoso tema da eutanásia sob uma perspectiva honesta, direta, dura e, ao mesmo tempo, delicada. Cansada das dores e dissabores decorrentes da idade, Madeleine anuncia a polêmica decisão. Seu discurso, porém, desencadeia uma série de conflitos familiares que expõem as fragilidades das relações e dos próprios indivíduos. A primeira a tentar entender e aceitar a escolha de Maddie é a filha Diane (Sandrine Bonnaire). Embora tomada pela angústia diante da iminente morte da mãe, a professora reúne forças para apoiá-la e para reconstruir a história das duas, baseada em muito afeto e cumplicidade. Permeado por um contexto tão comovente, o filme não consegue se livrar do exagero. Em diversos momentos, a diretora francesa Pascale Pouzadoux pesa a mão no melodrama e chega perto da pieguice. Mas a parceria afinada entre Bonnaire e Villalonga se sobrepõe às escorregadas. Apesar dos deslizes, "A Última Lição", transmite uma mensagem tocante, especialmente àqueles que convivem com pessoas de idade avançada. Uma identificação de provocar nó na garganta e de fazer pensar sobre como cada um enxerga seus velhinhos e seu próprio futuro. Caso não convença o espectador por esse viés, o longa ainda é válido por abordar um assunto controverso de maneira sensível e isenta de carga religiosa." (Marina Galeano)
- DirectorCristi PuiuStarsMara Elena AndreiMirela ApostuEugenia BosânceanuCenters around a family gathering on the anniversary of a patriarch's recent death.''Um drama de três horas, em tempo real, quase todo passado dentro de um apartamento, onde membros de uma família protagonizam discussões que aparentam não ter sentido é um resumo apressado, e pouco convidativo, de "Sieranevada". Fora cinéfilos ortodoxos, alguns podem se interessar por ser um título que disputa uma vaga de filme estrangeiro no Oscar. Essas distinções ocasionais, no entanto, logo serão esquecidas por quem aceitar o espetáculo de imersão que "Sieranevada" oferece. Tal como aconteceu na Argentina e, anteriormente, no Irã e na China, os filmes da geração romena pós-comunismo ganharam força à medida que, confrontados a um sentimento de crise, jovens cineastas recuperaram indagações básicas como: quem somos? O que queremos? A reunião familiar de "Sieranevada" funciona, nesse sentido, como alegoria local e universal. Os diálogos irônicos ou briguentos que se desenrolam no espaço concentrado espelham tanto as peculiaridades históricas da sociedade romena quanto o espetáculo da regressão que parece piorar a cada dia para onde quer que se olhe. O dispositivo evoca o adotado por Buñuel em O Anjo Exterminador ou por Carlos Saura em Mamãe Faz Cem Anos com resultados similares de dilatação do absurdo. Aqui, rir substitui a obsessão do cinema contemporâneo pelo mal-estar. O recurso concentrador permite juntar nostálgicos da ditadura e pessoas com aversão a autoritarismos em torno de um passado que não passa. Ou céticos e aqueles que encaram boatos de internet como verdades absolutas. Quando as conversas escapam desses temas macros, os desentendimentos pessoais invadem a cena e revelam as contradições entre discurso e ação e como a comunicação pode virar bate-boca. A diversidade e a autenticidade projetadas nos diálogos e na direção de atores são dois aspectos que impressionam de imediato, mas o filme não se apoia somente nessas qualidades teatrais. O equilíbrio do dramático e do cômico, tão presente nos instantes em que o ridículo dispara risadas em meio à tensão, asseguram o prazer, de modo que a longa duração não incomoda. Impactante mesmo é a forma como Cristi Puiu rege esse balé de contrariedades com uma câmera que atua como parte do elenco, que acompanha e registra, mas que também perde de vista e oculta. Como a figura do pai, cujo fantasma perambula por toda a casa, a câmera, sem precisar ser mirabolante, desempenha o papel mais espantoso de "Sieranevada"." (Cassio Starling Carlos)
2016 Palma de Cannes - DirectorRichard AttenboroughStarsSimon WardRobert ShawPeter CellierComplex family relationships, as well as a combat experience, form the personality of the future world-known politician."O cineasta inglês Richard Attenborough teve sua carreira ligada às cinebiografias. Entre muitas, conquistou unanimidade com Gandhi e controvérsia com Chaplin. Antes, em 1972, ele se dedicou a retratar um ícone de seu país, Winston Churchill. "As Garras do Leão" da Coleção Folha Grandes Biografias no Cinema, que vai às bancas no próximo domingo. Churchill foi o grande líder britânico durante os anos da Segunda Guerra Mundial. Mas quem procurar por sua famosa figura rechonchuda, de charuto na boca, não vai encontrá-la nesse filme. O longa mostra o período de formação do personagem, mostrando desde sua infância e adolescência até as campanhas no exército britânico e sua entrada na política. Attenborough escalou três fatores diferentes para interpretado Churchill quando criança, adolescente e adulto. Quem faz o papel em sua maioridade é Simon Ward, um ator apenas competente, mas ele está em ótima companhia. Richard Harris e Anne Bancroft aparecem como os pais de Churchill. O elenco ainda tem espaço para uma linda Jane Seymour e o consagrado Anthony Hopkins." (Thales de Menezes)
45*1973 Oscar / 30*1973 Globo - DirectorMichael LinnStarsStephen Anthony BaileyMadison LawlorJamie AndersonUntil Forever: The Michael Boyum Story is a powerful, true account of one young man's courageous battle with leukemia and his journey of faith.''Como maldizer um filme, baseado em fatos reais, sobre um jovem que descobre ter leucemia e enfrenta a doença impávido e gracioso, comovendo toda uma cidade? Parece um esforço, até "Para Sempre" começar a ser projetado na tela. O drama americano levou dez anos para ser feito, mas não sustenta o espectador por dez minutos. Começa com o protagonista andando numa van em formato de porco. Apresenta-se a promessa de ser um novo A Culpa É das Estrelas, que fazia piadas com metástase e morte, mas a abordagem vira um clichê que se prolonga até o último segundo. Dá-lhe cena em câmera lenta. Desce mais uma epifania pro personagem (uma a cada dois minutos não é o bastante para o diretor). Criam-se cenas como a do protagonista, já desconfiando estar doente, vendo uma chuva de estrelas cadentes com a namorada e jurando amor eterno. As atuações são de fazer uma turma de primeiro-anistas da Escola Wolf Maya parecer uma manada de Fernandas Montenegro. Em uma incursão pelo hospital, encontra um antagonista em outro paciente que, em vez de andar com a Bíblia debaixo do braço, leva volumes de Stephen Hawking e Carl Sagan e questiona a existência de um Deus que permite mazelas como o câncer. O que poderia ser um recorte inteligente sobre o embate entre crença e realidade acaba virando um livro de Jó recitado por personagens da Disney. Perde a pungência da dor e ao mesmo tempo falha em alcançar o carisma que os personagens fofinhos poderiam angariar. Há o detalhe de ser um filme focado em cristãos. A questão aqui não é o tipo de fé que conduz a narrativa, mas escorar um produto popular apenas em fé, abrindo mão de destreza técnica e de apuro estético. Fosse um filme islâmico, budista, umbandista ou ateu, seria tão intolerável quanto. A maioria das cópias é dublada, aparentemente por uma equipe teletransportada direto dos anos 1980. Bocas dessincronizadas soltam frases que descem como arame farpado nos ouvidos, como: Oh, sim, meu querido, você tem meu coração. Os cargos de diretor de arte e de fotografia da produção aparentemente ficaram vagos. Parece que as cenas foram gravadas em ambientes decorados da Tok&Stok com uma câmera de iPhone 4, em um plano único, monótono e pouco ousado até para filmes da Sessão da Tarde. Só não vale perguntar se o maior suplício está na tela ou em quem é condenado a encarar cem minutos, que valem uma eternidade, na plateia." (Chico Felitti)
- DirectorJames McTeigueStarsMilla JovovichPierce BrosnanDylan McDermottA Foreign Service Officer in London tries to prevent a terrorist attack set to hit New York City, but is forced to go on the run when she is framed for crimes she did not commit."Ninguém poderia esperar muito desse filme. Funcionária da baixada americana em Londres é acusada injustamente de ato terrorista que matou toda sua equipe. Para provar sua inocência e evitar um novo ataque, precisa caçar sozinha o verdadeiro culpado - um enredo manjado. A mocinha é Milla Jovovich, ex-modelo que virou atriz e caiu no gueto dos filmes de ação, notadamente a franquia Residente Evil. O vilão é Pierce Brosnan, um ex-James Bond eficiente nos anos 1990. E não é que o filme funciona? (Thales de Menezes)
- DirectorBrad PeytonStarsAaron EckhartCarice van HoutenCatalina Sandino MorenoA scientist with the ability to enter the subconscious minds of the possessed must save a young boy from the grips of a demon with powers never seen before, while facing the horrors of his past.''O horror americano passa por uma boa fase. O gênero representa um bálsamo em meio a tantas histórias requentadas de super-heróis.
"Dominação" é uma confirmação dessa fase. Trata-se de uma variação inteligente e habilmente filmada da velha batalha do bem contra o mal. Mais uma vez temos uma história de exorcismo, tantas vezes levada às telas após o estrondoso sucesso de O Exorcista, de William Friedkin. Temos também um protagonista dotado de estranhos poderes: Dr. Ember (Aaron Eckhart). Ele é capaz de entrar na mente de pessoas que foram possuídas com o intuito de desmanchar a ilusão implantada pelo espírito maligno e alimentada por desejos ou traumas profundos. Acontece que o Dr. Ember não chama o que faz de exorcismo, mas de expulsão. O processo, para ele, é muito mais científico do que religioso, por mais que certas coisas permaneçam inexplicáveis. O espectador conhecerá superficialmente o passado desse homem e por que ele é oncecado por uma entidade em especial, conhecida pela alcunha de Maggie, que agora domina o corpo de um garoto de 11 anos. Brad Peyton, diretor do medíocre Terremoto: A Falha de San Andreas, consegue prender nossa atenção pela maneira como trafega nos caminhos mais sombrios da mente humana. Por mais que a razão nos leve a achar tudo uma bobagem, entramos de bom grado na chamada "suspensão da descrença" para melhor aproveitar o jogo mental travado entre o protagonista e seus demônios. O filme ainda oferece a oportunidade de retomar contato com duas grandes atrizes: Carice van Houten (eternizada por Paul Verhoeven em A Espiã), que aqui interpreta a mãe do menino possuído; e Catalina Sandino Moreno, uma das mais belas atrizes latinas (revelada em Maria Cheia de Graça), como a emissária do Vaticano. E faz justiça ao subestimado Eckhart (em cartaz com o belo "Sully", de Clint Eastwood). Sua atuação permite esquecermos a frágil construção do personagem e ficarmos aflitos com seus mergulhos nas profundezas da ilusão." (Sergio Alpendre) - DirectorRon ClementsJohn MuskerDon HallStarsAuli'i CravalhoDwayne JohnsonRachel HouseIn ancient Polynesia, when a terrible curse incurred by the demigod Maui reaches Moana's island, she answers the Ocean's call to seek out Maui to set things right.''A nova princesa da Disney é a primeira a rejeitar o rótulo de princesa. Voluntariosa, determinada, independente e autossuficiente, a protagonista de "Moana - Um Mar de Aventuras", que estreia nesta quinta nos cinemas, foge do estereótipo de heroína presente na grande maioria das animações do estúdio. Nada de príncipe. Nada de par romântico. Com a árdua missão de salvar sua ilha e seu povo da destruição, a jovem polinésia de Motu Nui não tem tempo para historinhas de amor. Também em termos de aparência, Moana se distingue de suas antecessoras. A pele morena, o corpo torneado, os cabelos crespos, os olhos amendoados e decididos ajudam a construir a identidade de uma destemida navegadora da região do Pacífico Sul, dona de um espírito livre. De certa forma, Mulan e Valente já haviam quebrado alguns paradigmas embutidos nas produções do gênero, como a fragilidade das personagens e o romance sempre em primeiro plano. Mas, com essa nova aposta, o estúdio dá um passo além e oferece aos espectadores uma proposta inédita – principalmente em relação ao tema central da narrativa. Não se trata apenas da jornada de uma corajosa heroína para defender sua terra e sua família. A mensagem é mais ousada, mais ambiciosa e alinhada às demandas atuais da sociedade. A personagem toma as rédeas da própria vida mesmo se alguém tenta impedi-la de seguir em frente. Trata-se, portanto, de um filme sobre o empoderamento feminino, sobre a liberdade de escolhas. Filha do chefe de uma tribo da Polinésia, Moana vive dividida entre corresponder o desejo do pai de se tornar a próxima líder de Motu Nui e a atender ao chamado do oceano. Para dar conta de tamanho conflito, ela tem a ajuda da avó. Quando descobre que sua ilha e seu povo estão ameaçados, a garota parte em uma empolgante aventura marítima. No caminho, Moana precisa encontrar Maui, um semideus pouco modesto, grandalhão, cabeludo e tatuado, que irá acompanhá-la nessa expedição mítica, repleta de perigos e paisagens exuberantes. Ao retratar a cultura, as lendas e os cenários da Polinésia, a Disney dispõe de um prato cheio para exibir o auge de sua capacidade técnica em animação. Do início ao fim, o filme impressiona pela qualidade visual, pela riqueza de detalhes e pela perfeição. O cabelo da heroína parece ter vida própria; as tatuagens animadas de Maui – que funcionam como sua consciência– são uma atração à parte; o oceano é quase real. Tudo isso permeado por uma volumosa trilha sonora, com canções de Lin-Manuel Miranda, do samoano Opetaia Foa'i, além das instrumentais de Mark Mancina. Embora numa dose menor do que o cantarolante Frozen, Moana também é um longa musical que, em alguns momentos, abusa da paciência. O exagero, porém, não atrapalha o ritmo da história. Humor, aventura, tensão e emoção embalam a saga da jovem navegadora e do parceiro grandalhão. Diversão garantida para crianças e adultos. Entre as princesas que a Disney já criou, a menos princesa de todas, é, de longe, uma das mais carismáticas, interessantes e contemporâneas. " (Marina Galeano)
89*2017 Oscar / 74*2017 Globo - DirectorNicolas RoegStarsDavid BowieRip TornCandy ClarkAn alien must pose as a human to save his dying planet, but a woman and greed of other men create complications.''Neste domingo ele completaria 70 anos. Na quinta, dois dias depois da data que marca um ano da morte de David Bowie, volta aos cinemas brasileiros o primeiro filme estrelado pelo cantor inglês. "O Homem que Caiu na Terra'' é a história de um alien em busca de água para seu planeta moribundo, contada em ritmo letárgico. Tem roteiro cheio de furos e atuações quase amadoras. Dirigido pelo inglês Nicolas Roeg, o longa cativou duas facções de fãs: os admiradores de ficção científica, gênero que teve exemplares primorosos no cinema britânico dos anos 1970, e os muitos seguidores de Bowie. É arriscado dizer que é uma das melhores interpretações de Bowie, ao lado do prisioneiro de guerra em Furyo - Em Nome da Honra e do vampiro de Fome de Viver, ambos de 1983. Porque não se pode chamar seu desempenho em "O Homem que Caiu na Terra" de interpretação. Nas filmagens, Bowie, então com 29 anos, estava entupido de cocaína. Comprava dez gramas por dia. Roeg deu ao cantor um fiapo de roteiro e insistiu em manter as gravações fugindo bastante da cronologia dos acontecimentos da trama. Bowie repetia a todos ao redor que não sabia o que estava fazendo. Essas condições asseguraram um certo ar apalermado ao personagem Thomas Jerome Newton, um alien que consegue enriquecer em poucos meses na Terra. Ele usa a ciência avançada de seu mundo para patentear inovações tecnológicas e cria em tempo recorde um conglomerado de empresas de ponta. Visto como bilionário excêntrico, Newton comanda em suas fábricas a construção de uma nave espacial na qual possa voltar a seu mundo e salvar sua família, mostrada em flashbacks. Os cenários e os figurinos alienígenas são paupérrimos. A câmera oferece enquadramentos e cortes estranhos. Mas a força do filme está na crítica à intrusão das grandes corporações na vida das pessoas, em seu caráter sombrio e na figura singular de Bowie. A cópia que chega agora ao cinema está sem os cortes que a censura brasileira impôs no lançamento, que eliminaram flagrantes de nudez frontal do cantor. Na TV, exibido em horários tardios nos anos 1980, era tanta cena cortada que o filme tinha 36 minutos a menos. Agora, volta com suas duas horas e 18 minutos. O culto póstumo a Bowie reforça as atenções a um filme irregular, mas com tamanha significância pop que merece ser objeto de culto." (Thalesde Menezes)
1976 Urso de Ouro - 20161h 35mTV-147.9 (3.6K)TV Movie78MetascoreDirectorAlexis BloomFisher StevensStarsDebbie ReynoldsCarrie FisherTodd FisherAn intimate portrait of actress Debbie Reynolds and her relationship with her beloved children, Carrie and Todd.''Se alguém escrevesse o roteiro de um dramalhão inspirado na vida da família Fisher, o filme certamente seria tachado de caricato e exagerado: atores famosos se casam e têm dois filhos lindos; a família vira a queridinha da América e símbolo da prosperidade hollywoodiana; marido abandona a família para casar com a melhor amiga da esposa; filha entra em parafuso, começa a se drogar e quase morre; pai vicia-se em metanfetamina e morre no ostracismo; mãe e filha se odeiam, mas não conseguem se afastar. A filha morre. A mãe morre no dia seguinte. A verdade é que já escreveram um roteiro baseado nessa história, e foi a própria Carrie Fisher, que em 1990 roteirizou Lembranças de Hollywood, com Meryl Streep no papel de Carrie (ou "Suzanne" no filme) e Shirley MacLaine vivendo uma personagem inspirada em sua mãe, Debbie Reynolds. Agora a HBO lança "Luzes Brilhantes", um documentário sobre o relacionamento entre Carrie e Debbie. A primeira é conhecida como a Princesa Leia de "Guerrra nas Estrelas"; a segunda, como uma das grandes divas hollywoodianas, atriz de clássicos como Cantando na Chuva. O documentário traça a história da família Fisher e conta o escândalo ocorrido em 1958, quando o cantor galã Eddie Fisher largou Debbie Reynolds pela melhor amiga dela, Elizabeth Taylor, deixando dois filhos, Carrie e o caçula Todd. As melhores sequências do filme são as recentes, mostrando a vida de Carrie e Debbie. A primeira claramente sofre graves problemas psicológicos, mas usa humor negro e autodepreciativo para dar um pouco de alegria à sua vida: "Minha mãe sempre foi mais feliz com Hollywood do que com a família", diz, rindo. Já Debbie parece viver ainda nos anos 1950: não sai de casa sem um vestido extravagante, coleciona figurinos e é incapaz de falar uma frase que não soe ensaiada. Não é uma vida fácil: Carrie ganha uma grana autografando cartazes e fotos em convenções de fãs; Debbie faz shows em resorts para idosos. Quando as finanças apertam, Debbie organiza leilões para vender sua imensa coleção de figurinos hollywoodianos. ''Luzes Brilhantes'' pega leve com Carrie ao ignorar algumas das passagens mais dramáticas de sua vida, como o tratamento de eletrochoque que recebeu quando jovem e a morte de um amigo em 2005, por overdose de cocaína, na cama de Carrie. Mesmo assim, o filme é triste e comovente." (Andre Barcinski)
2017 Palma de Ouro - DirectorD.J. CarusoStarsVin DieselDonnie YenDeepika PadukoneXander Cage is left for dead after an incident, though he secretly returns to action for a new, tough assignment with his handler Augustus Gibbons."Alguns filmes fucionam melhor assistidos no sofá de casa do que na poltrona do cinema. Principalmente os ruins. Este que marca a volta de Vin Diesel a franquia Tripo X (depois de um segundo filme horrível com Ice Cube como herói) não chega ser ruim , porque traz algumas cenas de perseguição e combate capazes de fritar o cérebro. Em casa dos fãs de filmes do gênero. Em casa levantando para ir a cozinha pegar um lanche,fica claro mais fácil não ligar para o roteiro absurdo e a falta de expressão de Diesel. É como a mesma cara que ele salta de um avião (sem paraquedas) ou vai para cama com seis mulheres (ao mesmo tempo). Um filme que fazrir muito, mesmo quando a intenção não era essa." (Thales de Menezes)
''Em 2002, Triplo X teve alguma graça. Forte, feioso e canastrão, Vin Diesel se transformou em ídolo mundial no papel de um improvável rei de esportes radicais que passa a ser agente do governo americano. A versão anabolizada de James Bond. Em 2005, uma sequência provou que tudo pode piorar. Ruim com Diesel, pior sem ele. Além do equívoco maior de escalar o rapper gorducho Ice Cube como herói de filme de ação. Um desastre. Agora, com milhões de dólares na conta, arrecadados com a franquia Velozes & Furiosos (indo para o oitavo episódio), Diesel bancou "xXx", terceiro filme que tem como trunfo o retorno de seu personagem, Xander Cage. Como os anteriores, é uma grande bobagem. Difícil classificá-lo como um filme ruim, porque é difícil chamar a coisa toda de filme. Trata-se de um produto de entretenimento para ser consumido com o cérebro desligado. O enredo traz Xander Cage de volta ao batente depois da morte de seu antigo chefe (Samuel L. Jackson). O agente precisa recuperar um aparelho roubado que interfere nos satélites mundiais. Cage forma uma equipe casca-grossa com três pupilos. Logo descobre que os ladrões são integrantes do mesmo projeto Triplo X. Vira briga de cachorro grande. A trama, pífia, só serve para emendar as cenas de lutas, perseguições e tiros. Os duelos eclodem em festas da pesada, entre som eletrônico, drogas e garotas seminuas. Como produtor, Diesel reserva para seu personagem mulheres estonteantes e, algumas, letais. As lutas e tiroteios são plásticos, espetaculares até, mas sem emoção. E o que mais dizer de um filme com Neymar no elenco? Em uma cena, o personagem de Samuel L. Jackson tenta convencer um jogador de futebol famoso a se tornar um agente. E Neymar foi escolhido, com poucas falas. Em outros países, astros locais podem ser encaixados na cena. "xXx" é ruim como filme, mas recebe a avaliação regular como uma distração para assistir tomando um energético." (Thales de Menezes) - DirectorAndrey KonchalovskiyStarsJakob DiehlPeter KurthYuliya KhlyninaFollows three people whose paths cross during a terrible time of war: Olga, a Russian aristocratic emigrant and member of the French Resistance; Jules, a French collaborator; and Helmut, a high-ranking German SS officer.
''É difícil saber com quem se lida quando o cineasta em questão é Andrei Konchalóvskii. O russo é capaz de trafegar entre seu país e os EUA, voltar à Europa e novamente à Rússia. Pode fazer filmes "de mercado" ou "de prestígio". É raro que não se mostre competente. E também raro que deixe uma marca pessoal em seus filmes. Pois bem, essa marca está bem presente em "Paraíso". Resta saber se é para o melhor ou para o pior. E não é fácil separar uma coisa da outra, ainda que o filme tenha ganho o prêmio de melhor direção em Veneza 2016. Existe, para começar, um princípio narrativo interessante: cada uma das três personagens centrais expõe seus motivos e, de certa forma, assume a narração do filme. Assim, somos introduzidos à trama que envolve, basicamente, Olga, condessa russa exilada na França, Jules, policial francês colaboracionista, e Helmut, oficial alemão da SS. Estamos, claro, na Segunda Guerra. Por causa disso, Olga é presa, em Paris, mas consegue se safar, no entanto, com a promessa de prestar favores sexuais a Jules. Isso não acontecerá –quem for ver o filme saberá por quê. Ela acabará em um campo de concentração. Já estamos no momento crítico da guerra. A força alemã começa a fazer água. A corrupção corre solta nos campos. E o diligente SS Helmut é encarregado de ocupar-se de um deles. Helmut é um aristocrata, como Olga, mas também um idealista que acredita que o nazismo represente a construção do paraíso germânico. Trata-se de um honesto cidadão, e não do nazista tarado que o cinema em geral nos representa. (Pontos para Konchalóvskii, então.) Nem por isso Helmut resistirá aos encantos da bela Olga. Aqui o filme se torna tremendamente ambíguo, ao menos esteticamente: Konchalóvskii nos introduz aos horrores dos campos de extermínio. E nem ao menos o faz radicalmente (quer dizer, não produz um horror que nos impeça de comprar ingresso e ver o filme). É uma questão de gosto: conhecemos o horror dos campos pelas descrições de, por exemplo, Primo Levi. Mas a literatura é, por natureza, abstrata. Não suportaríamos a visão dos horrores descritos pelo autor italiano. Simultaneamente, o cineasta russo produz momentos muito bons quando mostra o funcionamento dos escritórios do campo ou mesmo a residência de Helmut. Nessas ocasiões é que mais experimentamos o horror do nazismo (uma prova a mais de que a reabertura dos campos pelo cinema, como definiu Godard, é nociva ao conhecimento e só serve para engordar bilheterias). Eles se alternam com momentos estranhos, estapafúrdios. Até então podia-se acreditar que, de algum modo, o cineasta tratava do fim do paraíso europeu, com o conflito iniciado em 1939 detonando todas as utopias. A partir desse momento pode-se pensar que Konchalóvskii nos fala de maneiras de entrar no paraíso mesmo, o celeste. Daí por diante fica mais difícil entender o que move Konchalóvskii. Mas não parece, em princípio, muito interessante.'' (* Inácio Araujo *)
2017 Lion Veneza - DirectorStewart HendlerStarsBen WinchellJosh BrenerMaria BelloThe adventures of teenager Max McGrath and his alien companion, Steel, who must harness and combine their tremendous new powers to evolve into the turbo-charged superhero Max Steel.''Antes, um filme de sucesso que apresentasse personagens marcantes, de preferência super-heróis, poderia render uma linha de bonecos nas lojas de brinquedos. Aí surgiu o caminho oposto nessa passagem, com atores representando bonequinhos campeões de vendas, como G.I. Joe e, agora, uma mediocridade chamada "Max Steel". Não parece ser o caso de colocar a culpa na origem do projeto. Um bom roteiro poderia fazer cinema de entretenimento com o herói de plástico da gigante dos brinquedos Mattel, também dona da Barbie e dos carrinhos Hot Wheels. "Max Steel" não tem um bom roteiro. Na verdade, não tem roteiro algum. Um garotinho brincando no chão da sala com os bonecos da turma de Max Steel é capaz de criar ali, de improviso, uma trama melhor do que o filme propõe. Tudo é despejado rapidamente na tela. Em poucos minutos o jovem Max passa de bobalhão na escola a um guerreiro capaz de gerar e controlar, não muito bem, uma das maiores forças do universo. A transformação acontece porque entra em cena o robozinho voador Steel. Quando os dois unem suas capacidades, máquina e humano se tornam o herói Max Steel. É um filme preguiçoso, tudo é raso, sem empolgação. Parece uma daquelas simplórias séries de TV dos anos 1970, como Poderosa Ísis ou O Super-Herói Americano. Ben Winchell, novato, é um ator sofrível para ser protagonista. Vexame maior só mesmo o de Andy Garcia, ator que já teve sua relevância, num papel constrangedor. Incrível que algo tão ruim seja produzido nesta época em que ótimos filmes de super-heróis formam um grande filão cinematográfico." (Thalesde Menezes)
- DirectorBruno DumontStarsFabrice LuchiniJuliette BinocheValeria Bruni TedeschiIn the early 20th century, at the Pas de Calais, people mysteriously disappear as Ma Loute, son of the local fishermen family, and Billie, daughter of the snobbish Van Peteghems, fall in love each other.''A presença do termo Chanel no título brasileiro pode agir como artifício publicitário sobre quem ainda pensa que cinema francês é sinônimo de produto chique. O nome de Juliette Binoche no cartaz também pode seduzir o público que se orienta pelo brilho das estrelas.
Para esses, "Mistério na Costa Chanel" tem muito para provocar irritação ou tédio. O título original, Ma Loute, refere-se ao nome de um dos personagens do longa, um misto de comédia surrealista e crítica social ambientada numa bela região litorânea francesa no início do século 20. Como na minissérie O Pequeno Quinquin, trabalho anterior do diretor francês Bruno Dumont, o argumento parte da investigação de uma série de crimes. O motivo traz à tona a mentalidade e os valores arraigados nas distintas camadas sociais. Em O Pequeno Quinquin a contraposição era entre a França tradicionalista e a presença multiétnica percebida como invasão. "Mistério na Costa Chanel" contrasta, durante o apogeu da burguesia, uma família parisiense cheia de modas e uma família de pescadores que sobrevive praticando canibalismo. Esse instantâneo da eterna luta de classes se expande para outros pares de opostos que o filme aproxima, como o contraste entre masculino e feminino no corpo da (o) jovem Billie e a burlesca relação entre o chefe de polícia gordo e seu assistente magro. Aparentemente, trata-se de mais uma representação da intolerância, da incapacidade de assimilar a diferença, que precisa ser distanciada (pelos ricos) ou suprimida (pelos pobres). Nem o desejo sexual garante a aceitação de um objeto inqualificável como o(a) transgênero Billie. São questões estimulantes, que o filme busca ao mesmo tempo que cria um universo visual extravagante, na qual os personagens são distorcidos como num cartum e tudo parece bizarro e afetado. A estratégia inclui o desempenho dos atores profissionais, como Binoche, Fabrice Luchini e Valeria Bruni Tedeschi, inseridos num elenco de figuras que são tipos mais que atores. O contraste é acentuado pela atuação exagerada, que enfatiza a impressão farsesca da trama. Mas esse amontoado de invenções formais, cheio de referências a significantes de prestígio como Brecht, Bresson, Fellini e Tati pode funcionar apenas para o público que sente prazer de decodificá-las. Quem estiver em busca de um modelo Chanel de sofisticação ou de uma atuação emocionada de Binoche pode sair da sessão com cara de paisagem." (Sergio Alpendre)
2017 Palma de Cannes / 2017 Lion Veneza - DirectorDavid FrankelStarsWill SmithEdward NortonKate WinsletRetreating from life after a tragedy, a man questions the universe by writing to Love, Time, and Death. Receiving unexpected answers, he begins to see how these things interlock and how even loss can reveal moments of meaning and beauty.''O chamado filme de Natal tem uma matriz nobre: "A Felicidade Não se Compra" (1946), o clássico de Frank Capra em que James Stewart faz um homem que é salvo do suicídio por um anjo que lhe mostra seu valor. Com o passar do tempo, esse subgênero perdeu importância e pediu refúgio na TV, em produções modestas, com atores que já viveram momentos melhores na carreira. O motivo talvez seja a essência sentimental de sua indefectível mensagem (inadequada a um mundo progressivamente cínico): às vésperas do aniversário de Jesus, pessoa/grupo descrente tem uma epifania e volta a acreditar. "Beleza Oculta" (lançado nos EUA em dezembro) é uma tentativa de devolver a nobreza ao filme de Natal. Uma tentativa válida, embora fracassada. O elenco é de peso: Will Smith, Edward Norton, Kate Winslet, Helen Mirren, Keira Knightley - o tipo de gente que nos acostumamos a ver salvando o mundo no cinema ou esperando para levar um Oscar. E a trama, ainda que siga a lógica sentimental de todo filme natalino, se revela bastante complexa. Howard (Smith) é um publicitário bem-sucedido que perdeu a filha, a vontade de viver e, talvez, a sanidade. Ele passa a escrever cartas para o Amor, a Morte e o Tempo. Seus sócios numa agência decidem provar que ele está louco, para conseguir fechar um negócio que ele refuta. Eles contratam três atores para representar a Morte, o Amor e o Tempo e aparecer diante de Howard como se fossem encarnações dessas abstrações. Os atores contratados serão como o anjo de "A Felicidade Não se Compra": eles ajudarão não apenas o deprimido Howard, como também seus três sócios calculistas, a reencontrar um sentido para a vida. O elenco deveria ser o trunfo de "Beleza Oculta", mas é também um problema: para dar tempo de tela a tantas estrelas, o filme precisa correr com a história e fica na superfície do drama de cada um. Nos EUA, ''Beleza Oculta'' foi visto pela crítica como uma bomba. Não chega a tanto. É apenas um filme de TV mais caro e mais estrelado, que foi destinado por engano ao cinema."(Ricardo Calil)
- DirectorJohn MaddenStarsJessica ChastainMark StrongGugu Mbatha-RawIn the high-stakes world of political power-brokers, Elizabeth Sloane is the most sought after and formidable lobbyist in D.C. But when taking on the most powerful opponent of her career, she finds winning may come at too high a price.À primeira vista, "Armas na Mesa" é um produto formatado para atrair fãs da beleza americana de uma estrela da hora. No entanto o filme que deu a Jessica Chastain a quarta indicação ao Globo de Ouro em cinco anos logo anuncia outros rumos. Chastain interpreta, como tantas personagens-título em outras épocas, uma mulher forte que enfrenta algo que pode aniquilá-la. A atriz Jessica Chastain interpreta a lobista Elizabeth Sloane. Transposta para hoje, trata-se de uma personagem que conquistou poder, mas que também está envolvida em abusos de poder. No primeiro diálogo, Sloane surge como um exemplo perfeito de autocontrole e, em seguida, revela outra face. Ali se mostra que ela oscilará do papel de manipuladora a refém de artimanhas, jogo que conduz toda a trama, às vezes exagerando em reviravoltas, como no último ato. A duplicidade da personagem é um recurso que o filme poderia focalizar se a pretensão fosse apenas servir de veículo para uma boa atriz. Mas a ambição de "Armas na Mesa" é maior. O thriller político nos acostumou a enxergar na ficção um instante de acesso a verdades, de tomar consciência dos abusos. "Armas na Mesa" segue essa tradição atualizada em séries como Nos Bastidores do Poder e House of Cards e avança incorporando a pós-verdade como paradigma contemporâneo. Agora que a verdade e a mentira sumiram do horizonte, a distorção e a manipulação ocupam posição central em nossos esforços de entendimento. "Armas na Mesa" explora esse tema inserindo sua trama numa campanha em que congressistas dos EUA decidirão se aprovam uma ementa pelo controle de armas. Sloane trabalha para uma agência de lobby contratada por fabricantes de armas. Não será por convicção ou por repulsa ao que a função exige que ela muda de lado e decide atuar no campo inverso. Para ela, interessa mais afirmar a superioridade de sua esperteza diante da inteligência de opositores e de eleitores. A troca revela algo que muita gente finge ignorar. Que perdemos a bússola que ajudava a distinguir franqueza e falcatrua, separar esquerda e direita, escolher democraticamente ou movidos por impulsos autoritários. A construção de verdades, de crenças, de narrativas, o modo como os movimentos do opositor são previstos para armar o golpe seguinte tornam-se, assim, temas muito mais palpitantes do que as peripécias que a senhorita Sloane usa para sobreviver. Um senador da Flórida, por exemplo, sofre chantagem para mudar seu voto a favor do bem. Na manhã seguinte, ele começa a ser seguido por manifestantes com um boneco com imagem de rato. Em ambas as situações, métodos escusos e marketing político se mostram muito mais eficazes do que a abstrata vontade popular. Nada estranho a nossa democracia de pichulecos, portanto. Por isso, apesar de escorregar na necessidade de dar lição no final, "Armas na Mesa" não deixa de ser um entretenimento bastante instrutivo." (Cassio Starling Carlos)
74*2017 Globo - DirectorPiero MessinaStarsJuliette BinocheGiorgio ColangeliLou de LaâgeA mother unexpectedly meets her son's fiancée at a villa in Sicily and gets to know her as she waits for her son to arrive.''Em A Aventura, de Michelangelo Antonioni, uma mulher desaparece misteriosamente em uma viagem; seu noivo e sua melhor amiga passam a procurá-la e acabam se apaixonando. Em "A Espera", dirigido por Piero Messina e baseado livremente em duas peças de Luigi Pirandello, um corpo ausente, e o mistério em torno dele, é também o elo que une as protagonistas. Em uma mansão isolada, perto de uma vila siciliana, a enlutada Anna (Juliette Binoche) recebe a visita da francesa Jeanne (Lou de Laâge), namorada de seu filho Giovanni, em meio a um funeral. "A Espera" é o tipo de filme que deliberadamente deixa suas perguntas no ar: Giovanni se matou? Por que Anna não conta a verdade a Jeanne? E por que Jeanne não percebe a verdade que está diante de si? Em vez de respondê-las, Messina prefere se concentrar na relação de sutil hostilidade, sororidade e, enfim, dependência que se estabelece entre essas duas mulheres conectadas por uma ausência. Elas precisam uma da outra para compreender o ser que se foi, para negar sua morte ou, talvez, para completar seu luto. É como um triângulo amoroso com um vértice desaparecido. Messina foi muito comparado a Paolo Sorrentino, de quem foi assistente em A Grande Beleza. Eles têm o mesmo gosto pela estetização, mas o estilo do primeiro é mais solene, algo que é atenuado pelo cinismo do segundo. "A Espera" tem outras inspirações. O investimento na ambiguidade deve muito ao cinema de Antonioni. Já a simbologia religiosa que pontua a narrativa parece ser um tributo a Andrei Tarkóvski. Como os mestres italiano e russo, o discípulo Messina aposta nos quadros cuidadosamente compostos, na trama rarefeita, no ritmo lento e no silêncio. Mas o que era novidade 50 ou 40 anos atrás tornou-se clichê institucionalizado do "filme de arte". Na busca por uma narrativa misteriosa, Messina acabou fazendo um filme que parece todo sinalizado. A cem metros, uma sequência poética, esteticamente impecável, sobre o vazio; à direita, uma alegoria sobre a volta do filho pródigo na Páscoa; à esquerda, um momento para Binoche brilhar com emoção contida. Há uma diferença essencial entre Antonioni e Messina: ainda que mergulhados na psicologização, os personagens de "A Aventura" pareciam seres de carne e osso; os de "A Espera" soam como abstrações mentais, ainda mais etéreos que o desaparecido. Por isso, é fácil se impressionar com a beleza das imagens do filme, mas difícil estabelecer qualquer empatia com os personagens. Por isso, as emoções tão bem interpretadas pela grande atriz que é Binoche parecem evaporar no espaço entre a tela e o espectador."(Ricardo Calil)
2016 Lion Veneza - DirectorF. Javier GutiérrezStarsMatilda Anna Ingrid LutzAlex RoeJohnny GaleckiA young woman finds herself on the receiving end of a terrifying curse that threatens to take her life in 7 days."O Chamado 3", assim como os dois primeiros episódios da franquia nipo-americana de terror, é sobre um filmeco de dois minutos que mata, dentro de sete dias, quem o assistir. É uma pena que o longa-metragem não ofereça o mesmo fim piedoso a quem aguentar seus 102 minutos de puro engodo. O filme começa como sempre: alguém que viu o curta-metragem morre de maneira sem pé nem cabeça e passa a maldição em VHS adiante. Só que a próxima vítima é um professor universitário que envolve seus alunos num experimento para tentar tapear Samara, a menina do capeta que assombra o videotape. A ciência não demora a falhar e sobra para um dos alunos e sua namorada, que parece ser a queridinha de Samara, evitar um desastre. O casal, anêmico com cara de dor e que parece saído do elenco de apoio de Crepúsculo, vai apurar a biografia da infante assassina de cara cabeluda. Acabam numa cidadezinha, se metendo em confusões muito loucas da pesada num clima de azar completo e interagindo com personagens clichês como o padre misterioso e a dona de pousada mal assombrada. Há efeitos visuais interessantes, mas também abuso absoluto das cenas misteriosas que condenam seu espectador à morte. A colagem de cenas perturbadoras em branco e preto, usado com parcimônia até aqui, agora fica numa eterna reprise e passa até no celular dos personagens. Os executivos do cinema tentaram tirar leite da pedra que reveste o poço de onde sai a pequena alma penada que assombra os sonhos dos adolescentes. Mas o resultado, longe de ser apavorante como foi filme original japonês ou sua primeira releitura americana, é risível. Na falta de um fio de roteiro que sustente o suspense, dá-lhe gente saindo do nada gritando para assustar a plateia. Ao sair de "O Chamado 3", que tem um dos piores finais da história do cinema comercial recente, o único chamado que dá vontade de fazer é para o Procon -e pedir de volta o dinheiro do ingresso." (Chico Filetti)
- DirectorValérie DonzelliStarsAnaïs DemoustierJérémie ElkaïmFrédéric PierrotAn aristocratic brother and sister embrace passion and hope as they flee from society. A story of desire, love and death beyond all morality.''Anacrônico. É difícil conter o adjetivo em reação à história e às imagens de "Marguerite & Julien – Um Amor Proibido". Se os distribuidores brasileiros tivessem ousado trocar o subtítulo por "Um Amor Fora de Moda" teriam sido ainda mais fieis ao espírito do longa dirigido pela francesa Valérie Donzelli. O primeiro sinal de que os eixos do tempo estão desajustados de propósito aparece logo no início do filme, quando helicópteros atravessam o espaço, enquanto os figurinos indicam que estamos numa época remota. Os mais cinéfilos vão reconhecer nisso uma evocação do pouso de helicóptero ao final de Pele de Asno. Lá, tratava-se também de um signo moderno inserido por Jacques Demy ao adaptar um conto de fadas do século 17, um modo peculiar de implodir os muros do tempo para aproximar épocas que parecem não ter nada em comum. Donzelli retoma o procedimento não apenas como homenagem ao diretor francês, cuja influência também ribomba nesse triunfo do anacronismo que é La La Land. Cultuado como fantasista e extravagante, o cinema de Demy adotou essa linguagem para mostrar como o romantismo, ao mesmo tempo, é cafona e não sai de moda. O amor proibido de Marguerite e Julien é uma paixão entre dois irmãos, um afeto que se transforma em desejo e que o tabu do incesto converte em tragédia. A história baseada em fatos ocorreu em 1603 e foi transposta em argumento de roteiro pelo ator e escritor Jean Gruault a pedido do cineasta François Truffaut, que pretendeu filmá-la no início dos anos 1970. A versão lúcida de Donzelli evita o ilusionismo da fidelidade na recriação de época da mesma forma que flerta com o ideal romanesco do cinema de Truffaut sem pretender imitar o toque único desse ícone da nouvelle vague. Nosso amor é uma maldição, assumem os irmãos-amantes. Como nos trabalhos anteriores da diretora, aqui não se busca encontrar os meios para viver um amor eterno, mas de descobrir como se sobrevive (ou não) a ele." (Cassio Starling Carlos)
2015 Palma de Cannes - DirectorRaoul PeckStarsSamuel L. JacksonJames BaldwinMartin Luther KingWriter James Baldwin tells the story of race in modern America with his unfinished novel, Remember This House.''A disputa na categoria documentário na entrega do Oscar deste ano é aquela em que soou mais alto o mea-culpa da Academia de Hollywood em resposta às críticas pela ausência de diversidade étnica entre os indicados no ano passado. Três das cinco produções que concorrem em 2017 retratam aspectos da segregação racial nos Estados Unidos. Se o tema não é novo, o modo de abordá-lo tem de fazer a diferença. É o que "Eu Não Sou Seu Negro" consegue com brilho. O documentário dirigido pelo haitiano Raoul Peck constrói seu impacto com múltiplos recursos fortes. O mais evidente está no texto, que recupera esboços de Remember This House, projeto inacabado do escritor James Baldwin. A intenção de Baldwin era evocar os significados do racismo nos EUA a partir de perfis de Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King Jr., lideranças da luta dos afro-americanos pela igualdade de direitos assassinadas, em 1963, 1965 e 1968. Os fragmentos do ensaio inacabado foram encorpados com outros textos da abundante produção ficcional e ensaística do autor, além de cartas, entrevistas e participações dele em programas de TV. Reunidos, esses elementos demonstram a acuidade e a ferocidade da inteligência de Baldwin. Os materiais revelam uma voz ao mesmo tempo lírica e revoltada e uma vontade afirmativa que reconhece as conquistas da luta pelos direitos civis e identifica outra segregação, insidiosa, na representação cultural dos negros, em particular no cinema, do qual Baldwin foi um crítico atento. O terceiro recurso narrativo, que solda os demais, encontra-se na interpretação de Samuel L. Jackson. O ator dá voz aos textos e encontra as ênfases e entonações justas para que o humor, a dor e os afetos sejam percebidos por qualquer um da plateia, independentemente da cor da pele. Esse conjunto torna-se ainda mais admirável ao revelar os mecanismos e os efeitos da discriminação, não importa se étnica, econômica ou sexual. Em paralelo à luta pela dessegregação, cuja etapa decisiva ocorre dos anos 1950 aos 1970, o documentário aponta distorções subjacentes ao progressismo e identifica como a visibilidade pode ser um filtro confortável e distorcido. Assim, "Eu Não Sou Seu Negro" ajuda-nos a perceber que, além do direito de ser igual, não se deve esquecer do de ser diferente." (Cassio Starling Carlos)
89*2017 Oscar - DirectorJosef von SternbergStarsMarlene DietrichJohn LodgeSam JaffeA German noblewoman enters into a loveless marriage with the dim-witted, unstable heir to the Russian throne, then plots to oust him from power."Catarina 2* foi a última das três imperatrizes que provocaram grandes mudanças na Rússia do século 18. Sua vida é retrartada pelo cineasta Joseph von Stemberg, americano nascido em Viena, em "A Imperatrz Vermelha", de 1934. Estrelado pelo mito alemão Marlene Dietrich, o filme está no volume da Folha. Em 1762, ela tomaria o trono do marido, Pedro 3*, e conduziria a Rússia em reformas profundas e grandes conquistas territoriais por 34 anos. "A Imperatriz Vermelha" foi o sexto dos sete filmes em que Stemberg dirigiu Marlene Dietrich a partir do Anjo Azul, maior produção do cinema alemão até então. Ele foi um dos inúmeros amantes da atriz. Essa parceria tumultuada produziu alguns filmes mais belos e delirantes dos anos 1930." (Thales de Menezes)
- DirectorAnthony HarveyStarsPeter O'TooleKatharine HepburnAnthony Hopkins1183 A.D.: King Henry II's three sons all want to inherit the throne, but he won't commit to a choice. When he allows his imprisoned wife Eleanor of Aquitaine out for a Christmas visit, they all variously plot to force him into a decision."O inglês Peter O'Toole foi indicado oito vezesao Oscar e perdeu em todas as premiações. A americana Katharine Hepburn teve 12 indicações, e ganhou quatro estatuetas, um redcorde. Uma delas por "O Leão no Inverno", filme de 1968 que encerra a coleção Folha. O filme tem como personagem central o rei Henrique 2*. O'Toole também poderia ter sido escolhido como melhor ator pela Academia pela representação do rei cercado por gente disposta a tira-lo do trono. Ele levou pelo trabalho o Globo de Ouro de melhor ator em papel dramático. Henrique2* reinou por 35 anos e encontrou seus maiores desafios dentro do própio castelo. Teve disputas de poder com sua mulher, Leonor da Aquitânia, e seus três filhos homens. O filme dirigido pelo inglês Anthony Harvey, mostra afamília reunida para as festividades de Natal em 1183, num ambiente carregado de estratégias para usurpar o poder. Apeça original, assim como o roteiro do filme, é do americano James Goldman e segue a tradição de intrigas de Shakespeare. Além do dueto de atuações entre O'Tolle e Hepburn, o elenco traz dois atores famosos em início de carreira: Anthony Hopkins e o ex James Bond Timothy Dalton, como filhos do rei." (Thales de Menezes)
41*1969 Oscar / 23*1969 Globo - DirectorFrank TashlinStarsJerry LewisMarilyn MaxwellConnie StevensA TV repair man must care for the newborn triplets of his former hometown sweetheart, now a famous movie star, so her career will not suffer."Frank Talshlin dirigiu oito filmes de Jerry Lewis e quase todos figuram entre os melhores momentos do comediante. São obras primas do humor títulos Como Artistas e Modelos, Ou Vai ou Racha e Errado para Cachorro.Assim como esses, "Bancando a Ama-Seca'', de 1968, é clássico da Sessão da Tarde. Na época, Lewis se sentia livre após uma parceria de 17 anos com Dean Martin e tomou as rédeas da produção, mudando todo o roteiro. Tashlin deixou o astro solto no set paradepois contar alguns excessos na sala de montagem. O resultado é muito divertido, com Lewis no papel de um jovem do interior que aceita tomar conta dos bebês trigêmios de sua ex-namorada." (Thales de Menezes)
- 1995–19983h 45m8.5 (5.1K)TV EpisodeDirectorMartin ScorseseMichael Henry WilsonStarsMartin ScorseseAllison AndersKathryn BigelowMartin Scorsese describes his initial and growing obsession with films from the 1940s and 50s as the art form developed and grew with clips from classics and cult classics.''Viajar pelos cinemas americano e italiano com um grande cineasta como guia é um convite irrecusável. A caixa O Cinema por Scorsese reúne dois documentários em que o diretor apresenta aspectos decisivos da história dessas duas cinematografias com uma visão afetiva e didática. Em Uma Viagem Pessoal pelo Cinema Americano (1995), Scorsese expõe a gênese e o desenvolvimento de elementos estruturais do cinema americano, da emergência da forma do espetáculo, consolidada por D.W. Griffith na década de 1910, às liberdades narrativas e estilísticas da geração dos anos 1960 que anunciaram o esgotamento do modelo hollywoodiano até então predominante. Em vez de priorizar o gênio do sistema, Scorsese valoriza o papel dos diretores na invenção e na solução de problemas e distingue suas personalidades muitas vezes em diálogo ou embate com um modo de produção coercitivo. Por meio da noção de estilo, ele demonstra como foi possível adequar as mais diversas visões pessoais a um esquema industrial e como o cinema americano, em seus grandes momentos, soube solucionar a equação arte e comércio sem substituir um pelo outro. O documentário também se destaca por mapear o território dos filmes B e por evidenciar a influência de um autor tão contra a corrente como John Cassavetes. A intenção de "Minha Viagem à Itália" é chamar a atenção do público mais jovem para obras que redefiniram a linguagem cinematográfica e Scorsese reivindica a influência que sofreu delas para apresentá-las. O recorte segue fielmente o cânone, alinhando os incontornáveis Rossellini, De Sica, Visconti, Fellini e Antonioni. Mesmo não sendo uma seleção surpreendente, o documentário tem trechos indescritíveis quando Scorsese analisa com um misto de paixão cinéfila e inteligência formal as liberdades e inovações de Europa '51, Umberto D, Sedução da Carne, A Doce Vida ou O Eclipse." (Cassio Starling Carlos)
"Muitos dos quase 60 filmes dirigidos pelo premiado cineasta americano Martin Scorsese, 76, são inegáveis tributos ao cinema. Neste box, dois documentários produzidos pelo diretor dão a dimensão dessa paixão. O primeiro, ''Uma Viagem Pessoal Pelo Cinema Americano'', é a reunião de suas memórias e influências, notadamente de filmes policiais produzidos em Hollywood nas décadas de 1940 e 1950. No segundo documentário, "Minha Viagem Pela Itália", o foco está nos mestres do cinema da terra de seus pais. Entre outros. Scorsrsr apresenta e comenta filmes dos monstos sagrados Federico Fellini. Luchino Visconti, Roberto Rossellini e Vittorio De Sica. Uma aula de cinema." (Thales de Menezes) - DirectorChris WedgeStarsLucas TillJane LevyThomas LennonA young man working at a small town junkyard discovers and befriends a creature which feeds on oil being sought by a fracking company.''Uma companhia de perfuração para prospecção de petróleo afeta um ecossistema de criaturas grandes, semelhantes a polvos, que vivem no subsolo e se alimentam justamente do combustível. Um jovem funileiro chamado Tripp (Lucas Till) acidentalmente se envolve com um desses monstros, mas descobre que tudo que eles buscam é a sobrevivência. Essa é a trama de "Monster Trucks", de Chris Wedge, típico longa para a família que mantém um olho na bilheteria e outro na mensagem edificante, procurando, de quebra, inserir o fracassado protagonista num inusitado romance com uma garota tímida, Meredith (Jane Levy).Não é preciso ter muito tutano para sacar que a empresa petrolífera comandada por Reece Tenneson (Rob Lowe) é a grande vilã da história, e que toda a aventura vai servir para que o herói resolva uma série de pendências da vida. Assim que percebemos isso, ainda durante a primeira meia hora, passamos a torcer para que o decorrer da trama seja ao menos divertida, e levada com inteligência. E, de certo modo, o resultado não é tão ruim quanto se esperava. Mas é certo que muito do que acontece no filme nos faz ter saudade de coisas melosas como E.T., de Steven Spielberg. Wedge, diretor de animações de sucesso (A Era do Gelo, Robôs), revela um olhar atento para as nuances de cada atuação, facilitando a empatia do espectador com o casal de protagonistas. Só que mais uma vez a tendência a transformar qualquer filme em uma sucessão de cenas de ação cada vez mais mirabolantes (culminando numa longa e cansativa perseguição) soterra qualquer sutileza." (Sergio Alpendre)
- DirectorMike MillsStarsAnnette BeningElle FanningGreta GerwigThe story of a teenage boy, his mother, and two other women who help raise him among the love and freedom of Southern California of 1979.''Alguns dados biográficos do diretor Mike Mills fazem deste um filme muito esperado. O primeiro é que seu filme anterior, Beginners, contava uma história real e inusitada: seu pai, aos 75 anos, faz duas revelações -tem câncer terminal e um namorado bem mais jovem. O segundo: ele é marido da também diretora, escritora e artista Miranda July, de Eu, Você e Todos Nós. Por fim, "Mulheres do século 20" é baseado na história da mãe dele, que o criou em uma casa enorme e caindo aos pedaços na Califónia dos anos 1970, junto com pessoas que alugavam quartos. As tais mulheres do século 20 do filme são três, de idades bem diversas. Uma delas é sua mãe, Dorothea, interpretada por Annette Bening, uma mulher de 55 anos independente e curiosa em relação ao mundo. A segunda é Abbie (Greta Gerwig), 24, uma garota que aluga um dos quartos da casa e tem afinidade com a cena punk da época. Vai a shows e tem cabelo vermelho, mas é doce e delicada em casa. A terceira é Julie (Elle Fanning), 17, melhor amiga do protagonista, por quem ele é apaixonado. Esta sim uma rebelde: sabe que seu amigo a ama e pula sua janela para dormir com ele quase todas as noites, mas não deixa que nada aconteça entre os dois. O garoto do filme é o narrador, tem 15 anos e é um dos únicos homens da trama. O outro é William (Billy Crudup), outro hóspede do casarão, que ajuda Dorothea na manutenção da casa e transa de vez em quando com Abbie. A ambição do filme é ousada, como o título deixa claro. A história não vai ficar restrita às personagens, mas revelar um pouco da época e do lugar em que tudo se passa. Não chega a fazer isso, um pouco por causa do excesso de doçura com que o protagonista enxerga essas mulheres. Mas não deixa de ser uma delícia ver aquela casa, cheia de um espírito de liberdade e nenhum julgamento que vem todo de Dorothea. Ela fala o que pensa, pensa o que fala e mantém a família próxima com princípios como respeito, originalidade e coração aberto para o mundo. E nenhuma das regras que incomodam tanto na adolescência, como horário para voltar para casa, amizades vetadas, obrigação de ir à escola. Mas a verdade é que nada de grave acontece na trama, e a falta de conflitos na vida de um adolescente, assim como num longa-metragem, deixa tudo com uma certa sensação de vazio." (Tete Ribeiro)
89*2017 Oscar / 74*2017 Globo - DirectorTom McGrathStarsAlec BaldwinSteve BuscemiJimmy KimmelA suit-wearing, briefcase-carrying baby pairs up with his 7-year old brother to stop the dastardly plot of the CEO of Puppy Co.''De onde vêm os bebês? Uma das perguntas mais antigas do mundo é a nova aposta da Dreamworks para os cinemas. "O Poderoso Chefinho" é uma animação com uma resposta absurda para esse questionamento. No filme, dirigido por Tom McGrath (de Madagascar), os recém-nascidos vêm de uma fábrica gigantesca, onde são montados, testados e, depois de triados, enviados para suas respectivas famílias. Acontece que alguns pequerruchos nascem sem talento para serem bebês. Os reprovados recebem um segredo para nunca crescerem e viram então funcionários numa gigantesca firma. É de lá que vem Poderoso Chefinho, um bebê carreirista que é enviado para uma missão numa família terrena. Tim, um moleque feliz de sete anos, descobre que o novo membro da família é, na verdade, um espião de fraldas, com o intuito de obter informações sigilosas dos seus pais -além de roubar deles todo amor e atenção. O filme começa em alta, com personagens fofos e com alguma complexidade, antes da chegada do bebê, e fofos e cínicos, no pós-parto. Mas a tirada, que no primeiro impacto parece genial, cansa rápido. Tente olhar para fotos de bebês fantasiados de abelhinhas por mais de dez segundos. Agora tente fazer isso por uma hora e 37 minutos com um bebê que age como o Eike Batista. Do momento em que a ternura acaba para frente, o longuíssimo longa impõe ao espectador a sina do protagonista, que tira sonecas involuntárias em momentos tensos. O livro infantil que baseou o roteiro tem 36 páginas, com mais ilustrações do que texto, e é voltado para crianças de até quatro anos. Foi no estirão do papel para película e no salto de faixa etária, de crianças analfabetas a um público almejado que vai da idade de Tim até os 80 anos, que algo parece ter dado errado na gestação desse filme. Uma pena que a história não consiga acompanhar o ritmo da estética primorosa, como a da cena em 2D em que o pequeno Tim vira um ninja, como em filmes de ação dos anos 1970. Outra surra de animação se dá na sequência em que o vilão narra seus planos de conquista mundial usando um desses livros em três dimensões, que pulam na cara do leitor quando são abertos e têm penduricalhos que servem de brinquedo. É uma das coisas mais bonitas já saídas de um computador. Pena que um bebê lindo e chato só sirva para estampar um álbum de fotos de família." (Chico Felitti)
- DirectorEdouard BaerStarsEdouard BaerSabrina OuazaniAudrey TautouOne night to change everything. One night to save a theater, one night to change one's perspective about life. Luigi will push and pull Faeza with him everywhere around Paris an entire night to save his theater.''Vira e mexe algum realizador decide filmar o avesso da vida de artista, as agruras e impasses de quem é tratado como especial pelo público, que desconhece o lado pouco brilhoso dessa profissão. "Imprevistos de uma Noite em Paris" ecoa temas parecidos com os do brasileiro BR 716, ambas comédias melancólicas sobre os tropeços na realidade de sujeitos que sofrem febre criativa. O ator-roteirista-diretor francês Édouard Baer explora, assim como o brasileiro Domingos de Oliveira, um universo pessoal, coloca-se em cena de modo cru, desmistificando a aura do artista como alguém imune a dificuldades. Baer interpreta Luigi, empresário teatral às voltas com uma montagem que reúne um diretor japonês cheio de ideias indecifráveis, uma bela atriz sem talento e o veterano ator Michel Galabru no papel dele mesmo. Durante os ensaios, os técnicos entram em greve porque o pagamento dos salários está sempre em atraso, os cobradores batem à porta e, se não bastasse, o ator que interpreta um macaco sofre um acidente e inviabiliza a estreia. O prólogo expõe esse conjunto de complicações e também serve para mostrar as entranhas da criação artística, a incerteza financeira de sempre e o desajuste entre a fantasia que o público vê e o processo caótico da construção de um espetáculo. O segundo ato do filme se passa nas ruas, quando Luigi perambula a noite inteira na companhia de Faeza (a deliciosa Sabrina Ouazani). Ela acaba de se formar na seleta Sciences Po, mas o emprego que consegue é como atendente no bar do teatro à beira da falência, modo de dizer que o trabalho precário não se limita à vida de artista. Essa longa noite de loucuras inspirada em filmes como A Doce Vida, de Fellini, e Depois de Horas, de Scorsese, se passa numa Paris distinta da meca turística. A cidade que se vê é multiétnica, viva e misteriosa, um lado B da metrópole museificada que os viajantes visitam. Se a intenção de desocultar e de ironizar soa promissora, o efeito fica a meio caminho por causa da mania de onipresença de Baer. A popularidade do ator na França permite que ele acumule os papéis de guia e bufão e ainda suponha ser cineasta, mas para outros públicos seu narcisismo ocupa um espaço muito maior do que seu talento cômico." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorTod BrowningStarsWallace FordLeila HyamsOlga BaclanovaA circus' beautiful trapeze artist agrees to marry the leader of side-show performers, but his deformed friends discover she is only marrying him for his inheritance."No fim dos anos 1920, com o surgimento do cinema falado, Hollywood não tinha um código de ética entre produtores, só criado em 1934. Nesse período pré-código, filmes politicamente incorretos chegaram as telas. Entre eles, "Monstros" (1932), no qual o diretor Tod Browning escalou no elenco pessoas com reais deficiências físicas e metais. Irmãs siamesas, mulher barbada, gente sem pernas ou braços, um homem-tronco, enfim, um elenco para chocar. Com elas criou uma trupe de circo onde uma bela trapezista aceita se casar com um anão que herdará uma fortuna. "Monstros" passou anos sem ser exibido, mas hoje é um clássico. Nada agradável, mas um clássico." (Thales de Menezes)
- DirectorCarlos SauraStarsPedro AznarJuan FalúMarian Farías GómezPoetic, riveting and moving, Argentina explores the heart of traditional Argentine folklore and its stunning musical heritage.''A dança e a música popular sempre estiveram no radar do veteraníssimo Carlos Saura. Isso é demonstrado por seus filmes sobre o flamenco, como Bodas de Sangue, El Amor Brujo, Sevilanas e nos outros dois que abordam o gênero (de 1995 e 2010); em Tangos; Fados e Jota de Saura, ainda inédito por aqui. Desta vez, o diretor espanhol se interessa por gêneros musicais tradicionais do norte da Argentina, manifestações culturais que fora do país permanecem eclipsadas pelo tango. Saura foi sensibilizado por essa música ainda menino, quando sua mãe, pianista, tocava chacareras e zambas –não por acaso os gêneros mais presentes no filme. E soube se cercar de conhecedores, como o compositor e pianista Lito Vitale, que assina a direção musical. Recusando-se a narrar ou explicar, o filme é um percurso sensorial e pessoal formado por uma sucessão de números musicais – frequentemente coreografados – representativos de gêneros resultantes da combinação entre as múltiplas culturas indígenas originárias e as contribuições da colonização espanhola, da escravidão africana e da imigração europeia. Gêneros como zamba, vidala, chacarera, gato, carnavalito, malambo, copla e chamamé são interpretados por músicos do primeiro time, num cenário despojado delimitado por espelhos e telas iluminadas que destacam sombras que duplicam os movimentos dos bailarinos. Sóbrio e de grande apelo visual, esse arranjo evita o risco da monotonia e ressalta a força do material musical e a expressividade das coreografias dos irmãos Koki e Pajarín Saavedra, que reinventam danças tradicionais a partir do balé contemporâneo num gesto não isento de sensualidade. Nos melhores momentos, a câmera é ágil, desdobra pontos de vista e adota perspectivas pouco usuais, como quando enquadra de cima para baixo a coreografia do grupo Metabombo com seus tambores e sapateados. Outro momento de grande beleza plástica é o duo dos Saavedra com boleadeiras – artefato de cordas e pedras, usado para laçar gado –, que giram rapidamente batendo no chão em sincronia com os tambores. Essa magia só é rompida nos poucos números com músicos vestidos com trajes tradicionais, quando a maneira de filmar é monocórdia. Saura só faz referência a duas figuras da música tradicional argentina, não por acaso suas maiores referências, Atahualpa Yupanqui e Mercedes Sosa, em sequências que rompem com a proposta estética do filme e podem emocionar ou exasperar. Mas a solenidade do olhar e a altivez da dança e da música, cujas letras falam mais de angústia e sofrimento do que de amor, prevalecem." (Alexandre Agabiti Fernandez)
- DirectorStuart HazeldineStarsSam WorthingtonOctavia SpencerTim McGrawA grieving man receives a mysterious, personal invitation to meet with God at a place called "The Shack."''Os maus filmes podem ser subdivididos em três grupos: os ruins, os muito ruins e os péssimos. "A Cabana", que entrou em cartaz nesta quinta, cabe com perfeição na ultima categoria. Trata-se de um exemplar dessa safra, relativamente recente, de filmes religiosos, nos quais, ao contrário do cinema bíblico hollywoodiano clássico, ignora-se o poder persuasivo do espetáculo sobre as plateias. Os religiosos de hoje correspondem às produções ficcionais para os grupos reunidos sob o rótulo diversidade, seja ela sexual, étnica, de gênero ou, como aqui, de crenças. Em comum, são produções bem cuidadas, reúnem elencos respeitáveis, mas servem somente para espelhar identidades e confirmar certezas. Resumindo: são pregação para convertidos. O fiel vai encontrar no filme "A Cabana" motivos de sobra para acreditar ainda mais. Já os que questionam terão que pedir a Deus muita força para alcançar a luz ao fim da sessão. Sam Worthington "interpreta", sem outro recurso que não a voz sussurrante, o papel de Mack, homem ideal cujo único defeito é não se submeter por completo aos mandamentos religiosos. Essa desobediência se resolve quando Mack é posto à prova, como Jó. Ao perder o que mais ama, ele reage ao contrário, afastando-se da fé. Logo sua descrença será desafiada quando é posto diante de Deus em si, que ganha as formas roliças e o aspecto de mãezona de Octavia Spencer. Detalhe saboroso: Deus faz as melhores tortas de maçã deste mundo e do outro. Não basta? Ao lado desse Deus politicamente corretíssimo encontram-se dois assistentes, um árabe e uma asiática. O elenco ecumênico se completa com a súbita aparição de Alice Braga, encaixada para demonstrar que no mundo ideal o regime de cotas garante a representatividade de todos. Daí em diante, "A Cabana" converte-se em celebração mística, com direito a apoteose de espíritos de luz e a um número cafoníssimo de assim é o paraíso. Quando tudo parece estar resolvido e próximo do fim, a trama ainda dá algumas piruetas para ter certeza de que todo mundo absorveu direitinho a mensagem. O efeito é como o do discurso do fiel que não se contenta com sua fé, precisa convencer todo mundo de sua verdade. No final, nem é preciso ser ateu para só sentir náuseas." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorMargarethe von TrottaStarsKatja RiemannBarbara SukowaMatthias HabichBy pure coincidence, a photograph found on the internet by chance of a renowned American opera singer, Caterina Fabiani, throws the lives of Paul Kromberger and his daughter Sophie into complete chaos. Paul, well advanced in his years, appears to recognize the image as that of his deceased wife Evelyn, Sophie's mother. Unable to convince her controlling-and-stubborn-to-a-fault father otherwise, Sophie sets off for New York to seek out this mysterious stranger...''A cineasta alemã Margarethe von Trotta e a atriz Barbara Sukowa têm uma colaboração muito bem-sucedida em dramas protagonizados por figuras históricas como Rosa Luxemburgo e Hannah Arendt. Em "O Mundo Fora do Lugar", elas se arriscam em um drama contemporâneo, com resultados bem menos interessantes. Na trama, o viúvo Peter (Matthias Habich) se depara na internet com uma fotografia de Caterina (Sukowa), cantora de ópera fisicamente idêntica a sua mulher morta recentemente. Peter incentiva sua filha Sophie (Katja Riemann) a viajar da Alemanha aos Estados Unidos para conhecer Caterina e tentar elucidar esse mistério. A partir do embate entre a reservada Caterina e a insegura Sophie, segredos de família começam a vir à tona. Von Trotta trabalha esse material tentando se equilibrar entre o drama dos personagens no presente e o suspense criado com as descobertas sobre o passado (com pequenas doses de romance e humor). Mas ela não vai fundo em nenhum gênero. Há um tom monocórdio que aplaina o filme, de forma a igualar os momentos de peso dramático com os de total leveza. Como resultado, não se cria empatia com os personagens nem espanto com as revelações da trama. As tentativas de romantismo e comédia se mostram desajeitadas, e atrizes brilhantes como Sukowa e Riemann surgem estranhamente opacas em cena. A notória sobriedade de Von Trotta –que joga a favor de seus dramas históricos– acaba prejudicando "O Mundo Fora do Lugar". Antes de se tornar diretora, Von Trotta foi atriz do chamado "novo cinema alemão" e trabalhou com cineastas como Rainer Werner Fassbinder. Ela podia ter se inspirado nele. Fassbinder nunca se esquivava daquilo que é mais patético na experiência humana. Já Von Trotta parece ter esse prurido. Mas não é necessário ir ao passado para encontrar um filme alemão que ia mais fundo tanto no dramático quanto no cômico. Basta olhar para Toni Erdmann, de Maren Ade." (Ricardo Calil)
- DirectorDenise Di NoviStarsRosario DawsonKatherine HeiglGeoff StultsA woman sets out to make life a living hell for her ex-husband's new fiancée."Já à primeira vista, a história se mostra pouco inovadora. Mulher atormentada por lembranças de ex violento encontra um príncipe encantado e a chance de uma vida livre dos fantasmas do passado. O problema é que o tal príncipe não anda sozinho. Traz a tiracolo uma ex-mulher linda e louca, capaz das maiores atrocidades para acabar com a rival. Resumidamente, está aí a trama que tenta fazer de "Paixão Obsessiva" um suspense dramático. A receita, porém, desanda rápido. Até mesmo os mais distraídos conseguem antecipar os passos de um roteiro tão sutil quanto um elefante, impregnado por clichês e vícios do gênero. Em sua estreia como diretora, Denise Di Novi – produtora experiente – erra a mão nos ingredientes: economiza no suspense e banaliza o drama. O resultado final não fica devendo a nenhum novelão mexicano. Julia (Rosario Dawson) abdica da promissora carreira de editora, na esperança de apagar um passado marcado pelas agressões do antigo parceiro. Inevitável não se lembrar de Slim, garçonete interpretada por Jennifer. Lopez em Nunca Mais, também acuada por um marido violento. A grande diferença entre as duas é que, enquanto Slim continua tendo de fugir das perseguições do ex, Julia conhece David (Geoff Stults), um namorado exemplar que se torna seu porto seguro. Mas a sorte da jornalista vira pó quando a maquiavélica Tessa (Katherine Heigl) dá o ar da graça. Inconformada com o divórcio, a ex-mulher do sonso-bonitão não mede esforços para transformar a vida da adversária num verdadeiro inferno. E talvez esse seja o único ponto do filme capaz de causar algum tipo de surpresa no público – a atuação de Katherine Heigl. Habitué de comédias românticas e afins, a atriz se esforça para sair da zona de conforto e convencer na pele da psicopata. Aqueles acostumados a vê-la em papéis como o da encalhada Jane Nichols, de Vestida para Casar, ou de Alison Scott em Ligeiramente Grávidos deverão reconhecer tal empenho no olhar perturbado, nas expressões dissimuladas e no comportamento macabro de Tessa. Pena que, diante de um enredo absolutamente capenga, esse esforço é em vão. A partir da metade do longa, a coisa descamba para uma sucessão de reviravoltas espalhafatosas que subestimam a inteligência do espectador. Na contramão de seu título original (Unforgettable), "Paixão Obsessiva" é daqueles filmes fadados ao esquecimento tão logo os créditos se desenrolam na tela." (Mariana Galeano)
Em busca de um propósito.
"Sair da sessão e pensar em pelo menos um motivo para algo como Paixão Obsessiva ser produzido (que dirá visto): tarefa vã. Lá se vão 30 anos que um filme de intenções similares chegou às telas e revolucionou - de alguma forma - a forma conservadora na qual era ainda visto o papel da mulher na sociedade, servil e obediente em filmes de grande porte. Alex Forrest era uma executiva ativa e impositiva não apenas profissionalmente: ela teve Dan, um homem casado, e não aceitaria ser tratada como 'pulada de cerca'. Ainda que vilanizada, Alex era mais que um alerta do sinal dos tempos, ela era um holofote. Provavelmente hoje Atração Fatal está ultrapassado em ideia e em cinematografia, mas o hit de 87 nas bilheterias e nas premiações mandaria ao mundo um recado forte: a mulher tem o direito de lutar pelo que quer. E isso ficou, junto com a espetacular performance de Glenn Close. Todo o resto foi diluído por um sem número de longas onde mulheres brigavam com outras por homens, indo de A Mão que Balança o Berço até o relativamente recente Obsessiva, onde a estrela Beyoncé arriscava perder o marido para Ali Larter. Corte: 2017. O mundo ainda precisa assistir a duas mulheres brigando por um homem? Jura? Pior, uma mulher jovem, linda, rica, bem sucedida, invejada, arrastando corrente e perdendo a sanidade (que será adiante reduzida a pó numa daquelas revelações bem cretinas de roteiro), que é ao menos uma vez aconselhada por sua mãe a fazer o óbvio, viva sua vida, mas prefere lutar por um homem que não a ama há muitos anos. Bom, a mensagem que os ainda mais machistas anos 80 queria passar já foi assimilada (muito aos poucos, e não por todos), então o que restou para esse filme? Já sei: ser BEM ruim! Só que essa resposta não é a que o filme quer nos dar. Na ânsia de melhorar algo que só funcionaria (se funcionasse!) como sátira, ou chafurdando com os dois pés na ruindade e recheando o filme com diálogos nonsense e mexicanos nível A Usurpadora e situações estapafúrdias, a estreia da renomada produtora Denise Di Novi na direção decide apostar que tudo daria certo ao final, e um belo filme nasceria de uma premissa tão batida, antiquada, careta e rasa. O resultado não poderia ser mais óbvio: Paixão Obsessiva é um filme absolutamente dispensável, e isso é o que de mais carinhoso tenho para falar sobre ele. Perdemos a oportunidade de ver um filme muito brega, muito cafona e que poderia brincar com a eterna rivalidade entre mulheres bebendo em outras fontes e propondo discussões sobre o machismo enraizado ainda hoje na sociedade que destrói a própria sociedade (um beijo bem grande para você que é um gênio, sr. Verhoeven, que há 20 anos nos deu a obra-prima Showgirls, sobre isso tudo e muito mais), e ficamos com um filme que nasceu velho, pobre de narrativa e de condução, com a irrelevância impressa em cada fotograma. Servirá para quem procura passatempo ligeiro? Não deveria, já passamos do tempo que qualquer coisa que nos é empurrada goela abaixo desce sem reflexão ou análise. No elenco, Geoff Stults. Sim, vocês o conhecem tanto quanto eu, apesar de ter 17 anos de participações em series das mais variadas categorias. No papel da mocinha, Rosario Dawson. Ok. E como é a encarnação atual do que um dia representou Alex Forrest, Katherine Heigl. Convenhamos... Glenn Close. Katharine Heigl. Entenderam? É, não dá. Na falta de qualquer aspecto construtivo para embasar o texto sobre um filme tão despropositado e equivocado em mensagem e completamente inexistente enquanto cinema (meu Deus, o que Caleb Deschanel faz fotografando isso?), resta alertar leitores e amigos sobre os perigos de encarar todo e qualquer lançamento cinematográfico e embalar o escapismo num papel de pão, como se as emoções baratas não devessem ser respeitadas ou dignificadas. Vocês já foram ver Vida? Então... Enquanto escrevo esse texto lembro que Denise di Novi, lá atrás, produziu 4 petardos para Tim Burton, Edward Mãos de Tesoura, Batman Returns e os dois maiores Burtons, O Estranho Mundo de Jack e Ed Wood; após isso só caiu, e atualmente vem produzindo praticamente todas as adaptações de livros de Nicholas Sparks. Agora, estreia na direção desse longa triste e sem qualquer sabor, um filme que poderia ter sido exatamente o contrário, deliciosamente afetado e canalha. Conseguiu ser só desimportante. PS: a nota abaixo é para o último plano do filme, a prova de que tinha uma gênese cretina." (Francisco Carbone) - DirectorJohn LandisStarsDan AykroydJohn GoodmanWalter LevineElwood must reunite the old band, with a few new members, and go on another "Mission from God.""Claro que tentar uma sequência de Os Irmãos Cara de Pau duas décadas depois não iria repetir o impacto do original . Principalmente por não ter John Belushi, morto em 1982. Mas Dan AYkroyd de reuniu com o diretor John Landis para escrever um roteiro bem intencionado. Desta vez, Elwood Blues reúne parceiros antigos para vencer um concurso de bandas de blues e dar dinheiro do prêmio para um hospital. John Goldman não se sai bem substituindo Belushi, mas o filme ainda é boa diversão. Bastam algumas piadas boas e a participação de heróis da música como B B King, Junior Wells e Wilson Pickett" (Thales de Menezes)
- DirectorStephan StrekerStarsLina El ArabiSébastien HoubaniBabak KarimiZahira, 18, is close to her family until her parents ask her to follow Pakistani tradition to choose a husband. Torn between family customs and her western lifestyle, the young woman turns for help to her brother and confidant Amir.''Diante do panorama cinematográfico atual, dominado por desleixo formal, fragilidade estrutural e onipresença do tema, "A Garota Ocidental - Entre o Coração e a Tradição'', terceiro longa do diretor belga Stephan Streker, é um alento. Zahira Kazim (Lina El Arabi) é a segunda filha de uma família paquistanesa que vive em Luxemburgo. O irmão mais velho, Amir (Sébastien Houbani), é seu único aliado na tentativa de harmonização entre a vida ocidental e a tradição muçulmana. Prisioneira de um costume ancestral aos 18 anos de idade (época de descobertas e incertezas), ela precisa esconder uma gravidez, ao mesmo tempo em que se vê obrigada a escolher um noivo entre três jovens que lhe são apresentados. Habituada ao ocidente, onde conta com a amiga leal Aurore (Alice de Lencquesaing), Zahira fará de tudo para escapar dessa tradição que confina as mulheres em vidas infelizes, mesmo que para isso coloque a felicidade de sua própria família em risco. Não é um tema fácil de ser trabalhado. No cinema, já rendeu uma série de filmes cinematograficamente nulos, ou demagogos, assistencialistas, quando não oportunistas. É preciso mão firme para evitar os perigos da imposição pelo tema e ultrapassar os inúmeros obstáculos capazes de enfraquecer o conflito entre diferentes costumes. Stephan Streker, ex-crítico de cinema e ex-repórter esportivo, evita boa parte dos perigos e ultrapassa alguns obstáculos. Quando não é feliz, sabe contornar o problema com uma secura poucas vezes vista nesse tipo de filme. Um exemplo está logo no começo, quando Zahira sai do hospital após um aborto não concluído e encontra o irmão entretido por um videoclipe sensual. Streker abandona o desespero de Zahira para promover um contraponto banal: mostra o videoclipe em alto e bom som, ocupando toda a tela e nos tomando por instantes. Felizmente, momentos como esse empalidecem diante do rigor com que o diretor segue seus personagens. Estes, sempre na encruzilhada entre os caminhos do desejo e a redoma comportamental construída por costumes arcaicos." (Sergio Alpendre)
- DirectorRachid DjaidaniStarsGérard DepardieuSadekLouise GrinbergFar'Hook is a twenty-year-old rapper. Following a settling of scores, he's obliged to leave Paris and lay low for awhile. His producer, Bilal, suggests that Far'Hook take his place accompanying his father Serge on a tour of all of the ports of France, following the path taken by the painter Joseph Vernet. Despite the shock between generations and different cultures an improbable friendship develops between the promising rapper and this builder from the North of France, during an adventure that will lead them to Marseille for a final concert, one of reconciliation."Tour de France" começa com créditos de produção nos quais se lê que o filme foi feito com recursos, entre outros, do Fonds Images de la Diversité, responsável pelo fomento de produções que "representem o conjunto de populações oriundas da imigração e das colônias que compõem a sociedade francesa. O esclarecimento é importante para se considerar o alcance da proposta desse segundo longa de ficção de Rachid Djaïdani. Trata-se de dar visibilidade a minorias e levar a outros públicos problemas sociais urgentes como racismo, terrorismo e exclusão. Como em grande parte do cinema contemporâneo, a mensagem aqui ocupa o primeiro plano. O roteiro, também assinado por Djaïdani, busca integrar essa prioridade à trama, que combina elementos de filme de dupla e de road movie. O primeiro gênero aparece na reunião de dois tipos divergentes, representados por Far'Hook, jovem árabe interpretado pelo rapper Sadek, e por Serge, francês tradicionalista ao qual Gérard Depardieu se encarrega de dar autenticidade. A viagem, por sua vez, serve como motivo integrador, uma situação na qual o imigrante descobre a França profunda, na história e na geografia, e o francês nativo compreende que seu país não é um quadro eternizado num museu. No caminho, ambos têm de lidar com a alteridade e, em particular, com a ignorância mútua acerca dos valores próprios. O tema duplo da tradição e das forças em movimento também é evocado no título, que reproduz o nome da mais cultuada disputa de ciclismo, esporte favorito do país. A escrita habilidosa de Djaïdani se revela em diálogos que expõem as limitações do mundo de cada um, forçados a se abrir na convivência forçada. Nessa etapa de descobertas, o filme consegue dar concretude a seus personagens, libertando-os dos estereótipos e conduzindo-os a compreender o porquê de suas diferenças. Essa vantagem, contudo, perde força na parte final, quando a solução sugerida é a de comunidade sem conflitos, baseada na aceitação plena das diferenças. Quando prefere largar mão da fábula, "Tour de France" desiste também de ser um filme para ser somente uma peça de propaganda." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorTerrence MalickStarsRyan GoslingRooney MaraMichael FassbenderTwo intersecting love triangles. Obsession and betrayal set against the music scene in Austin, Texas."De Canção em Canção" não é convencional. Seu diretor e roteirista também não é. Terrence Malick, 73, não permite que o espectador fique indiferente a seu cinema. Faz filmes que são amados ou odiados na mesma intensidade. Desta vez, amar seu oitavo longa-metragem está fácil. É o filme mais inebriante da temporada. O segredo para esse encantamento é abandonar a busca por um roteiro de trama encadeada, por cenas que se destaquem das outras, pelo clímax, pelo final redentor. "De Canção em Canção", ambientado na efervescência da cena roqueira de Austin, é mais uma colagem do que que um enredo. O roteiro dispara diálogos soltos, cabendo a quem vê o filme a tarefa de ordená-los. É um fluxo de ideias de Malick sobre a vida em frases pontuais. "Há um coração errado dentro de mim. Queria ter todas as minhas cicatrizes de volta. Eu não sei dizer a verdade. O mundo quer ser enganado. Parecem versos de canções. São quatro personagens, dois homens e duas mulheres, que têm suas vidas interligadas por paixões e traições. Seu dia a dia se desenrola em cenas curtas, muito curtas mesmo. Malick filma, na maior parte do tempo, os atores em momentos fofos, flagrantes de namoro de gente bonita em cenários bonitos. Michael Fassbender é Cook, produtor musical de sucesso. Ryan Gosling é BV, músico em busca de uma carreira. Natalie Portman é Rhonda, garçonete que se apaixona por Cook. Mas o protagonismo recai em Rooney Mara, como Faye, que trabalha para Cook e namora BV. Não é suficiente a beleza natural do elenco. Malick faz questão de filmá-los da maneira mais sedutora possível. Sem uma cena de nudez, o filme vem carregado de eletricidade sexual. A erotização é bela e quase perversa. Rooney Mara tem um caso de amor com a lente da câmera. As questões existenciais, que estão presentes e são devastadoras, não explodem. São ruminadas por cada um, com o recurso de transformar os personagens também em narradores em off. As cenas vão se complementando, com algumas idas e vindas que quebram a ordem cronológica, até o espectador perceber que ela não é necessária. Malick começou com dois filmes belíssimos, Terra de Ninguém e Cinzas no Paraíso. Depois de 20 anos afastado, voltou com o elogiado drama de guerra Além da Linha Vermelha. Os pretensiosos O Novo Mundo e Árvore da Vida renderam a ele o rótulo de chato. Os recentes Amor Pleno e O Cavaleiro de Copas foram fracassos. Talvez para tornar mais palatável seu novo filme, escolheu atores bonitões, recheou o elenco secundário de nomes conhecidos (Holly Hunter, Val Kilmer, Cate Blanchett) e inseriu vários roqueiros em pontas, mostrados em shows e bastidores. A lista tem, entre tantos, Red Hot Chili Peppers, Iggy Pop, John Lydon, Lykke Li e Florence Welch. A veterana Patti Smith tem uma participação maior, em várias cenas, como amiga e conselheira da personagem de Rooney Mara. Certamente alguns vão classificar o filme como verborrágico e... chato. Será um equívoco. "De Canção em Canção" é daquelas obras arrebatadoras. Não só por seu elenco sedutor, mas por ser instigante e incomum. Chato é quem não gostar." (Thales de Menezes)
- DirectorDominique AbelFiona GordonStarsEmmanuelle RivaPierre RichardEmmy Boissard PaumelleFiona visits Paris for the first time to assist her myopic Aunt Martha. Catastrophes ensue, mainly involving Dom, a homeless man who has yet to have an emotion or thought he was afraid of expressing.''O escracho e o grotesco ganharam tanto espaço nas comédias contemporâneas que acabamos esquecendo como sorrir pode ser mais divertido do que gargalhar. "Perdidos em Paris", novo trabalho da dupla Dominique Abel e Fiona Gordon (de Rumba), retoma um tipo de humor suave, baseado num modo irônico de representar as pessoas e as coisas. Esse retorno à essência da graça visa recuperar o duplo sentido da palavra, o gracioso e o engraçado. O trajeto leva também ao burlesco, tipo de humor feito de desajuste e desencaixe, no qual as ações desencadeiam a desordem progressiva e tornam risível nossa fragilidade. Tudo começa quando a canadense Fiona (Gordon) recebe devolvida uma carta que enviara a Martha, tia querida que se mudou para Paris há muitos anos. Preocupada, ela embarca para a França levada pelo impulso de repor a ordem. O motivo da busca logo desencadeia uma série de situações baseadas em desencontros e confusões. E os imprevistos só aumentam quando o acaso reúne a viajante e Dom (Abel), morador de rua adepto da vida no improviso. As peripécias da dupla exploram as possibilidades físicas do burlesco, valorizadas com seus corpos magricelas e com gestos coreografados que alimentam muitas confusões. Nessa tradição de fazer bagunça com elegância, eles evocam antepassados como Max Linder, Jacques Tati e Pierre Étaix, praticantes de um humor equilibrista, mais irônico que anárquico. Além da habilidade de complementar a mecânica com a dinâmica e de nos levar a uma Paris sugerida, alheia ao consumo turístico, Gordon e Abel também conquistam ao incorporar outros sentimentos, como a melancolia, ao humor. Esse conjunto de qualidades ainda ganha um bônus com uma das últimas aparições de Emmanuelle Riva, mito do cinema francês que morreu em janeiro deste ano. Martha é um daqueles presentes extraviados que o cinema nos entrega, um papel em que a força do olhar e da voz de Riva, impregnados em personagens trágicos, ganha outro sentido. Pimpante e lunática, a atriz envia sinais de sua alegria de viver nesse outro mundo no qual ela nunca morrerá." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorAng LeeStarsJoe AlwynGarrett HedlundArturo Castro19-year-old Billy Lynn is brought home for a victory tour after a harrowing Iraq battle. Through flashbacks, the film shows what really happened to his squad - contrasting the realities of war with America's perceptions.***
''Ang Lee é um diretor que às vezes acerta (As Aventuras de Pi) e às vezes erra (Hulk). Mas é difícil ficar indiferente diante de seus filmes. Mesmo quando pega um projeto mais modesto, como este Billy Lynn, ele nunca entrega uma obra que se esgota na primeira leitura, há mais coisa a ser resolvida nas tramas. Aqui seu foco é um soldado americano de 19 anos servindo no Iraque. Depois de sobreviverem a um tiroteio, ele e seus colegas ganham um retorno aos Estados Unidos, para homenagens no intervalo de um jogo após a cerimônia, são enviados de volta ao combate. Lee propõe uma discussão original sobre a percepção da guerra pelo novo americano. E emociona." (Thales de Menezes) - DirectorAlberto LattuadaStarsMarcello MastroianniNastassja KinskiFrancisco RabalStuck in a dysfunctional marriage, a middle-aged architect has a chance encounter with an alluring student and they start an affair. He wants to be loved; she needs a meaningful relationship. However--could he be her missing father?*****
"O ano era 1978, e o filme ficou famoso pela cena em que Marcello Mastroianni dá uma mordida na bunda de Nastassja Kinski. Então com 17 anos e apenas dois filmes no curriculum - Movimento em Falso, de Win Wenders, e um terror de segunda classe, Uma Filha para o Diabo - , ela foi um dos assuntos daquele ano. No filme, Mastroianni é Giulio, arquiteto infeliz no casamento que conhece uma jovem exuberante. Francesca, e se apaixona. Trair a mulher não é problema, mas, como um verdadeiro novelão, Giulio descobre que há chance de a garota ser sua filha. Há uma boa tensão no filme, que reúne símbolos sexuais de gerações diferentes." (Thales De Menezes) - DirectorClay TweelStarsSteve GleasonMike GleasonScott FujitaAfter he is diagnosed with ALS, former professional football player Steve Gleason begins making a video diary for his unborn son, as he, his wife, and their friends and family work to raise money for ALS patients as his disease progresses."Poderia ser um documentário edificante, cheio de boas intenções, mostrando o sofrimento do ex-jogador de futebol americano Steve Gleason devido aos efeitos degenerativos da esclerose lateral amiotrófica (ELA). Mas "A Luta de Steve" é muito mais. Um filme emocionante, envolvente, capaz de fazer qualquer ogro derramar lágrimas no cinema. Boa-praça e jogador de sucesso, Gleason tinha 34 anos quando foi diagnosticado com a doença, em 2011. Sua mulher, Michel Rae, estava grávida. Os médicos deram a Gleason expectativa de vida de dois a cinco anos. Ele decidiu, então, começar um diário em vídeo para deixar ao filho, nascido no fim daquele ano. Além dos arquivos de mensagens ao garoto, o cineasta Clay Tweel passou a documentar o dia a dia da família - "A Luta de Steve" é uma mistura desses registros. A fama de Gleason era grande. Atuando pelo New Orleans Saints, ele fez a jogada que garantiu a vitória na partida que reabriu o estádio da cidade, em 2006, fechado por meses depois do furacão Katrina. Essa vitória do Saints sobre o Atlanta Falcons transformou-se em símbolo do reerguimento da moral de Nova Orleans após a tragédia. Uma estátua de Gleason foi erguida no estádio. Baseado em sua popularidade, ele criou uma fundação para ajudar pacientes com ELA e convencer o governo a dar mais apoio aos portadores da doença. Sua cruzada pública é contemplada no filme, mas é dentro de casa que "A Luta de Steve" se mostra arrebatador. A doença vai deixando Gleason cada vez mais debilitado, mas não afeta o cérebro do paciente, o tempo todo consciente da progressão inevitável das dificuldades. É possível acompanhar seu calvário pessoal. Obstinado nas campanhas, e perdendo gradativamente os movimentos e a fala, ele demora a perceber o esforço insano de Michel, com todas as atribulações comuns de criar um bebê e obrigada a cuidar cada vez mais do marido. Seu lar começa a ruir. Há, entre tantas cenas comoventes, duas que desmontam qualquer espectador: a frustrada ida a um pastor milagreiro, ao qual Gleason é levado pelo pai crédulo, e os procedimentos dolorosos aos quais ele se submete quando perde a vontade espontânea de defecar. É de uma crueza devastadora. "A Luta de Steve" faz o espectador sair destroçado do cinema. Mas, passado o impacto, vem a percepção de ter visto um documentário espetacular. Desde que foi lançado, em 2016, o filme já arrebatou mais de 30 prêmios pelo mundo. E Gleason segue vivo, sem aparições públicas recentes." (Thales de Menezes)
- DirectorNoémie SaglioStarsJuliette BinocheCamille CottinLambert WilsonA mother and daughter with opposing points of view both become pregnant at the same time."Será que Juliette Binoche respirou fundo e olhou para seu Oscar e seu César na prateleira antes de dizer sim para fazer uma comédia popularesca? Ou pensou em sua personagem em "Tal Mãe, Tal Filha" como uma ousadia que mostraria seu desprendimento do ego? O espectador da comédia francesa nunca saberá. Mas deve sair do cinema se perguntando por que diabos ela topou entrar nessa empreitada. No filme, Binoche é Mado, uma cinquentona desempregada, enxuta, que usa uma jaqueta de couro como uniforme e mora de favor com a filha caxias, Avril (Camille Cottin) –uma mulher ansiosa que tenta subir na carreira de perfumista enquanto banca a vida do marido, o clássico acadêmico pateta. A vida das duas segue na mais perfeita desarmonia até que a filha descobre estar grávida, e a mãe passa a não ter mais lugar na casa do casal. Meses depois, é a vez da futura vovó descobrir que em breve será mamãe. Instaura-se o caos enquanto a sociedade (e a própria família disfuncional) reage à gravidez serial. Parece que o roteiro foi escrito por um moleque da quinta série B –há mais piadas fálicas por segundo do que num episódio de "A Praça É Nossa", ainda que uma dúzia delas arranquem risos. De resto, é como material de Sessão da Tarde. É preciso se lembrar o tempo todo de que essa é a mesma atriz que fez "O Paciente Inglês" e, mais recentemente, "Acima das Nuvens", de Olivier Assayas. La Binoche não está péssima, bem como o filme não é um desastre completo, mas usá-la num roteiro bobo desses é matar mosquito com bala de canhão." (Chico Fellitti)
- DirectorMartin ProvostStarsCatherine DeneuveCatherine FrotOlivier GourmetClaire is a wonderfully gifted midwife, with a natural talent to deliver babies with the most gentle touch. One day she receives a strange phone call. Béatrice, the extravagant mistress of her deceased father, wants to see her again.''O universo feminino é tema de predileção do diretor francês Martin Provost, que escreveu o roteiro de "O Reencontro" para duas sólidas atrizes, a veterana Catherine Deneuve e Catherine Frot, infelizmente pouco conhecida no Brasil. Elas interpretam personagens radicalmente opostas. Deneuve é a decadente –mas ainda charmosa– Béatrice, uma aventureira frívola, alcoólatra e viciada em jogo. Frot é Claire, uma parteira abnegada que vive um tanto isolada e criou o filho sozinha. Seu único passatempo é cultivar legumes num terreno entre o rio Sena e um viaduto. No momento em que a existência regrada de Claire é abalada pelo fechamento da maternidade onde trabalhava há anos, Béatrice ressurge bruscamente. Mulher do pai de Claire, ela o abandonou de maneira repentina há mais de 30 anos, levando-o ao suicídio. Sofrendo de uma grave doença, com dificuldades financeiras, Béatrice se reaproxima de Claire em busca de ajuda e redenção e, logicamente, acaba trazendo à tona velhas mágoas e fantasmas, evocados com engenho por Provost sem o batido recurso aos flashbacks. Da rejeição à aceitação e daí ao amor - esse é o trajeto de Claire. A reaproximação com Béatrice provoca outra mudança na parteira, que se reencontra com sua feminilidade e com o desejo ao lado de Paul (Olivier Gourmet), um caminhoneiro. Provost vai fundo na oposição entre ambas, combustível para os embates quase constantes, que não cessam nem quando Claire passa a cuidar de Béatrice, que não pretende renunciar aos excessos mesmo com a morte à espreita. Tudo repousa em dualidades do tipo vida/morte, dar/receber, virtude/vício, introversão/extroversão, que soam por vezes mecânicas, demasiado calculadas. Esse maniqueísmo onipresente evacua parte do mistério, dá previsibilidade aos personagens e às situações –que felizmente não caem no sentimentalismo. Mas a história se aproxima da fábula que ilustra preceitos morais e perde força. O melhor do filme é o trio principal. Deneuve encarna com a desenvoltura de sempre seu enésimo personagem de burguesona glamorosa, enquanto Frot –mais habituada a personagens cômicos– se sai muito bem num papel mais dramático. Gourmet dá o tom justo a seu personagem, caracterizado sem clichês, que entra timidamente na história e conquista seu lugar ao lado das duas." (Alexandre Agabiti Fernandez)
- DirectorRebecca ZlotowskiStarsNatalie PortmanLily-Rose DeppEmmanuel Salinger"Planetarium" follows the journey of sisters who are believed to possess the supernatural ability to connect with ghosts. They cross paths with a visionary French producer while performing in Paris.''Na Paris do final dos anos 1930, as jovens médiuns americanas Laura (Natalie Portman) e Kate Barlow (Lily-Rose Depp, filha de Johnny Depp e da cantora Vanessa Paradis) despertam o interesse do veterano produtor André Korben (Emmanuel Salinger). Impressionado com a capacidade das duas de falar com os mortos, ele as convida para morar em sua casa, com o plano de transformá-las em estrelas de cinema e registrar em película uma autêntica comunicação com espíritos. Esses três seres, antes solitários, acabam formando uma espécie de família disfuncional, mas o avanço do nazismo na Europa vai mudar o destino do pequeno grupo. Na ambiciosa história de "Além da Ilusão", há, portanto, três temas potentes (além de outros acessórios): mediunidade, cinema e nazismo. Se a diretora francesa Rebecca Zlotowski (Grand Central) conseguisse uni-los em uma trama coesa, este seria um grande filme. Mas "Além da Ilusão" fica na superfície de todos os seus assuntos e nunca encontra o foco. Ao longo do filme, Zlotowski coloca uma série de questões interessantes: qual o segredo sobre o passado do produtor? Seu interesse nas médiuns é financeiro ou afetivo? Há uma relação entre a mágica do cinema e a da mediunidade? A diretora prefere não oferecer respostas óbvias para nenhuma dessas perguntas, preservando o mistério dos personagens e convidando o público a tirar suas conclusões. A estratégia ajuda a criar momentos isolados de beleza cinematográfica, em uma produção visualmente requintada, mas não é suficiente para dar liga ao dispersivo conjunto. A razão para isso certamente não é negar respostas, mas formular mal suas demasiadas perguntas. É uma pena, porque "Além da Ilusão" desperdiça um grande desempenho dos protagonistas. E não se trata de Portman, que parece fazer o filme no piloto automático, mas sim de Salinger, que lembra o alemão Klaus Kinski em sua figura enigmática e melancólica." (Ricardo Calil)
2017 César - DirectorMaria SchraderStarsBarbara SukowaTómas LemarquisAenne SchwarzBefore Dawn charts the years of exile in the life of famous Jewish Austrian writer Stefan Zweig, his inner struggle for the "right attitude" toward the events in war torn Europe, and his search for a new home.''No tempo anômalo em que vivemos, em que preferimos o reality às realidades, chama a atenção o modo como os filmes vêm retratando personalidades históricas, libertando a cinebiografia das fórmulas antiquadas e oferecendo novos ângulos sobre homens e mulheres ilustres. Logo depois de Neruda e Jackie, ambos de Pablo Larraín, "Stefan Zweig - Adeus, Europa" é também uma cinebiografia distorcida, um exemplo que os adeptos de fidelidades consideram insuficiente. O longa, terceiro trabalho na direção da atriz alemã Maria Schrader, narra a tragédia pessoal do escritor austríaco que fugiu do nazismo e acabou se suicidando ao lado da mulher no exílio, em Petrópolis, em 1942. Schrader se inspira na reputada biografia Morte no Paraíso, do jornalista Alberto Dines, mas adota soluções narrativas distintas, que iluminam de outro modo a personalidade e as circunstâncias do exílio de Zweig. O longa emula a estrutura de um romance, dividindo-se em prólogo, quatro capítulos e epílogo. Esse método simplificado de parecer literatura ganha ao proporcionar um relato descontínuo, falhado, distante, portanto, da ilusão biográfica totalizante. Como a produção não pôs os pés no Brasil, pode-se criticar o filme por falhas de acabamento. Isso, no entanto, joga mais luz sobre a experiência do exílio como desconforto, inadequação. A engenhosa solução adotada no epílogo, sobre o suicídio de Stefan e Lotte, reafirma que um olhar oblíquo pode dar a ver mais do que aquele que mostra tudo e que não à toa denominamos obsceno." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorGabriele MuccinoStarsBrando PacittoMatilda Anna Ingrid LutzTaylor FreyA gay couple living in San Francisco takes in two strangers traveling from Italy to start a new life in America, discovering each other and forming the most unlikely of relationships along the way."Nos últimos 15 anos, o italiano Gabriele Muccino tem dirigido mais filmes nos EUA do que no seu país natal. Na Hollywood que o recebeu, lançou À Procura da Felicidade e Sete Vidas, ambos com Will Smith, e Pais e Filhas e com Russell Crowe. Talvez você tenha vaga recordação desses filmes ou nem se lembre deles. Não se preocupe: são produções açucaradas em excesso e, de fato, esquecíveis. Assim, "Sobre Viagens e Amores" se revela uma boa surpresa para quem acompanha uma carreira até então pautada pela mediocridade. Parece ter feito bem a Muccino o retorno, ainda que parcial, ao país de origem. Seu novo filme é uma conjunta produção de Itália e EUA. Aliás, a visão que a juventude europeia tem da cultura americana e vice-versa está entre os temas centrais do longa-metragem. Moradores de Roma, os jovens Marco (Brando Pacitto) e Maria (Matilda Lutz) se detestam, embora mal se conheçam. A desorientação acompanha e perturba Marco, mas ao menos deixa-o aberto aos acasos. Maria, em contraponto, acumula convicções, em geral, conservadoras. Eles vão passar as férias em San Francisco e, por uma fatalidade, acabam se hospedando na mesma casa. Os anfitriões são um casal gay, formado por Matt (Taylor Frey) e Paul (Joseph Haro). Ao retratar os quatro jovens, o diretor segue a tradição dos filmes sobre férias de verão, cujo eixo é o rito de transformação em direção à vida adulta. Um clássico do gênero é Houve uma Vez um Verão, dirigido por Robert Mulligan. A graça de "Sobre Viagens... está em bagunçar os papéis sociais e sexuais assumidos por cada um deles. Logo se percebe que há mudanças em curso, mas não sabemos onde elas vão culminar. Esse encontro improvável em San Francisco se tornaria mais instigante não fosse o descompasso entre os dois atores italianos, bem preparados, e os dois americanos, às vezes insípidos. Além disso, como nos seus filmes rodados nos EUA, Muccino é excessivo no uso da trilha sonora e das imagens de cartão-postal. Como se vê, persiste o pendor do cineasta em adocicar as diversas camadas do filme, mas o roteiro bem construído acaba por prevalecer no resultado final. Muccino está longe do grande cinema italiano, mas "Sobre Viagens e Amores" mostra que ele tem mais talento do que seus filmes anteriores nos faziam acreditar." (Naief Haddad)
2016 Lion Veneza - DirectorSimon StoneStarsGeoffrey RushNicholas HopeSam NeillThe story follows a man who returns home to discover a long-buried family secret, and whose attempts to put things right threaten the lives of those he left home years before.''Sabe aquele tipo de filme que, se já estivesse disponível na Netflix, a gente daria uma olhada e desistiria antes da metade? "A Filha" é só mais um desses títulos genéricos que ajudam a engordar catálogo. Nada justifica sua exibição nos cinemas, que agora mal permitem a descoberta das estreias relevantes. Trata-se de uma produção australiana assinada por Simon Stone, 32, jovem ator em sua primeira experiência na direção de um longa. Sem medo de perigos, Stone propõe uma livre adaptação de O Pato Selvagem, de Henrik Ibsen, texto que havia encenado no teatro em 2011. O diretor em busca de originalidade faz, no entanto, duas escolhas para se destacar da reputação asfixiante de Ibsen: transpõe o contexto para uma pequena cidade australiana e atualiza a trama com uma breve referência ao desemprego global. Com isso, a proposta busca uma comunicação mais imediata com o público contemporâneo sem deixar de atrair os que se encantam pela nobreza da assinatura de um autor célebre. Essa tomada de distância, contudo, ameniza a ferocidade com que o dramaturgo norueguês representou os guardiões da moral, sua crítica da hipocrisia e sua representação da condição feminina num mundo de regras masculinas. Ao resumir o drama à trama, o filme não dá conta desse esvaziamento e se converte em um melodrama comum, ignorando a capacidade dos bons filmes desse gênero de expor as entranhas das relações e da sociedade. Em vez de serem confrontados com os valores que encarnam, os personagens de "A Filha" somente possuem dimensões psicológicas, que se manifestam na forma de desejo sexual, ressentimentos e ciúmes. Esse reducionismo obriga o filme a depender demais da competência desigual de seus atores. Assim como recorre a Ibsen para se autenticar, "A Filha" escala Geoffrey Rush e Sam Neill para os personagens de poder, mas os transforma em meros adereços. Paul Schneider, como o filho revoltado, e Ewen Leslie, no papel do amigo enganado, impõem empatia enquanto seus personagens são esboçados, assim como Miranda Otto e Odessa Young nos papéis femininos postos à prova pelo destino. Mas a sobrecarga emocional do desenlace é solucionada com interpretações constrangedoras, com cenas de desespero falsas até em novela. A responsabilidade pelo fracasso não é tanto do elenco, e sim do diretor, que acredita ser o que não é." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorIra SachsStarsGreg KinnearJennifer EhlePaulina GarcíaA new pair of best friends have their bond tested by their parents' battle over a dress shop lease.''O grosso dos filmes conta com diálogos a sua história. E há filmes raros, como "Melhores Amigos", em que o que conduz são os silêncios. A estreia americana se passa no Brooklyn nova-iorquino, e conta a história de uma iminência de amizade entre dois meninos de 13 anos. Jack é rico e tímido e Tony é pobre, portanto teve de aprender a ser safo. Podia ser um fiapo de história na mão das pessoas erradas. Mas o diretor Ira Sachs, em parceria com o roteirista brasileiro Mauricio Zacharias, com quem já havia trabalhado nos igualmente bons Deixe a Luz Acesa e O Amor É Estranho. Os dois esculpem os momentos sem fala. O silêncio diz muito, seja no momento em que os moleques se conhecem, e Tony ajuda a carregar as comidas que vão ser servidas no funeral do avô de Jack, numa festa a que os dois vão juntos ou nos momentos em que estão andando de patins pelas ruas do Brooklyn, alheios aos sofrimentos dos seus pais. Jack é filho de um ator meio falido que chora escondido quando seu pai morre e de uma psicanalista que claramente precisa de psicanálise. Tony é filho de uma chilena que fuma dentro de casa e deixa as crianças jogarem videogame, sem um lampejo de culpa, e de um pai enfermeiro sem fronteira que deve estar em algum lugar do mundo. Trava-se entre os dois um afeto instantâneo, mas no meio do caminho havia uma gentrificação. Os pais de Jake se tornaram os donos da loja de vestidos artesanais da mãe de Tony, e acreditam que o aluguel poderia ser mais alto. Eles sofrem em cima de planilhas enquanto tomam vinho branco. É tudo muito parado. É tudo muito dinâmico. Há momentos de rame-rame, em que a cara de contemplação dos jovens parece não servir a outro propósito que não dar um verniz de arte à cena. Mas são um ou outro. No mais, as atuações contidas, mesmo no clímax do drama, são uma aula. O título original, "Little Men", cai como uma luva (ou como um spoiler) na relação dos dois moleques, que se veem obrigados a serem pequenos homens quando os interesses dos seus sobrenomes entram no jogo. E adivinha quem ganha?" (Chico Felitti)
- DirectorAndré ØvredalStarsBrian CoxEmile HirschOphelia LovibondA father and son, both coroners, are pulled into a complex mystery while attempting to identify the cause of death of a young woman who was apparently harboring dark secrets."Em "A Autópsia", terceiro longa-metragem de André Øvredal, o cotidiano de Tommy (Brian Cox) e de seu filho Austin (Emile Hirsch) é o inverso do sonho habitual das pessoas. Como médicos legistas, eles passam dias e noites abrindo e examinando defuntos levados por policiais, numa espécie de bunker construído no subsolo da casa onde moram. Até mesmo Emma (Ophelia Lovibond), namorada de Austin, sabe que deve disputar os horários de seu amado com a dedicação que ele dá ao lúgubre trabalho e à assistência que presta ao pai com grande paixão. Numa determinada noite, o corpo de uma jovem mulher nua, aparentemente sem grandes ferimentos, chega a eles. O policial é taxativo: preciso da causa da morte até amanhã de manhã. O que implica em mais uma madrugada em vigília para os aventureiros do corpo humano. O que eles descobrem, contudo, é que o corpo dessa jovem esconde uma série de segredos e nada confirma que ela esteja mesmo morta. Isso obviamente deixa o trabalho deles muito mais complicado, envolvendo até uma certa pesquisa. Para a maioria das pessoas, um dos maiores terrores do mundo é ver uma autópsia. O diretor certamente apostou nesse tipo de medo para construir a atmosfera de seu longa. Desde o famoso quadro A Lição de Anatomia do Dr. Tulp, de Rembrandt, e do média-metragem The Act of Seeing With One's Own Eyes, de Stan Brakhage, um dos mais famosos filmes experimentais de todos os tempos, a autópsia ganha um tratamento artístico que visa deixar o espectador em permanente estado de desconforto. Como sabemos estar diante de um filme de horror, esperamos que coisas ainda mais sinistras irão acontecer. E acontecem. E é quando percebemos que o horror maior era a autópsia mesmo, como também o único quesito de originalidade do filme. Alguns acontecimentos da segunda metade são mesmo patéticos, quase anulando a atmosfera construída com certa habilidade na primeira. Os atores parecem entender o patético e resolvem aderir a ele em suas interpretações. Øvredal é funcional no trabalho com a câmera, ciente da necessidade de conduzir o espectador a um estado de grande tensão. Mas em algum momento se perde na condução de um roteiro pouco imaginativo -a não ser para quem considerar que a narrativa circular seja um grande atrativo." (Sergio Alpendre)
- DirectorRy Russo-YoungStarsZoey DeutchHalston SageCynthy WuFebruary 12 is just another day in Sam's charmed life, until it turns out to be her last. Stuck reliving her last day over and over, Sam untangles the mystery around her death and discovers everything she's losing.''Não existe amanhã para Samantha Kingston (Zoey Deutch). Em compensação, o hoje se repete exaustivamente, até a jovem de 17 anos entender o que precisa ser feito no último dia de sua vida. Baseado no best-seller homônimo de Lauren Oliver, "Antes que Eu Vá", em cartaz nos cinemas, respira os mesmos ares da badalada série 13 Reasons Why. Embora suicídio não seja o fio condutor do filme dirigido por Ry Russo-Young, o assunto também é trazido à tela, assim como toda a atmosfera colegial presente na produção da Netflix. Bullying, relações conflituosas, a iminência da primeira vez e o medo de não ser aceito são algumas das temáticas exploradas a partir do fim da história de Sam. Bonita e popular, a garota vive o sonho - estereotipado - de qualquer adolescente. Tem as amigas mais descoladas, namora o cara mais cobiçado da escola e goza de uma liberdade que lhe permite curtir o que bem entender. Mas, em um 12 de fevereiro nublado e cinzento, esse sonho acaba de forma abrupta: um acidente de carro anunciado pela combinação estrada sombria + noite chuvosa. Daí em diante, o filme entra em um looping temporal, ao estilo de Feitiço do Tempo, e Sam fica presa no mesmo dia, num castigo frustrante e tedioso. Enquanto ela não conseguir refletir sobre seus próprios atos e enxergar os outros a sua volta, o despertador irá tocar, impreterivelmente, às 6h30 de 12 de fevereiro. Quantas vezes forem necessárias. A ideia em si não é ruim. O problema é que o longa se rende a um sem-número de clichês que o impede de causar qualquer surpresa no espectador. Também sublinha os estereótipos de um jeito tão exagerado, que as chances de identificação se perdem no meio do caminho. A estranha Juliet (Elena Campouris) é um bom exemplo desse exagero. Alvo de bullying, a menina mais parece um fantasma que vaga nas entrelinhas da trama. Em contrapartida, a atuação sem afetação de Zoey Deutch dá credibilidade e um certo charme à protagonista. ''Antes que Eu Vá" se escora no óbvio. Uma mensagem de caráter quase didático, que, somada aos outros tropeços, transforma o produto final em apenas mais um filme bem intencionado sobre os dramas inerentes ao universo da adolescência." (Mariana Galeano)
- DirectorTony ZierraStarsLeon VitaliRyan O'NealBrian CapronA documentary about how English actor Leon Vitali came to work as an assistant to American filmmaker Stanley Kubrick for over 30 years.*****
''O baú de memórias sobre Stanley Kubrick parece longe de esgotado. Cannes Classics lançou na última sexta (19) a mais nova contribuição fílmica para o anedotário póstumo kubrickiano: "Filmworker" (operário do cinema), de Tony Zierra. O britânico Leon Vitali, 68, assume finalmente o protagonismo depois de ter passado um quarto de século sob a batuta de Kubrick. Vitali era um ator de televisão quando conseguiu um papel secundário, mas importante, como o Lord Bullingdon de Barry Lyndon. A química entre eles funcionou e Kubrick o chamou para assistente e produtor de elenco em seu filme seguinte, O Iluminado. Foi durante o processo de escolha dos atores que Vitali deixou sua impressão digital mais indelével no cinema de Kubrick. Ao testar duas irmãs gêmeas, lembrou da célebre foto de Diane Arbus e propôs ao diretor aproveitar a dupla. Nascia um dos ícones mais aterrorizadores do cinema contemporâneo. Intérpretes de filmes de Kubrick como Ryan O'Neal (Barry Lyndon) e Matthew Modine (Nascido para Matar) depõem no filme sobre a devoção de Vitali ao cineasta. Havia uma fidelidade extrema, atesta Modine. Magérrimo, eterna toca na cabeça, cabelos lisos até os ombros, Vitali parece um hippie renitente nas entrevistas para Zierra, assim como na plateia da sessão de estreia. Quando não cai em generalizações sobre como Kubrick deu o máximo e foi o maior, seu depoimento cresce em interesse. Tornado seu assistente pessoal, trabalhando 24 horas por dia, sete dias por semana, Vitali lembra como Kubrick foi ficando cada vez mais tenso com a extensão das filmagens de Nascido para Matar. Doze anos mais tarde, no final da longuíssima produção de De Olhos Bem Fechados, com Nicole Kidman e Tom Cruise, na qual Vitali fez uma ponta como o mestre de capa vermelha da sequência da orgia, o assistente o achou muito, muito cansado. Poucos dias depois de acabar de montá-lo, Kubrick morreu, em 7 de março de 1999. Na noite anterior, ele e Vitali conversaram por telefone por duas horas e meia. Desde então, Vitali tem aplicado o perfeccionismo obsessivo treinado com Kubrick no restauro de seus filmes." (Amir Labaki) - DirectorLisa OhlinStarsMikkel Boe FølsgaardCecilie LassenKaren-Lise MynsterDeployed on mission in Helmand, Afghanistan, 25-year old Thomas steps on a landmine and gets seriously injured. At the local rehabilitation center he meets Sofie, an ascending ballerina from the Royal Danish Ballet, who is helping a relative to regain strength after a long term sickness. Thomas desperately wants back in the field and gets impatient, as progress does not emerge as fast as he wants to. When Sofie offers to help him with a more intense rehabilitation plan, he accepts. Despite their differences, they develop a special bond and a mutual affection.''Thomas (Mikkel Boe Følsgaard) é um dos 750 soldados que o Exército dinamarquês tinha na província de Helmand, no sul do Afeganistão, em 2009. Durante uma missão, ele pisa sobre uma mina e tem as duas pernas decepadas. De volta à Dinamarca, Thomas começa outra guerra, consigo mesmo. Dirigido por Lisa Ohlin – sueca nascida em Nova York –, que também é coautora do roteiro, este drama se concentra no penoso processo de reabilitação do soldado. Apesar do enorme impacto psicológico provocado pelo trauma, Thomas só pensa em voltar para o Afeganistão e não esconde sua impaciência diante das dificuldades de adaptação às próteses, que prolongam o processo. Durão como manda o clichê do soldado, Thomas também se mostra irascível. Tem atritos constantes com a mãe e a namorada, que não sabem como lidar com a situação e perdem espaço na história. Quem ocupa o espaço é Sofie (Cecilie Lassen, ex-bailarina do Royal Danish Ballet, em sua estreia no cinema). Sofie é uma bailarina em ascensão dessa mesma companhia e frequenta o hospital onde está Thomas para visitar uma tia que tem câncer. Ela se oferece para ajudá-lo na reabilitação e os resultados começam a aparecer. A razão do sucesso logo fica clara: Sofie é a única que não tem pena de Thomas, chegando até a reagir com dureza às efusões de cólera dele. É a única pessoa que estabelece uma conexão com o soldado. Os dois são perfeitos opostos: mutilado, ele está condenado a uma nova consciência corporal; ela tem no corpo seu modo de expressão. O surgimento de Sofie traz consigo outro aspecto, extremamente previsível, o romance. Ao introduzi-lo na narrativa, Lisa Ohlin acaba fazendo a história de superação ganhar os contornos do sempiterno drama sentimental. A situação de Thomas oferecia outra opção a essa escolha convencional, muito mais rica, original e provocativa: refletir sobre o belicismo do Ocidente e a guerra do Afeganistão - que já dura 15 anos e parece não ter fim. Mas isso na certa tornaria o filme menos atraente para boa parcela do público." (Alexandre Agabiti Fernandez)